NUTRIÇÃO & ESPORTE

Nutrição e Esporte: Ginástica artística com Arthur Zanetti

Ele foi o responsável pelo primeiro ouro olímpico do Brasil na ginástica artística, o que o transformou no maior ginasta brasileiro de todos os tempos

Nutrição e Esporte: Ginástica artística com Arthur Zanetti O ginasta coloca sempre um objetivo na frente, antes de comer algum doce
Crédito: REVISTA SUPLEMENTAÇÃO

Era o nono dia de competições das Olimpíadas de Londres, em 2012. O Brasil já contava com uma medalha de ouro da judoca Sarah Menezes. O atleta de 1,56m, dois centímetros mais alto que sua compatriota, faz a melhor apresentação nas argolas. Um pequeno deslize na hora de pisar no chão faz com que os torcedores brasileiros prendam a respiração. Teria ele superado a pontuação de 15.800 pontos do chinês Chen Yibing, campeão olímpico de Pequim? A dúvida paira no ar por alguns segundos, e quando a pontuação de 15.900 surge no telão, Arthur Zanetti solta um grito de satisfação e dá um abraço em seu treinador, Marcos Goto.

Os brasileiros que assistem à competição pela TV respiram aliviados. A vitória olímpica foi apenas a consequência de muitos anos de treino e esforço de um atleta que transmite tranquilidade por onde passa. Durante as apresentações, Zanetti não demonstra nervosismo, apenas concentração e as atitudes de quem sabe o que está fazendo ficam evidentes para quem observa. Até mesmo de cima do pódio olímpico, com uma medalha de ouro pendurada no pescoço e o hino nacional reverberando pelo ginásio, o campeão sorri tranquilamente, satisfeito com o resultado dos esforços. Zanetti conta que, quando criança, seu professor de educação física o incentivou a praticar a ginástica artística, também conhecida pelos brasileiros como ginástica olímpica. “Eu gostei, e as coisas foram acontecendo”, resume.

E aconteceram mesmo, em menos de cinco anos se dedicando ao esporte já conquistava suas primeiras medalhas: uma de ouro nas argolas e outra de prata no salto sobre a mesa no campeonato Pan-americano Interclubes. Também ganhou o título de campeão brasileiro juvenil na prova das argolas. Segundo o atleta, foi com as vitórias no Campeonato Pan-americano Juvenil de Ginástica, em 2007, que ele percebeu que tinha chances olímpicas: foram duas medalhas de ouro, nas argolas e no solo, e mais uma de prata no salto sobre a mesa. O atleta tem o tipo físico ideal para a modalidade das argolas. “Quanto menor o atleta, mais fácil fica para se movimentar nas argolas, mas cada aparelho exige diferentes habilidades”, explica. Por isso, os ginastas mais altos costumam se sair melhor na barra paralela, por exemplo. Sim, ele tem muito a agradecer ao seu DNA, mas de nada serviria seu código genético sem seu esforço. “Se pudesse medir, eu diria que 30% é genética e 70% é força de vontade e treinamento”, calcula Zanetti.

Mas o atleta não precisa se preocupar muito com cálculos, já que tem todo o apoio dos profissionais do clube SERC Santa Maria, onde treina desde o começo da carreira, em São Caetano do Sul. Rotina bem definida A primeira parte do treino do campeão começa às 9h e vai até 11h, enquanto que o período da tarde conta com mais quatro horas, das 14h às 18h. Zanetti ainda tem que conciliar o treino puxado com as aulas da faculdade de Educação Física à noite. Com a semana puxada, ele não se preocupa com o treino de cada dia. “Meu treino varia muito, e meu técnico só passa o que é pra ser feito no dia”, conta o atleta, cujo treinamento é dividido basicamente entre musculação e a prática das modalidades. Para evitar o overtraining e as lesões, principais vilões de qualquer esporte, Zanetti conta com a ajuda da psicóloga e dos fisioterapeutas. “Nós fazemos fisioterapia todos os dias no clube, junto com muitos exames preventivos, como ressonância e teste ergométrico para os ombros”, relata. Segundo o atleta, a psicóloga do clube ajuda a evitar o overtraining. “Ela faz testes para perceber se está havendo excesso e se estiver, temos alguns descansos maiores por alguns dias, o que não significa que não temos que ir ao clube”, explica. Devido ao treino, que varia de intensidade ao longo do ano, Zanetti tem uma mudança na composição corporal em alguns momentos. “

