1- O que é a Tireoide?
A tireoide é uma glândula endócrina do nosso corpo. As glândulas endócrinas têm o objetivo de produzir e secretar determinadas substâncias que vão direto para a corrente sanguínea, ao contrário das glândulas exócrinas, que eliminam secreções fora da corrente sanguínea, como as glândulas sudoríparas, responsáveis por eliminar o suor. No caso da tireoide, sua função é eliminar na corrente sanguínea alguns hormônios que regulam o metabolismo, ou seja, o funcionamento do corpo. Segundo Cristiano Barcellos, médico doutor em endocrinologia pela USP, o nome tireoide é formado de duas palavras gregas, thyreós, que significa escudo, e oidés, cujo significado é “em forma de”. O médico explica que a glândula, localizada bem abaixo do pomo de adão, tem formato de um escudo ou de uma borboleta. O médico José Augusto Sgarbi, diretor do departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica como as principais ações dos hormônios tireoidianos já demonstram a importância da glândula. “Entre as ações, destacam-se o desenvolvimento e crescimento fetal; a regulação da síntese e ação de proteínas, regulação do metabolismo energético e da função cardiovascular”, elenca o médico. Dr. Barcellos lembra que os hormônios desta glândula também controlam a função pulmonar, produzem os glóbulos vermelhos, regulam o sono e previnem lesões musculares, mantendo a disposição e a capacidade da memória e do raciocínio.
2- Hormônios: prazer em conhecê-los! Afinal, quais são os hormônios produzidos pela tireoide?
Os mais importantes são os famosos T3 e T4, mas há outros. Dr. Barcellos explica que os números três e quatro se referem à quantidade de átomos de iodo presentes em cada molécula destes hormônios. O especialista lembra que a tireoide também produz os hormônios T1 e T2. “Mas eles não são liberados para a circulação, portanto não tem importância na prática clínica”, conclui. O médico lembra que há outro hormônio produzido pela glândula, chamado de calcitonina, mas sua produção ocorre em proporções menores. “Esse hormônio atua na redução dos níveis de cálcio do sangue e trabalha em conjunto com os hormônios da paratireoide”, conta o doutor, referindo-se ao PTH, hormônio responsável por regular o nível de cálcio no corpo. De acordo com Dr. Sgarbi, ainda não há muita certeza a respeito da real atuação da calcitonina. “Os efeitos reais da calcitonina ainda permanecem não muito bem definidos”, explica. Mas Dr. Barcellos lembra que a maior importância deste hormônio é que sua produção aumenta quando o indivíduo tem um tipo de câncer chamado de carcinoma medular. “Neste caso, níveis altos desse hormônio podem servir como pista para a detecção do tumor”, completa.
3- Hipo: pouco
A tireoide pode desenvolver algumas disfunções no organismo, entre elas o hipotireoidismo, que resulta na falta de hormônios tireoidianos no corpo. De acordo com Dr. José Augusto Sgarbi, a doença, também conhecida como tireoidite de Hashimoto, ocorre por deficiência total ou parcial da tireoide na síntese e secreção dos hormônios T3 e T4. “O sistema imune não reconhece a tireoide como própria e passa a produzir anticorpos dirigidos contra a glândula, que causam a destruição e morte celular”, explica o médico. Dr. Cristiano Barcellos explica que os anticorpos dessa doença são produzidos pelo próprio organismo da pessoa, o que a caracteriza uma doença autoimune. “O hipotireoidismo pode ser causado também pela deficiência de iodo, pela ação de alguns medicamentos e pela ausência da tireoide, que pode ser congênita ou após a retirada cirúrgica da glândula”, destaca Dr. Barcellos. Nas regiões onde o consumo de iodo é insuficiente, como nos Alpes, Himalaia e Lagos gregos, o hipotireoidismo ocorre devido a falta do nutriente. Os especialistas explicam que alguns medicamentos podem ser a causa da doença, como o lítio, usado para tratar doenças psiquiátricas, e amiodarona, ministrado para tratar arritmias cardíacas. Dr. Sgarbi lembra que tem se tornado comum a retirada da glândula devido a nódulos formados, mas afirma que muitas dessas retiradas são desnecessárias. Como os hormônios tireoidianos são importantes para o funcionamento do corpo, os sintomas do hipotireoidismo são muitos: enfraquecimento das unhas e cabelos, indisposição, sonolência, dores e inchaços pelo corpo, aumento da pressão arterial e do colesterol, distúrbios da memória e do raciocínio, distúrbios menstruais e infertilidade em mulheres e disfunção erétil nos homens.
