PALAVRA DO ESPECIALISTA

Palavra do Especialista: Tendão - não deixe que esse seja seu ponto fraco!

Dor, edemas e vermelhidão depois de praticar uma atividade física intensa podem indicar problemas relacionados ao tendão

Palavra do Especialista: Tendão - não deixe que esse seja seu ponto fraco! Um tendão normal é capaz de suportar estiramentos de até 4% de comprimento
Crédito: REVISTA SUPLEMENTAÇÃO

A tríade que coordena o bem-estar é representada por exercício físico/alimentação/estilo de vida saudável, condições que devem estar intimamente associadas ao fato de praticar a modalidade esportiva que se gosta, quer seja frequentar uma academia, realizar uma caminhada, correr, ou qualquer exercício que não seja estafante ou que posteriormente promova dores. Para entender as relações funcionais da musculatura esquelética temos que considerar a estrutura anatomofuncional do músculo onde anatomicamente e histologicamente podemos dividi-lo em duas partes denominadas de: ventre muscular e tendão.

O ventre muscular é a parte constituída pelas fibras musculares que ao contrair-se, promovem encurtamento no comprimento do músculo e, consequentemente, deslocamento da peça esquelética, produzindo trabalho mecânico, que propicia o deslocamento de um segmento do corpo. A amplitude da contração depende do comprimento das fibras musculares, desta forma, um músculo longo tem o mais alto grau de encurtamento. Por outro lado, a potência (ou força) tem relação com o número de fibras que se contraem e número de fibras contidas em uma secção transversal do músculo. Mais especificamente, o trabalho realizado pelo músculo se manifesta pelo deslocamento de um ou mais ossos realizando um movimento como braços de alavancas. Além da porção contrátil, os músculos também apresentam uma região denominada tendão que são estruturas fibrosas, de cor branca nacarada, formado por tecido conjuntivo rico em colágeno, estando localizado nas extremidades dos músculos e graças ao quais os músculos se inserem nos ossos. Os tendões têm a função de manter o equilíbrio estático e dinâmico do corpo, através da transmissão da atividade muscular aos ossos e articulações.

Não há movimento sem que ocorra a participação dos tendões na transmissão de forças geradas nos músculos. Cabe salientar que, nos tendões as fibras colágeneas se entrelaçam permitindo a convergência na distribuição das forças de todas as partes do músculo. Apresentam ainda metabolismo lento, nos quais os vasos sanguíneos penetram pelo tecido que envolve o tendão e nutrem sua camada mais externa e, por um processo de difusão os nutrientes, atingem a camada mais central. Estique – Tencione – Resista Um fato importante é que um tendão normal é capaz de suportar estiramentos de até 4% de seu comprimento total sem que haja lesão em sua estrutura, e após cessar o estiramento, o tendão retorna às condições anatomo-estruturais prévias sem alteração estrutural, o que lhe dá característica de deformidade elástica. Assim, tem sido relatado que os tendões normais são capazes de suportar nove toneladas por polegadas quadradas.

A tríade estrutura/composição/organização da matriz é importante para as propriedades físicas do tendão. As fibrilas representam as menores unidades estruturais dos tendões e seus diâmetros dependem da idade, localização e tipo de tendão. Quanto à organização morfofuncional observa-se na estrutura do tendão bandas de fibras cujo componente principal é o colágeno, o qual constitui aproximadamente 60% da massa seca do tendão. Estas fibras estão alinhadas com predomínio no eixo longo do tendão sendo responsáveis pela força tênsil e ainda há uma pequena proporção de fibras que se distribui transversalmente ou em forma de espiral, as quais promovem resistência contra forças transversais, torcionais e rotacionais do tendão, portanto a disposição das fibras tem importância fundamental nas propriedades mecânicas do tecido. Não se trata de um tecido estático, mas sim, um tecido que se adapta de acordo com a intensidade, a direção e a frequência de cargas aplicadas, em um processo constante de remodelação durante a vida. Com relação aos efeitos do exercício sobre os tendões, salienta-se que tendões humanos são capazes de responder a carga mecânica, apresentando adaptações específicas em decorrência da atividade física e concomitante ao aumento na atividade metabólica e circulatória, ocorre aumento da síntese de matriz extracelular, seguido da geração de fatores reguladores como, por exemplo, as interleucinas, importante citocinas que controlam a proliferação celular bem como as respostas inflamatórias e o aumento da massa seca.