Quando o treino de musculação é mais pesado, eu aumento a massa muscular, mas tem períodos em que nós diminuímos o ritmo da musculação”, explica. Mas se enganam aqueles que pensam que o ginasta puxa mais ferro quando chega perto da competição. “O treino de musculação é diferente quando estamos perto de competir, pois quanto mais leve eu estiver na competição, maior a força relativa”, explica o atleta, que precisa erguer o próprio peso nas argolas. A qualidade do treinamento pode ser vista nas crescentes vitórias do ginasta, que tem na medalha de ouro olímpica a maior conquista da carreira, mas considera o vice-campeonato no Mundial pré-olímpico de 2011, que ocorreu em Tóquio, como sua segunda mais importante vitória. “Se eu não fosse vice no mundial, não estaria em Londres”, argumenta o atleta. A terceira vitória mais importante foi também em 2012, quando conquistou medalha de ouro nas argolas, na Copa do Mundo de Ginástica Artística, na Bélgica. “Em Londres, só estavam os melhores, por isso foi mais difícil, no mundial eu sabia que não ia ganhar, mas na Bélgica eu estava muito bem preparado”, conclui Zanetti, enquanto faz o balanço das últimas conquistas. Após somar tantas vitórias, Zanetti ganhou o prêmio do Comitê Olímpico Brasileiro de atleta do ano, fechando 2012 como um ano de ouro junto com Marcos Goto, que ganhou o prêmio de técnico do ano na categoria de esporte individual. Agora, o Brasil tem em Zanetti a esperança de medalha dourada nas Olimpíadas de 2016, no Rio.

“Estamos focando bastante nas Olimpíadas, mas ainda tem muita coisa antes, como a Universíada e o Mundial”, lembra Zanetti, referindo-se aos eventos esportivos que acontecem em 2013 na Rússia, de 6 a 17 de julho, e na Bélgica, de 30 de setembro a 6 de outubro, respectivamente. Ele explica que é preciso escolher as competições mais importantes. “Algumas competições, dependendo da data, acabam atrapalhando o calendário, então o meu técnico conversa comigo e decidimos juntos em quais vamos”, explica Zanetti, já que nem sempre pode participar de todas as competições. Dieta sem segredos Quando se trata do cardápio, Arthur Zanetti não tem grandes segredos ou truques na hora de comer. No café da manhã, o campeão mantém o tradicional pão com presunto e queijo branco, enquanto que o almoço tem o básico, porém necessário para qualquer dieta saudável: carne, arroz, feijão e salada. “No jantar, eu apenas diminuo os carboidratos”, conta o atleta.

Mas por mais comum que seja sua alimentação, é de se esperar que os doces estejam de fora. “Toda vez que dá vontade de comer algum doce, eu coloco o objetivo na frente e a vontade passa”, relata o campeão, que nos traz uma grande dica de como lidar com essas tentações. O atleta conta que tem avaliação nutricional todas as quartas-feiras no clube, quando recebe não só as orientações de alimentação, mas também dos suplementos, cuja quantidade varia ao longo do ano. “Eu tomo os suplementos todos os dias durante o treino, mas a quantidade varia de acordo com a orientação da nutricionista”, explica. Nos períodos de treino de hipertrofia mais intensivos a suplementação acompanha, e o consumo é mais moderado quando está próximo das competições. O ginasta relata que as mudanças no treino e, consequentemente, na quantidade de suplementos, chegam a acontecer de cinco a seis vezes em um ano, e destaca a importância dos profissionais que trabalham no clube, que é um dos pioneiros no Brasil na ginástica artística. “O SERC foi um dos primeiros clubes a ter fisioterapeuta e nutricionista, por exemplo, então ele saiu na frente”. Esporte, sucesso e apoio Só depois que ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, Arthur Zanetti virou celebridade. Não há quem não conheça o atleta. Mas isso é reflexo de uma cultura que ainda existe no Brasil: a de valorizar o atleta somente quando ele se consagra campeão. “O mais difícil no Brasil é conseguir patrocínio”, explica o campeão, que já sofreu para conseguir o apoio necessário. “Os meus patrocinadores me ajudam muito, mas infelizmente o Brasil não enxerga que quem mais precisa de patrocínio são os atletas da base”, conta o campeão, que destaca que muitos atletas da seleção de ginástica vão às competições sem patrocínio.

