Ela já deixou seu nome gravado na história do esporte nacional como a primeira judoca brasileira a conquistar um ouro em Olimpíadas, chegou ao topo do ranking mundial do judô e isso tudo com apenas 22 anos de idade. Conheça mais sobre a pequena Sarah Menezes, um símbolo do sucesso do esporte dos quimonos e tatames no Brasil Quando o hino brasileiro tocou no Complexo Excel, em Londres, no primeiro dia de disputas Olímpicas, os esportistas nacionais sabiam que estava sendo escrito ali um capítulo único da história do esporte nacional. A música que aprendemos a entoar desde pequenos era a confirmação de que a judoca Sarah Menezes tinha vencido todas as etapas e se sagrado a detentora da maior condecoração Olímpica: a medalha de ouro. Antes dela, só a saltadora Maurren Maggi tinha obtido o mesmo êxito. A medalha da piauiense Sarah, uma pequenina de 1,54m e 48kg que compete na categoria ligeiro, é a primeira dourada que o judô conquistou nos últimos anos e sinaliza o potencial desse esporte em território nacional.
"Foi a minha conquista mais importante”, taxa. E olha que foram muitas, só para citar as mais importantes, ela é bicampeã mundial júnior, duas vezes terceira colocada no Mundial Sênior e 11 vezes campeã brasileira. Mas as conquistas recentes da piauiense não são exatamente uma surpresa para quem está envolvido no esporte. A garra e determinação que a jovem judoca mostrou na trajetória de lutas até chegar ao título Olímpico sempre fizeram parte de sua personalidade. Mesmo antes de despontar nos campeonatos infantis e começar a colecionar medalhas, ou de deixar para trás a vietnamita Ngoc Tu Van, a francesa Laetitia Payet, a chinesa Shugen Wu, a japonesa Tomoku Fukumi e a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim 2008, na sequência de lutas do título em Londres, Sarah já demonstrava que encararia qualquer desafio. Até mesmo o de contradizer sua família para treinar. Apesar de ainda apontar a falta de incentivo inicial de seus pais como uma das principais dificuldades enfrentadas na vitoriosa trajetória, Sarah não parou diante desse obstáculo, como não pararia em nenhum outro, fato que as mais de 50 medalhas que acumula comprovam muito bem. Ainda criança saia de casa escondida para treinar! “Sempre fiz esporte como futebol, basquete, handebol e capoeira”, lista a jovem atleta.
“Comecei no judô com nove anos, inspirada por meu amigo que já treinava na escola”. Dizem que para ser um atleta bem-sucedido não se deve escolher adversários, mas Sarah escolhia os seus. Preferia, na grande maioria das vezes, treinar com os meninos, encarando a dificuldade elevada como caminho certo para ser cada vez melhor. Atualmente, é a número um no ranking da Federação Internacional de Judô na categoria até 48 quilos. A liderança foi assumida logo depois dos Jogos Olímpicos. Mesmo sem competir entre os meses de agosto, a brasileira soma 1738 pontos, 188 a mais do que a japonesa Tomoko Fukumi, sua principal rival. Fome de título No judô, assim como na maioria das lutas, o peso é uma questão extremamente importante. Os atletas da Confederação Brasileira de Judô, que são acompanhados por nutricionistas, são pesados diariamente durante a preparação das temporadas mais importantes. Isso porque, se não estiver dentro do peso, o judoca não pode sequer competir.
A tolerância é de até 3% acima do peso máximo da categoria há 10 dias das competições e 5% antes disso. Sarah revela que bater os 48kg exigidos pela categoria não é um problema graças a seu metabolismo. “Eu tenho facilidade em ganhar e em perder peso!”. A grande preocupação dos profissionais ligados à nutrição da equipe na modalidade é a reposição rápida da energia gasta nos treinos e combates. Para equilibrar a equação entre o consumo de nutrientes e o gasto os suplementos são os mais indicados. Os atletas da seleção brasileira consomem suplementos para ampliar a ingestão de proteínas e carboidratos, como beta alanina, glutamina, creatina, maltodextrina, entre outros. Nos primeiros anos de carreira, Sarah não consumiu nenhum tipo de suplemento. Hoje sabe a importância deste recurso. “Só passei a usar suplementos há pouco tempo, orientada pela nutricionista da Confederação Brasileira de Judô”, diz. E foram exatamente a proteína e o carboidrato os escolhidos para ela. “Usei whey protein e carbo gel”, diz. “Eu uso whey à noite, na quantidade de uma colher de sopa para 200ml de água, com frutas”. Durante a folga, nada de dieta ou suplementos.
