Arginina - Força e potência em forma de aminoácido

Você se lembra do Popeye, aquele marinheiro dos desenhos animados que precisava de espinafre para ganhar músculos e ficar forte? Nós sabemos que espinafre, apesar de saudável, não faz isso de verdade. Mas descobrimos um suplemento que faria o marinheiro ter mais ou menos o mesmo efeito nos músculos. Estamos falando da arginina, ou L-arginina, como é conhecida por muitos. Trata-se de um aminoácido que nosso corpo sintetiza normalmente a partir do consumo de alimentos proteicos. Quando um aminoácido é produzido pelo nosso corpo, ele é considerado não-essencial, mas como a arginina pode ser necessária para nosso organismo em forma de alimento ou suplemento, é considerada um aminoácido condicionalmente essencial. Daniela Martoni, especialista em nutrição aplicada ao exercício físico pela USP e nutricionista da Integralmédica, explica que a necessidade de acrescentar a Arginina na dieta pode vir de dois motivos: o rápido crescimento ou em resposta ao estresse traumático ou patológico, quando os músculos sofrem alguma lesão, uma vez que as demandas de aminoácidos ficam aumentadas. Encontrada em alimentos ricos em proteínas, como castanhas, carnes, ovos, leite e derivados, a arginina promove o aumento da capacidade aeróbica, o que significa que ele vai reduzir a necessidade de produzir energia de maneira anaeróbica.

A nutricionista Soraia Azzuz, graduada em medicina bioquímica e prática ortomolecular, explica que isso acontece por que o aminoácido promove a maior produção de óxido nítrico. “A arginina atenua a atividade de enzimas cardíacas durante um exercício exaustivo, reduzindo a resposta inflamatória e o estresse oxidativo cardíaco”, destaca. Isso significa que a arginina é responsável por metabolizar o elemento gasoso, conhecido pelo símbolo NO (pois é composto por oxigênio e nitrogênio), responsável por diversas ações importantes no organismo.

“Entre as muitas funções do óxido nítrico, está a de criar vasodilatação no músculo esquelético. Isso aumenta o fornecimento de sangue e nutrientes para o músculo, favorecendo a síntese proteica”, explica. Para tornar a explicação da especialista ainda mais clara, basta imaginar os vasos sanguíneos como as principais vias de acesso que ligam uma grande cidade. Neste caso, a arginina será como os agentes públicos que decidem fazer duplicações para melhorar o trânsito, fazendo com que mais gente chegue ao seu local de destino em menos tempo. Além disso, a nutricionista destaca que a arginina teria ainda papel direto no ganho de massa muscular, pois ela potencializa a secreção do GH, popularmente conhecido como o hormônio do crescimento. De acordo com os pesquisadores, o óxido nítrico tem papel estimulante e intensificador para existir transição entre os tipos de fibras musculares nas situações de sobrecarga, o que o torna responsável por aumentar a força muscular. Mesmo sem a conclusão final, o que fica evidente é que a arginina tem efeito positivo sobre o aumento de massa magra. Daniela conta que a arginina é absorvida no intestino quando ingerida na dieta por meio de alimentos ou suplementação. “Os produtos biológicos mais importantes formados pela arginina são o óxido nítrico, citrulina, ornitina, creatina, ureia, prolina e glutamato”, elenca.

“Também ocorre formação de arginina de forma endógena, a partir do glutamato, prolina ou citrulina”, destaca a especialista. Ela explica que a arginina, como intermediária do ciclo da ureia, auxilia na remoção de amônia do organismo. Mas a especialista lembra que outros suplementos proteicos, como whey protein ou albumina, também fornecem arginina indiretamente. “As proteínas ingeridas são degradadas até arginina”, explica, destacando a principal diferença entre arginina e outras proteínas. “A diferença é que produtos proteicos passam pelo processo de hidrólise no organismo até a obtenção dos aminoácidos isolados”. Ou seja, a vantagem de suplementar com o aminoácido é que ele vai passar a fazer sua função assim que entrar no organismo em vez de passar por uma série de processos antes de partir para o músculo.

