1- Afinal... o que é osteoporose?
A osteoporose é uma doença que ocorre em todo o esqueleto humano, conforme explica a Prof. Dra. Rosa Maria Pereira, que leciona na USP e preside o Comitê de Osteoporose e Doenças Osteometabólicas da Sociedade Brasileira de Reumatologia. “A osteoporose é caracterizada por uma fragilidade nos ossos e uma maior chance de aparecimento de fraturas”, explica. O ortopedista Márcio Passini de Souza, do Instituto de Ortopedia do Hospital de Clínicas da USP, complementa. “Os ossos são formados por células embrionárias, que aos poucos se transformam nas células constituintes do osso”. Com a idade ou a falta de estímulo muscular, as células formadoras perdem capacidade de fabricar tecido ósseo novo, mas a perda de tecido continua na mesma velocidade. “O pico da formação de massa óssea gira em torno dos 35 anos, após este período o corpo começa a perder mais do que fabricá-la”, esclarece. A doença pode muitas vezes passar despercebida porque o problema só dá sinais de sua existência quando já está em um grau avançado. “A diminuição de massa óssea pode acorrer a tal ponto que os ossos passam a fraturar-se espontaneamente nas atividades do dia a dia”, explica o fisioterapeuta Cláudio Corrêa, coordenador de Fisiofitness e Osteofit do Centro de Bem-Estar Levitas.
2- Só para velhinhos?
Engana-se quem acha que é somente com a idade que surge a osteoporose. A Dra. Rosa Maria Pereira lembra que o maior grupo de risco é realmente o de mulheres no período pós-menopausa, com histórico de vida sedentário; mas há muitas pessoas com chances de desenvolver este problema nos ossos. “Fumantes, indivíduos muito magros, pessoas que utilizaram corticoide, que são muito sedentárias ou consumiram muita bebida alcoólica, por exemplo. Aqueles com história de fratura na vida adulta, ou em parentes de primeiro grau, também devem se prevenir, pois podem fazer parte do grupo suscetível à doença”, elenca a especialista. Márcio Passini lembra que as etnias amarela (orientais) e branca também têm maior tendência de desenvolver osteoporose.
3- Desvendando o silêncio dos ossos
A osteoporose é conhecida como uma doença silenciosa. Pois ela quase não produz sintomas, explica Dra. Rosa. “Quando a doença já está mais evoluída, ela pode causar fraturas, que podem ocasionar dor, ou diminuição de altura”. Ela explica que outros sintomas são o aparecimento da corcunda, dificuldade respiratória e dor abdominal, mas estes surgem também com a osteoporose já avançada. Dr. Márcio Passini destaca que é preciso prestar atenção nos sinais externos ao nosso corpo. “Quando a pessoa, ou alguém na família, sofreu uma fratura por trauma de baixo impacto, ou quando se está perdendo estatura, deve-se pensar na possibilidade de osteoporose”, diz. Os ossos não vão gritar a palavra “osteoporose” por aí: é preciso estar atento!
4- O cálcio é nosso!
É o cálcio que ajuda a fortalecer os ossos, mas ele não faz isso sozinho. Todos os especialistas são enfáticos na importância da Vitamina D, que ajuda o organismo a absorver o mineral. “Depois de consumido o cálcio é filtrado no rim para, em seguida, ser absorvido pelo organismo através da Vitamina D”, conta Dr. Márcio. “O que acontece é que, quando uma pessoa tem pouca vitamina D ou pouca ingestão de cálcio, as células do sangue buscam o cálcio dos ossos para suprir a necessidade muscular, enfraquecendo os tecidos ósseos, afinal, há um músculo no nosso corpo essencial para a vida: o coração”. Dra. Rosa adverte que se deve consumir de 1000 a 1500mg de cálcio diariamente. “Os alimentos ricos em cálcio são o leite e seus derivados, verduras escuras e sardinha, enquanto que salmão e gema de ovo são ricos em vitamina D”, elenca. Mas Dr. Márcio ressalta que a absorção do cálcio é difícil na alimentação. “Um copo de leite tem 300mg de cálcio, mas somente 96mg são absorvidos pelo corpo, e as verduras escuras, quando cozidas, tornam o cálcio insolúvel e, portanto, não aproveitável”, afirma. Por isso, o especialista indica que suplementar com cálcio é importante para quem tem a doença ou faz parte do grupo de risco. O fisioterapeuta Cláudio Corrêa reforça que há alimentos que atrapalham a absorção do cálcio. “Devem ser evitados alimentos como café, chás escuros, bebidas alcoólicas e quantidade excessiva de fibras, pois estas diminuem o aproveitamento do cálcio”, afirma. Existem certos inibidores do cálcio, como o ácido oxálico, presente em vegetais como beterraba, semente de tomate e aspargo. “O ácido oxálico, que também é encontrado no cacau, no gérmen de trigo, nas nozes e no feijão, forma complexos com cálcio, impedindo sua absorção”, completa, somando a esta lista outros inimigos dos ossos. “Os refrigerantes do tipo cola possuem ácido fosfórico, que prejudica a formação óssea, e uma dieta muito rica em sal aumenta a excreção de cálcio pela urina”, diz.