“No momento eu não estou fazendo nenhuma dieta e muito menos usando suplementação”, disse ela em nossa entrevista, realizada durante seu curto período de descanso. No tatame Além da alimentação, o empenho nos treinos também é outro fator para o sucesso de Sarah. Agora que não precisa mais sair escondida de casa para treinar, a morena dedica em média pelo menos quatro horas do seu dia ao esporte. Dentro desse tempo suas atividades são divididas em treinos físicos, focados na preparação do corpo da atleta para suportar o ritmo das lutas, e técnicos, que têm como função aperfeiçoar golpes como ippon seoi nage, no qual o atleta arremessa o adversário por cima do ombro, como a brasileira fez com a romena para vencer a última luta do título olímpico. Ao contrário do que acontece com muitos atletas de outras modalidades, a judoca não tem uma lista recheada de outras atividades para complementar o trabalho no tatame. “Divido meu dia entre o treino de judô e a parte de preparação física. Realizo um trabalho aeróbico somente dentro do tatame e não faço nenhum trabalho funcional”, explica. “Faço muito uso da musculação, único esporte que eu pratico fora do tatame para ajudar no judô”. Entre os exercícios que fazem parte de sua rotina de trabalho com os pesos, Sarah destaca aqueles que exigem força e resistência dos braços e antebraços como essenciais para o seu bom desempenho. “Como o levantamento olímpico, o arremesso de peso e o supino”, elenca. Pudera, no levantamento olímpico, por exemplo, a sequência de movimentos – levantar a barra de ferro com anilhas, suspendê-la e empurrá-la em uma altura acima da cabeça – permite que o atleta aperfeiçoe sua capacidade de carregar pesos cada vez maiores, habilidade muito útil para aprimorar as pegadas e arremessos do judô. Fora dessa rotina, Sarah também conta com o acompanhamento constante de um fisioterapeuta. “Tenho auxílio da fisioterapia para tratar ou evitar lesões”, explica. E mesmo em um cenário como o do esporte de alto rendimento e das artes marciais, onde as lesões são tão comuns, a pequena se conserva quase ilesa. “Eu nunca tive nenhuma lesão muito grave”, lembra. “A maior que tive foi uma luxação no dedo mínimo, mas não passei muito tempo sem treinar”, garante.
Ficar longe do quadrado emborrachado por muito tempo definitivamente não faz parte da vida de Sarah. Para se ter uma ideia, o intervalo entre a conquista da medalha de ouro em Londres e o retorno aos treinos foi de aproximadamente dois meses e o foco já era uma nova conquista: o título de campeã mundial sênior. “Em outubro retomei os treinos para participar do Mundial de Judô por Equipe, que aconteceu em Salvador (BA) no final do mês”. Quando entra no período de preparação próximo ao de uma competição, Sarah tem dois pontos em mente: mais forte e mais rápido. “Passo a realizar exercícios com mais potência e mais velocidade”, conta. E como não poderia deixar de ser, o foco para os próximos quatro anos serão, claro, os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Em uma de suas declarações sobre o que vem pela frente, Sarah se mostrou bastante otimista. “Eu acredito que o planejamento vai ser igual ao desse ciclo olímpico. A Confederação vai indicar as competições para os atletas participarem, com muito treinamento de campo, para aproveitarmos bem esses anos”, disse. “Acho que em 2016 nós vamos conseguir um resultado brilhante.
O Brasil todo vai estar torcendo pela gente”. Parafraseando um jargão muito utilizado no universo do futebol, será o coração verde-amarelo na ponta das faixas pretas! Fábrica de Campeões Mas não é só o ouro da piauiense que comprova o sucesso e a potencialidade desta arte marcial centenária em território verde amarelo. Em Londres, a bandeira brasileira foi hasteada para mais três atletas: Felipe Kitadai, Rafael Silva e Mayra Aguiar, que conquistaram o bronze em nas categorias ligeiro masculino, de até 60kg, peso pesado masculino, acima de 100kg, e meio-pesado feminino, de até 78kg. Os bons resultados configuram essa como a melhor campanha do judô nacional em Olimpíadas, que classificou pela primeira vez atletas para competir nas 14 categorias de peso do esporte e a tornou a modalidade com o maior número de medalhas olímpicas na história do esporte nacional, somando ao todo 19. O coordenador técnico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson, atribui os bons resultados ao talento dos atletas somado a um planejamento, que deve ser repetido na preparação para os próximos jogos. Como a maior parte dos judocas medalhistas são jovens – o que aumenta a possibilidade de integrarem a seleção de Rio 2016 – a meta da CBJ é transformar o Brasil, que hoje ocupa o sexto lugar no ranking de medalhas olímpicas no judô, em líder absoluto.
Perfil:
Sarah Gabrielle Cabral De Menezes
Data de nascimento: 26/03/90
Local: Teresina (PI)
Altura: 1,54m
Peso: 48kg
Modalidade: Judô
Categoria: Ligeiro (até 48kg)
Patrocinadores: Embratel, Faculdade Santo Agostinho, Newland, Sadia, Samsung.
On-line: www.facebook.com/SarahMenezes
Principais Títulos
2012:
- Campeã Olímpica
- Medalha de Prata no Campeonato Mundial de Judô
2010:
- Medalha de Bronze no Campeonato Mundial de Judô
- Bicampeã Mundial Junior
2009:
- Medalha de ouro na temporada nas Copas do Mundo de Madrid e Lisboa
- 4ª colocada no Grand Slam
- 5ª colocada no Mundial Sênior
- Atleta do Ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro
2008:
- Campeã Mundial Junior
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