PALAVRA DO ESPECIALISTA

Palavra do Especialista: Melatonina - ela trabalha enquanto você dorme

Quando a noite cai, este hormônio entra em ação

Palavra do Especialista: Melatonina - ela trabalha enquanto você dorme Um evento que merece destaque é que técnicas orientais de relaxamento e meditação.
Crédito: REVISTA SUPLEMENTAÇÃO

É consenso entre cientistas ligados ao esporte que a suplementação adequada reflete na performance e no desenvolvimento de novas habilidades funcionais. É neste contexto que a disponibilização de maiores quantidades de substratos energéticos metabolizáveis, quer seja através da alimentação ou através do uso de complexos de suplementos, tais como a maltodextrina, a creatina, a glutamina, entre outros, fazem a grande diferença.

Novas vertentes que surgiram na última década indicam que o período de descanso ou repouso, é tão importante quanto às etapas do treinamento físico, assim se não prestarmos atenção ao fato que simultâneo ao treinamento uma série de sistemas são ativados e participam efetivamente do fornecimento de substratos energéticos e ainda considerando-se o estresse mecânico decorrente da intensidade dos exercícios, é de se esperar que na fase de repouso haja um eficiente sistema de reconstrução/reconstituição que possa reparar danos e preparar os tecidos para uma resposta mais aprimorada em atividades futuras, favorecendo a implantação da supercompensação. É indiscutível que a constante e regrada prática de exercícios promove sobrecarga em funções orgânicas com expressivo reflexo na qualidade de vida, no entanto, considerando-se a plasticidade funcional do cérebro, existe um eficiente sistema de reparo ativado enquanto repousamos.

Hora da metamorfose 

Anatomicamente localizada na porção posterior do cérebro e ligada a diversas áreas responsáveis pelos códigos sensoriais, - e ainda alinhada horizontalmente a um ponto situado entre as sobrancelhas, existe uma pequena glândula pesando 1g e do tamanho de uma ervilha, a qual é denominada pineal. Essa glândula é extremamente importante, uma vez que durante o dia secreta o neurotransmissor serotonina e nos deixa alerta e com disposição para a realização das atividades diárias.

Por outro lado, à noite a glândula inverte seu perfil de secreção e transforma a serotonina (neurotransmissor de atividade) no neurotransmissor melatonina que é o neurotransmissor responsável pelo relaxamento. Há muito tempo, os místicos contradizendo a ciência pura, afirmavam que a pineal não exercia ação biológica, no entanto a respeitavam acreditando que era o centro onde a alma se localizava, por ser um órgão ímpar e calcificada.

Junto à evolução da ciência, fenômenos bioquímicos foram sendo esclarecidos e novas descobertas revelaram que a pineal exerce ação sob os diferentes órgãos, uma vez que a melatonina é o hormônio que controla a atividade dos tecidos. A melatonina tem sido foco de grande interesse devido sua ampla ação estando associada, ao ciclo claro/escuro, a consolidação do sono, a regulação do ritmo circadiano, controle da temperatura corporal, controle da atividade do sistema nervoso central, regulação de funções gastrintestinal, cardiovasculares, renal, além de exercer ações anti-inflamatórias.

Parceiro da regeneração

Com relação ao tecido muscular, importantes resultados demonstraram que este neurotransmissor promove aumento no número e atividade das células satélite (reparadoras das fibras musculares) auxiliando diretamente na regeneração celular reparando os tecidos que foram afetados nas atividades diárias. Esta descoberta abriu novos horizontes relacionados ao entendimento das relações funcionais ativadas no repouso, desta forma podemos perceber que enquanto dormimos uma série de substâncias químicas se distribuem pelo organismo reparando tecidos lesados. É neste contexto que destacamos a melatonina, pois durante o sono, essa substância ativa sistemas que são responsáveis por reparar tecidos escamados, ferimentos e também microlesões musculares. Também tem sido descrito que na fase sob domínio da melatonina, há reconstituição das reservas energéticas e restauração das moléculas de DNA lesadas. Para realizar esta ação a melatonina ativa as cascatas de sinais nas células através de moléculas denominadas de IGFs.

Melatonina antes da cama

A suplementação com melatonina seria ideal após o treino, mais especificamente antes de dormir, mas a substância é proibida no Brasil sendo utilizada em condições clínicas tais como no Parkinson, crises epileptiformes de difícil controle, etc. A dose utilizada normalmente varia de 0,3 a 3mg, embora, casos de insônia necessitem até 20mg. A Melatonina não existe nos alimentos, mas qualquer suplemento que contenha aminoácidos, terá o triptofano que é a base de síntese da serotonina que será transformada em melatonina, inclusive se o atleta utilizar altas doses de aminoácidos, estes podem competir na entrada, na barreira hematocefálica e reduzir a captação do triptofano induzindo depressão pós-treino pela redução da serotonina e posterior redução na melatonina. Quando o sono chega Se analisarmos de forma mais integrada chegaremos à conclusão que no início do sono há secreção do hormônio de crescimento, iniciando o processo de reparo tecidual, que está integrado com a melatonina, formando uma rede hormonal de reconstrução tecidual ativada durante o repouso. Evidências clínicas demostraram que diversos estados emocionais incluindo o humor também podem ser influenciados pela melatonina. Além dos eventos já descritos tem sido reportado que o exercício físico, per se, induz a liberação de melatonina propiciando melhor desempenho nas atividades e de forma preditiva prepara a dinâmica de reparo. É indiscutível que a prática de exercícios propicia benefícios cardiorespiratórios e ajustes hormonais, mas é durante o sono que o organismo torna-se cada vez mais apto para a prática esportiva regular, justamente pelos reparos que sofre com a secreção adequada dos hormônios GH e melatonina. Uma das maneiras de favorecer o relaxamento e a restauração tecidual é ativar a posteriori a formação do hormônio melatonina, assim, além do exercício técnicas de relaxamento potencializam a secreção.

Um evento que merece destaque é que técnicas orientais de relaxamento e meditação, principalmente aquelas onde se mantém a coluna ereta, tal como a posição de lótus, propiciam as maiores secreções de melatonina atingindo estágios de relaxamento até então difíceis de serem adquiridos por outros métodos.

Por fim percebe-se na letra do poeta o sucesso da qualidade de vida:

“Tudo é uma questão de manter

A mente quieta

A espinha ereta

E o coração tranquilo” (Patu Fu)

Prof. Dr. Carlos Alberto Silva

Especialista

Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba.

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