A cada dia, a ciência encontra bases científicas comprovando que cuidar da saúde física é importantíssimo para a saúde cerebral. Desta forma, praticar exercício significa investir na saúde mental.
Sabidamente, o bem-estar envolve um conjunto de sensações como motivação, melhora na resistência física, aumento na auto-estima, valorização dos desafios conquistados, etc. Praticantes de atividade física buscam incessantemente benefícios ligados ao corpo, tal como, mudança na massa de gordura, aumento na definição muscular, melhora no desempenho cardiovascular, melhoras generalizadas nas condições orgânicas e neste contexto, acabam não percebendo que o exercício também é um importante fator estabilizador de funções cerebrais.
Esta surpreendente integração motora/neurofuncional tem sido descrita por neurocientistas ligados ao estudo da ciência do esporte, na qual foi constatada uma forte correlação entre a prática de exercício físico e o aumento na atividade de neurônios e conexões em uma área do cérebro denominada hipocampo bem como no núcleo accumbens, sistema de recompensa cerebral que atua como a área do prazer. É interessante ressaltar que o hipocampo, que reconhecidamente cumpre seu papel na formação das novas memórias, também é um centro de alarme gerador de ansiedade, no entanto, frente a prática constante de exercício físico novos neurônios são formados, os quais exercendo ação inibitória, atuam expressivamente no sentido de controlar o estresse e minimizar as respostas geradas por nosso corpo.
Neurocientistas têm descrito que o exercício físico ativa cascatas celulares e moleculares que estimulam a plasticidade cerebral, induzindo a expressão de genes associados à plasticidade, promovendo neurogênese, que nada mais é do que a formação de novos neurônios, e aumentando a vascularização e o metabolismo cerebral. Estas alterações funcionais e estruturais ocorrem em várias regiões do sistema nervoso central, mas tem sido bem descritas no hipocampo.
Apesar de não haver consenso, demonstra-se que o exercício físico melhora e protege as funções cerebrais, sugerindo que pessoas fisicamente ativas apresentam menor risco de serem acometidas por desordens mentais em relação às sedentárias. Dentre as grandes funções cerebrais, as funções cognitivas são múltiplas e integradas e envolvem fatores como a percepção, aprendizagem, memória, vigilância, raciocínio e, principalmente, a atenção.
Diversos cientistas sugerem fortes relações entre a participação em programas de exercícios físicos e os benefícios físico e psíquicos, havendo um melhor processamento cognitivo nos indivíduos fisicamente ativos. Assim, concomitante a prática de atividade física observa-se melhora nas ações bio-operacionais, tais como o tempo de reação, tempo de movimento e na velocidade de desempenho, fatos que convergem para a saúde do cérebro. Refletindo sobre as novas exigências morfofuncionais deflagradas pela atividade física, diversos cientistas verificaram aumento na quantidade de capilares sanguíneos no córtex motor facilitando o redimensionamento estrutural podendo reestruturar tecidos vasculares de várias regiões no cérebro do seu praticante, induzir a síntese de proteínas indispensáveis nos contatos entre células nervosas e a promoção de novos circuitos de memórias no córtex, cerebelo, hipocampo, etc. Novos caminhos Atrelado ao desempenho físico e consequente manutenção de saúde, a prática constante pode promover indiretamente a formação de novas redes neuronais em sistemas comprometidos contribuindo para a funcionalidade orgânica que incluem o bem-estar físico e mental.
Certamente os grandes ajustes nas vias neurais não necessitam de programas de treinamento altamente aprimorados, visto que, recentes estudos constataram que uma simples caminhada por meia hora e três vezes por semana promove melhorar em habilidades como aprendizado, concentração e raciocínio, fatores que contribuem para a diminuição da ansiedade, da depressão e das reações promovidas pelo estresse. Percebe-se que se houver estresse, o hipocampo, área responsável pelos processos de aprendizado e memória, torna-se extremamente vulnerável a presença dos hormônios secretados e apresenta lapsos funcionais, assim, um dos benefícios que se pode fazer ao próprio cérebro é exercitar-se.
Outro fator ligado à relação atividade física/desenvolvimento cerebral se refere à neurogênese, ou seja, o crescimento de novas células cerebrais. Neste conceito, apesar de ainda não haver consenso, acredita-se que o exercício físico é uma das formas mais expressivas de conseguir isso. Um ponto importante a ressaltar é que funções como capacidade de planejamento, concentração, resolução de problemas, aprendizado, memória e atenção são afetadas caso haja déficit na quantidade e qualidade de sono, assim, até um cochilar por um curto espaço de tempo auxilia para um melhor rendimento em tarefas que exijam alto grau de concentração, como no caso de esportes de alto rendimento. Durante o sono o cérebro processa novas memórias, fixa e desenvolve habilidades impares e o sono permite que o cérebro acesse memórias e estabeleça conexões capazes de construir soluções para vencer desafios. O estímulo promovido pela constância na atividade física exige uma variedade de aptidões mentais provavelmente devido à exigência de movimentos precisos, do treino da coordenação motora, do desenvolvimento da atenção necessária.
Quando a atividade física torna-se parte das nossas ações diárias, as memórias são criadas, pois os neurônios, em circuito, reforçam a sensibilidade de suas conexões, quer seja na memória de curto prazo, o efeito dura apenas de minutos a horas ou na memória de longo prazo, quando as sinapses tornam-se permanentemente fortalecidas. Associado a isto há aumento na circulação estimulando uma comunicação mais eficiente entre os neurônios. A atividade física aumenta ainda a produção e a liberação de neurotransmissores, substâncias que participam da regulação de multiplas funções como memória, aprendizagem, emoções, sede, sono, fome, bem-estar e estado de humor. Como resultado, há reequilíbrio orgânico, compensando déficits ou excessos, e refletindo na melhora do desempenho global.
É inegável que a prática de exercício físico é essencial para melhorar o grau de atenção e expandir as capacidades mentais mantendo uma vida saudável, um raciocínio ágil e boa memória. No transcorrer do tempo, redes neuronais podem ser reestruturadas ativando áreas do cérebro até então menos utilizadas ampliando nossas capacidades orgânicas. Agora entendo Drumnond quando fala que “a atenção é a base da pirâmide mental, se você melhorá-la, tornará outros processos mais eficientes".
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