5- É hora de suplementar!
Se é tão difícil absorver cálcio por meio dos alimentos comuns, a fragilidade dos ossos exige o consumo de suplementos vitamínicos, especialmente nos casos de pessoas com resistência à lactose, por exemplo, que não podem consumir a principal fonte de cálcio de uma dieta comum. Além da suplementação com cálcio, também é necessário consumir vitamina D. “As bulas dos suplementos de cálcio indicam a ingestão após as refeições”, recorda Dr. Márcio, mas o médico já está mais atualizado. “Na realidade, o ideal é tomar o suplemento 20 minutos antes das refeições para aproveitar a acidez gástrica, conforme orientam os melhores pesquisadores dos Estados Unidos”, complementa. Os suplementos contendo ferro atrapalham a absorção do cálcio. Ao contrário do que se imagina, a suplementação com cálcio ou vitamina D não é necessária para quem quer apenas prevenir a osteoporose: alimentação saudável e exercícios físicos são as melhores formas de evitar ossos fracos. “Sabe aquela história de que o prato deve ser colorido para ser saudável? Isso é pura verdade”, conclui.
6-Hora de mexer (e fortalecer) o esqueleto
Tanto no combate quanto na prevenção da osteoporose, é importante fortalecer os músculos e a estrutura óssea. Há uma relação de pressão e resposta entre os ossos e os músculos, conforme explica Dr. Márcio. “Existem células no osso que medem a pressão exercida sobre ele: quanto maior a pressão, mais elas estimulam a formação de novas células para a renovação do tecido ósseo, o que deixa ele mais resistente, por isso a musculação é uma das melhores formas de fortalecer os ossos, afinal o osso está sempre buscando ser mais resistente do que a tração muscular exige”, completa. “O osso é vivo, e é o seu uso que o fortalece”, conclui. “Os principais exercícios para combater a osteoporose são os de impacto, e de fortalecimento muscular”, afirma o fisioterapeuta Cláudio Corrêa. “Os exercícios de alongamento, coordenação e equilíbrio contribuem para a massa óssea”, afirma, e a Dra. Rosa completa esta informação, especialmente no que diz respeito aos idosos. “Os exercícios de equilíbrio ajudam a reduzir as quedas, o que diminui o risco de fraturas, e devem ser indicados principalmente em indivíduos mais idosos”, explica. Mas é importante se dar conta de que há exercícios que podem atrapalhar o tratamento da doença, como explica Cláudio. “Recomendamos evitar movimentos que façam flexão e torção da coluna”. Atividades físicas sem impacto, como natação, não melhoram a massa óssea, mas, segundo Dra. Rosa, também não prejudicam. Quem tem osteoporose pode até praticar atividades físicas mais intensas, caso ela esteja controlada. “Mas é preciso respeitar as limitações de cada indivíduo”, adverte o fisioterapeuta.
7-Ossos fortes: mão amiga
Se você pratica atividades físicas e musculação, com certeza já faz muito para evitar a osteoporose no futuro. Dra. Rosa alerta que o melhor período para começar a prevenção da doença é a infância, pois é nessa fase que passamos pelo período de maior desenvolvimento da massa óssea. “Desde o começo, a prevenção é possível com boa ingestão de cálcio, restrição ao excesso de sal, atividades físicas com exercícios de alto impacto ou musculação”. A médica alerta que os adolescentes sejam orientados quanto ao uso de álcool e cigarro, afinal é neste período que os hábitos se formam, e indica que as mulheres procurem atendimento médico no período da menopausa. “Como ocorre perda significativa da massa óssea durante a menopausa, relacionada às mudanças hormonais” completa. Para fazer um diagnóstico de osteoporose, é necessário realizar um exame chamado densitometria óssea. “É prudente fazer uma densitometria óssea aos 50 anos, e o resultado pode ser informado na hora”, afirma Dr. Márcio Passini. 8-Controle as rédeas A osteoporose não tem cura. O tratamento ideal é consumir cálcio e vitamina D na medida ideal, fazer exercícios e seguir as orientações médicas. “O controle da osteoporose traz possibilidade de recuperação quase total, mas o importante não é curar e sim dar resistência aos ossos para evitar a ocorrência de fraturas osteoporóticas, principalmente do colo do fêmur”, afirma Dr. Márcio Passini.
Fontes consultadas:
Claudio Corrêa: Fisioterapeuta e Coordenador de Fisiofitness e Osteofit do Centro de Bem-Estar Levitas.
Prof.Dr. Márcio Passini Gonçalves de Souza: Médico ortopedista do Instituto de Ortopedia do Hospital de Clínicas de São Paulo, do grupo de doenças Osteometabólicas do Instituto de Ortopedia do HC da FMUSP. Prof.
Dra. Rosa Maria Rodrigues Pereira: Professora de Reumatologia da USP, Presidente do Comitê de Osteoporose e Doenças Osteometabólicas da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Comentários