“Muitos grandes atletas que poderiam conseguir bons resultados desistiram porque não conseguiram patrocínio”, conta Zanetti sobre os colegas do esporte, mas feliz com o apoio que recebe. Zanetti é o atleta mais bem-sucedido da ginástica artística brasileira. O campeão se torna o centro das atenções nas próximas competições, não só na categoria das argolas, mas também na categoria solo, onde também tem conseguido bons resultados, como a medalha de prata no Grand Prix Ostrava Challenge Cup, na República Checa, em Novembro de 2012. A tranquilidade de Zanetti permanece a mesma. Ele e seu técnico sabem que o sentimento de pressão devido aos títulos anteriores e à cobrança da torcida não deve ser alimentado. Como profissional empenhado, Marcos Goto utiliza a palavra “meta” como uma forma de mostrar que não há vitória sem planejamento. Assim, Zanetti nos inspira com sua força de vontade, preparação técnica de qualidade, e o sorriso tranquilo no rosto.

 

Perfil

Nome Completo: Arthur Nabarrete Zanetti

Data de Nascimento: 16/04/1990

Local: São Caetano do Sul – SP

Altura: 1,56m

Peso: 63kg

Esporte: Ginástica Artística

Modalidade Principal: Argolas

Categoria: Adulto

Patrocinadores: Caixa, SADIA e Agith Apoiadores: Prefeitura de São Caetano do Sul / SERC Santa Maria

Twitter: @zanetti_arthur Site: www.arthurzanetti.com.br

Treinador: Marcos Goto

 

Principais títulos:

2012:

-Medalha de Ouro: Jogos Olímpicos de Londres (argolas)

-Medalha de Ouro: Copa do Mundo de Ginástica Artística, na Bélgica (argolas)

-Medalha de Prata: Grand Prix Ostrava Challenge Cup, na República Checa (argolas)

-Medalha de Prata: Grand Prix Ostrava Challenge Cup, República Checa (solo)

 

2011:

-Medalha de Prata: Campeonato Mundial Pré-Olímpico, no Japão (argolas)

-Medalha de Prata: Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (argolas)

-Medalha de Ouro: Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (equipe)

-Medalha de Ouro: Universíada, na China (argolas)

 

Cardápio mutante

Nutricionista de Arthur Zanetti, Tálita Tognela explica que o cardápio varia conforme treinamento, mas existe um exemplo base. “No começo da temporada, inicio uma suplementação com vitaminas e minerais além de carboidrato”, explica a nutricionista, que não utiliza proteínas porque o período exige diminuição do percentual de gordura e peso corporal, junto com o treinamento de resistência. Nos períodos pré-competitivos, ela dá preferência para vitaminas e minerais, principalmente o zinco, que atua na recuperação muscular. “O carboidrato em forma de maltodextrina e aminoácidos em forma de BCAA priorizam sempre a recuperação muscular, além de suplementação com colágeno, visando prevenir lesões em ligamentos e articulações”, conta. No período de competições, é mantida a suplementação com um pouco mais de intensidade em vitaminas, minerais e BCAA. “Algumas vezes fazemos o uso de creatina, visando maior potência nas competições, mas não em todas”, explica a nutricionista, que garante não ultrapassar a quantidade de 5g diárias.

 

Confira o cardápio base do medalhista:

Café da manhã: 2 fatias de pão integral com requeijão, 1 fatia média de queijo branco, 2 fatias de peito de peru ou presunto, 1 copo de leite semidesnatado com 1 colher de sopa de achocolatado, 1/2 mamão papaya

Treino da manhã: Maltodextrina (concentração de 6%) BCAA

Almoço: 1 prato de salada de folhas e legumes 1 escumadeira de arroz, 1 concha de feijão, 1 bife grande, 1 porção de gelatina, 1 copo de suco de frutas natural

Treino tarde: Maltodextrina (concentração de 6%)

Lanche pós-treino: 1 fruta E 1 barra de proteína BCAA

Jantar: 1 prato de salada de folhas e legumes, 1 escumadeira de arroz, 1 concha de feijão, 1 filé de frango grelhado, 1 fruta, 1 copo de suco de frutas

Ceia: 1 copo de chá de ervas (camomila, erva cidreira, erva doce)

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