No que se refere às propriedades mecânicas dos tendões e as contribuições reais propiciadas pelo treinamento físico, observa-se aumento da resistência a carga mecânica, aumento da tolerância a exercícios extremos e a prevenção de lesões. Enfim, existem contribuições significativas do treinamento sobre as propriedades mecânicas dos tendões. Um fato curioso é que os agentes anabólicos, os quais exercem ação indiscutível gerando hipertrofia, atuam somente no ventre muscular, não exercendo ação sobre os tendões, assim, caso seja imposto uma carga muito alta, pode ocorrer rompimento do tendão. Cuidado com a sobrecarga Temos que ter bom senso quanto à intensidade dos exercícios, visto que cargas suprafisiológicas podem acarretar lesões. As lesões podem ser provocadas por acidente ou desgaste, como é comum no caso de pessoas que praticam atividade física de alta intensidade. No que tange ao tendão lesionado, sabe-se que é muito comum encontrarmos diferentes processos patológicos, tais como a LER (lesão por esforço repetitivo, a qual surge devido ao excesso de repetições de um mesmo movimento) ou a tendinite (um processo inflamatório que promove dor).

A tendinite, quando crônica, leva ao enfraquecimento do tendão, elevando à suscetibilidade às lesões. Podendo ser uma dor aguda e penetrante ou de uma intensidade menor, e nos casos mais graves pode vir acompanhada de uma fibrose, uma espécie de nó, na parte posterior do tendão, a tenossinovite (inflamação de membranas dos tendões) e a bursite (inflamação das bursas, conjunto de membranas que permitem o deslizamento dos tendões).

Devemos lembrar que, os tendões possuem a capacidade de se regenerar, através da proliferação de células do tecido conjuntivo que os envolve, no entanto, é um processo lento.

Fique alerta!

Por fim, descrevemos algumas características indicativas de alterações funcionais nos tendões, estando assim representadas: •

Dor no tendão durante os exercícios e melhora com o repouso. Nestes casos, a dor aparece gradualmente durante os exercícios; •

Edema (inchaço) sobre o tendão; •

Vermelhidão sobre a pele, no local da lesão; •

Rangido quando pressiona o dedo no tendão ou move seu pé; •

Aparecimento de nódulos ou regiões inchadas no tendão; •

Dor no tendão quando anda, especialmente em subidas ou ao subir escadas; •

Diminuição de força dos músculos da panturrilha, que pode acontecer durante a caminhada ou corrida; •

Dor difusa e rigidez no tendão, principalmente pela manhã ou após tempo prolongado na posição sentada; •

Aumento de temperatura sobre o tendão; •

Limitação da amplitude de movimento; •

Crepitação durante os movimentos ativos. Como agir Você deve ter alguns cuidados com seus tendões caso sinta dor referida, visto que algumas ações podem ajudar, tais como: •

Coloque gelo na região: quando os tendões estão inflamados, pois a redução na temperatura local reduz a inflamação. Neste sentido, enrole um pano fino ao redor de um saco plástico com gelo e aplique sobre o tendão dolorido.

Deixe o gelo no local por até 10 minutos, três ou quatro vezes ao dia, até que os sintomas sejam reduzidos ou desapareçam. •

Deixe a região levantada: mantenha o tendão lesionado elevado acima da altura do tórax para auxiliar na redução do inchaço. •

Imobilize com faixa uma bandagem elástica em volta do joelho, tornozelo ou pulso lesionado pode ajudar a sustentar as articulações e minimizar o inchaço. O sucesso da bandagem depende da colocação de maneira correta e nunca muito apertada. •

Imobilização com tala: especialistas recomendam o uso de uma tala ao invés de bandagens, visto que são mais rígidas e ajudam a manter a região afetada em uma posição de descanso. •

Faça fortalecimento: antes de entrar em uma rotina de exercícios, como correr ou nadar, condicione os músculos específicos como, por exemplo, os músculos da perna ou do braço, com exercícios indicados por profissional competente. •

Faça um aquecimento antes de praticar uma atividade física: para as pessoas fisicamente ativas, alongamento é considerado sinônimo de aquecimento. •

Faça alongamentos sem causar dor: alongue-se até que seus músculos estejam tensionados, mas não por muito tempo. Se doer, você está esticando mais do que devia.

Faça cada movimento de alongamento de forma suave e lenta, sem contrair o músculo nem deixá-lo solto. •

Use um tênis adequado a sua prática esportiva. Por fim, deixamos dois conselhos importantes:

Não use medicamento sem orientação médica e procure um suplemento que auxilie na manutenção da síntese proteica tal como o BCAA ou colágeno, pois os benefícios abrangem as diferentes porções que compõem o músculo esquelético.

Calcanhar de Aquiles

Ele é um dos mais famosos heróis gregos. Ao nascer, sua mãe o mergulhou no Estige, o rio infernal, para torná-lo invulnerável.

Mas a água não lhe chegou ao calcanhar, pelo qual ela o segurava, e que assim se tornou seu ponto fraco.

A expressão “calcanhar de Aquiles” é utilizada até os dias de hoje para representar o ponto fraco e vulnerável de uma pessoa.

Prof. Dr. Carlos Alberto Silva

Especialista

Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba.

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