Musculação sem dores 

O estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte mostra que a administração de 3g de L-arginina por dia ajuda a potencializar os efeitos de treinamento com pesos, ajudando na perda de gordura corporal, aquisição de força e massa muscular. O estudo explica a importância do efeito vasodilatador do óxido nítrico, citando três mecanismos inter-relacionados: o aumento da perfusão sanguínea, ou seja, do envio de sangue; a maior oferta de glicose, e a redução da concentração de amônia e lactato nas células. “Esse último raciocínio parte do princípio de que, primeiro, o acúmulo de lactato é indicativo da depleção de glicogênio, havendo altas concentrações de lactato no ponto de fadiga; e, segundo, o ácido láctico é o grande responsável pela dor muscular referida durante a prática de exercícios”. Assim, o estudo explica como a suplementação com arginina reduz as dores musculares ao aumentar a quantidade de açúcares, ajudando no maior rendimento dos exercícios. “Aparentemente, todos os processos metabólicos relacionados com a atividade física são melhorados e potencializados com o uso da arginina”, afirmam os autores. De acordo com o estudo, o consumo de arginina deve ser associado a programas de exercícios resistidos, como musculação, para que ocorram estes avanços. O artigo afirma que os músculos são capazes de produzir energia durante mais tempo, evitando o processo anaeróbico que causa dor, ao mesmo tempo em que favorece a eliminação das substâncias tóxicas acumuladas durante a atividade física. O estudo comparou dois grupos submetidos a oito semanas de treinamento com pesos, sendo que só um deles suplementou com arginina. Os resultados da pesquisa mostraram que apenas o grupo que consumiu 3g por dia de arginina teve aumento significativo no peso corporal e na massa muscular, diminuindo massa gorda e percentual de gordura corporal. O grupo que não consumiu o suplemento não apresentou mudanças significativas para uma pesquisa estatística

. O que comprar na loja? Na hora de suplementar, é importante alinhar os objetivos do treino com os exames do médico ou nutricionista, já que o excesso de arginina pode causar alguns problemas. Daniela destaca que o suplemento pode ser encontrado em pó, cápsulas ou tabletes. “Para quem deseja aumentar a síntese de óxido nítrico, a dose fica entre 2g a 5g por dia, enquanto que para o aumento dos níveis de GH a dose indicada é de 6g a 9g por dia”, explica, lembrando que a dose mais encontrada nos suplementos é de 3g. A nutricionista Soraia Azzuz lembra que a suplementação oral de arginina ou L-arginina, quando realizada em doses diárias de até 15g, é bem tolerada pelo organismo. “Os efeitos adversos mais comuns, quando as doses são de 15g a 30g por dia, são náusea, cólicas abdominais e diarreia”, alerta a profissional, que destaca a importância dos cuidados com os pacientes. “A arginina deve ser utilizada com cautela em pacientes com doença renal, insuficiência hepática ou distúrbios de eletrólitos, caso seja ministrada na forma de cloridrato”, destaca, já que o excesso de arginina exigirá maior esforço dos rins. Daniela destaca que combinar a suplementação de ornitina com a de arginina é positivo, pois ajuda na liberação dos hormônios GH e IGF-1. “A adição de citrulina também é muito comum, pois esse aminoácido aumenta os níveis da arginina que pode ser convertida em NO e GH”, completa a especialista, lembrando do hormônio do crescimento e do óxido nítrico. Depois de todas essas vantagens, com certeza o marinheiro Popeye aceitaria trocar algumas latas de espinafre por cápsulas de arginina! Força de Popeye, cabelo de Sansão A arginina também é utilizada em alguns cosméticos. Isso acontece porque a arginina está presente na queratina, a principal proteína que constitui os cabelos. Os produtos cosméticos que levam arginina prometem deixar os cabelos mais resistentes e manter a fibra capilar saudável por mais tempo.