4- Hiper: muito
O hipertireoidismo é a disfunção exatamente oposta ao hipotireoidismo, ou seja, é resultado da produção excessiva dos hormônios tireoidianos. “Eles promovem o funcionamento acelerado e excessivo de todos os órgãos e estruturas do organismo”, explica Dr. Barcellos. Entre as causas da doença, as mais comuns são as autoimunes, como a doença de Basedow-Graves e os nódulos hiperfuncionantes. “Entretanto, estudos recentes em nosso país têm demonstrado a ocorrência de muitos casos de hipertireoidismo, os quais podem estar sendo ocasionados pela quantidade excessiva de iodo presente no sal de cozinha”, alerta o especialista. Dr. Sgarbi explica que o sistema imune produz anticorpos que estimulam os receptores dos hormônios tireoidianos nas células foliculares. “Assim, eles determinam o aumento acentuado da síntese e secreção dos hormônios tireoidianos”, detalha. O profissional lembra que, em regiões insuficientes em iodo, observou-se um aumento expressivo de hipertireoidismo após a oferta aguda do mineral através de programas governamentais. “A tireoide, privada cronicamente do iodo, demora a se autorregular quando diante do aumento da oferta aguda do elemento”, explica. Conforme explica Dr. Sgarbi, a causa mais comum de hipertireoidismo induzido pelo iodo no Brasil é pelo uso da amiodarona. O medicamento afeta a dinâmica dos hormônios tireoidianos, e por isso pode causar tanto excesso quanto falta dos hormônios, dependendo de diversos outros fatores. “Este medicamento tem uma quantidade muito maior de iodo do que o necessário para nossas necessidades diárias, fornecendo 70mg de iodo por comprimido, sendo a ingestão recomendada é de 150 a 200mcg ao dia”, explica o médico.
5- Vou engordar ou emagrecer?
Muita gente associa os distúrbios na tireoide com a facilidade de engordar. Mas a relação não é tão próxima quanto pensamos. Os especialistas explicam algumas ocorrências que os distúrbios na tireoide causam e que podem criar estas impressões. “A falta dos hormônios tireoidianos pode promover uma retenção anormal de líquidos corporais, fazendo com que o peso aumente”, explica Dr. Barcellos. “Um indivíduo com hipotireoidismo descompensado, se for submetido a uma dieta hipocalórica, tem mais dificuldade para emagrecer, mas essa dificuldade deixa de existir com o tratamento do problema”, destaca. Dr. Sgarbi alerta que os pacientes com hipotireoidismo não podem justificar o ganho de peso ou a dificuldade para perder peso pelo hipotireoidismo, caso estejam seguindo o tratamento adequado. “Os cuidados devem ser habituais, ou seja, prática regular de exercícios e alimentação saudável”. Para o caso do hipertireoidismo, há uma relação da disfunção com a rápida perda de peso. Dr. Barcellos explica que isso ocorre devido ao gasto energético e à diminuição da massa muscular. “Em indivíduos com hipertireoidismo, há evidências de que exercícios resistidos, como musculação, auxiliam na recuperação da massa muscular perdida devido ao excesso de hormônios, o que pode garantir uma recuperação mais rápida do peso e proporcionar uma sensação de bem-estar”, ressalta o especialista, que alerta para a necessidade de orientação médica cuidadosa neste caso.
6- Cuide-se e marque a sua consulta
De acordo com os especialistas, não existe um tipo de hábito específico ou alimento que evita o surgimento de distúrbios na tireoide. O consumo de iodo em quantidade normal já é suficiente para manter o funcionamento. No entanto, os médicos afirmam que hábitos saudáveis contribuem para o bom funcionamento da glândula e dos hormônios produzidos. Dr. Barcellos elenca alguns exemplos. “Não fumar, não beber, evitar o estresse, ter uma alimentação adequada, boas condições de sono e estabelecer de rotinas no dia-a-dia são fundamentais para o funcionamento da tireoide e do organismo como um todo”. De acordo com Dr. Sgarbi, é recomendada a busca ativa de exames para indivíduos com maior risco para doenças da tireoide. “Indivíduos com mais de 60 anos, mulheres na pós-menopausa, indivíduos com antecedentes familiares ou pessoais de doenças na tireoide e pessoas com depressão fazem parte dos subgrupos com maior risco para doenças da tireoide”, enumera. Dr. Barcellos lembra que as alterações hormonais tendem a acontecer antes do surgimento dos sintomas e sinais clínicos. “Por isso, a pesquisa através do exame de sangue é capaz de detectar as disfunções tireoidianas de um modo mais precoce”, conclui.
Fontes consultadas: Cristiano Barcellos, médico endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, doutor em endocrinologia pela USP
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