Em uma dimensão microscópica duas células se encontram, um espermatozóide de 2μm de diâmetro (lembre-se que o micrómetro é a milésima parte do milímetro) e um ovócito de 35μm de diâmetro, ato contínuo, iniciam-se divisões celulares, dobras teciduais e formações de cavidades que esculpem o concepto aos cuidados do útero materno. Inicialmente ocorre o atraso menstrual acompanhado de sinais e sintomas que invadem o corpo materno alterando a aparência da gestante.
Nesta fase, mudanças físicas ainda não são visíveis, porque o concepto ainda é um conglomerado de células e menor que um grão de arroz, no entanto, os hormônios estrógeno e progesterona estão agora em altas concentrações no sangue e direcionam o início da viagem de 9 meses. Respeitando o fato do desenvolvimento do concepto fazer parte do campo de estudo dos embriologistas, esta abordagem estará direcionada para as modificações que ocorrem no corpo da gestante, assim, muitos dos sintomas que serão descritos se repetem durante todo o período gravídico, sendo destacado somente as diferentes nuances que permeiam mês a mês. No primeiro mês, uma série de sinais e sintomas tomam conta do corpo gravídico, os seios tornam-se inchados com mamilos sensíveis, pode ocorrer episódios de azia e náusea, muitas vezes acompanhada de salivação abundante e alguns episódios de queda da pressão arterial, além de micção frequente.
Acompanhando as mudanças orgânicas há um enorme cansaço e um sono quase que incontrolável, diminuindo o ritmo das atividades diárias para reter mais energia e aprimorar o processo gravídico. No aspecto emocional, a gestante apresenta grande irritabilidade acompanhada de oscilações do humor e choro fácil misturado com manifestações de apreensão e alegria. No segundo mês, frente ao expressivo aumento na secreção do hormônio progesterona observa-se redução nos movimentos intestinais visando a melhor absorção de nutrientes, no entanto, causa prisão de ventre; as veias tornam-se mais aparentes e é muito comum ocorrer cefaleias ocasionais. Nesta fase, ocorre o crescimento e maturação das glândulas mamárias e início do aumento no volume abdominal. Devido ao novo status a fome aumenta e o corpo ganha formas arredondadas alterando a aparência, deixando as roupas apertadas na cintura e busto. O ganho de peso da gestante tem duas finalidades, nutrir o concepto em desenvolvimento bem como armazenar reservas para a fase de amamentação. É interessante reforçarmos que devido às mudanças hormonais manifestam-se aversões e desejos alimentares acompanhados por enjoos.
Estamos completando o primeiro trimestre e no terceiro mês é comum manifestações tipo tontura, palpitações e taquicardia, isto ocorre porque o volume de sangue da mãe aumentou um litro e meio, além do circuito sanguíneo ter aumentado para suprir o feto com oxigênio e nutrientes. No campo emocional, observa-se uma sensação de calma e quietude no final desta fase. Vamos iniciar o segundo trimestre, uma fase importante, pois com o crescimento uterino uma série de eventos passam a ocorrer. Estamos no quarto mês, os sintomas náusea e alta frequência urinária são reduzidos, no entanto, concomitante ao crescimento uterino, pode ocorrer inchaço nos tornozelos e pés e possíveis manifestações de congestão nasal, devido a mudança na perfusão sanguínea. Os seios continuam aumentando de tamanho, no entanto, o intumescimento e dor diminuem. Nesta fase, a gestante se sente dispersiva, esquecendo fatos, deixando certas coisas caírem das mãos e apresentam dificuldade de concentração, no entanto, aparecem os movimentos fetais em forma de tremores nas laterais do abdômen. No quinto mês, a respiração torna-se ofegante porque o útero passa a comprimir o diafragma e também pode ocorrer discreto edema nas extremidades devido à retenção de líquido e a gestante também pode sentir um formigamento. É muito comum a gestante manifestar dores lombares, alterações na pigmentação da pele, principalmente na face, câimbras, os estudiosos denominam esta fase de aceitação da realidade da gravidez. Ao entrarmos no sexto mês a atividade fetal fica muito evidente sendo muito comum a gestante apresentar dores na porção baixa do abdômen, isto ocorre devido ao estiramento dos ligamentos que sustentam o útero. No aspecto emocional observa-se diminuição na oscilação do humor, persistindo a desatenção e ansiedade, e ainda, no âmbito comportamental ocorre aborrecimento pelo longo período ainda restante. Desponta o sétimo mês com atividade fetal vigorosa, dificuldade de sono, falta de ar e possível inchaço do tornozelo e possíveis desequilíbrios. Em muitos casos observa-se secreção vaginal esbranquiçada e evidente aparecimento de contrações esparsas denominadas Braxton Hicks (indolores; o útero endurece por pouco tempo e volta ao normal). No perfil emocional relata-se distração e preocupação com a saúde do bebe.
Entramos no oitavo mês, fase de inépcia ao andar e secreção de colostro espontânea acompanhado de excitação e preparação para o parto que desponta. Por fim, chega o final do período gestacional no nono mês, a atividade fetal modifica-se caracterizado por mais contorções e menos chutes devido ao espaço exíguo, aumenta o edema periférico e aparecem câimbras durante o sono, aumento de dores nas costas, incômodo na região da pelve, o corpo agora mais pesado impõe dificuldades de locomoção, as dores nas costas aumentam, a falta de posição para dormir e a ansiedade impedem um sono tranquilo e constante e por fim, novas mudanças hormonais propiciam contrações mais frequentes até atingir uma a cada dois minutos e junto a dilatação do colo uterino, dá-se início ao período expulsivo e nascimento do bebe.
Vamos pensar em números de forma mais generalizada, assim, espera-se que em média, mulheres na faixa de peso normal devam ganhar 400g a mais nas dez primeiras semanas acrescentando 3,6kg até a 20ª semana, mais 4kg até a 30ª semana e somente mais 4kg até o final da gestação, totalizando 12kg. Assim, a gravídica precisa de cuidados especiais porque ao final da gestação, em média, o bebê vai pesar em torno de 3,3kg; o útero estará pesando 900g; a placenta pesará 700g; os seios pesarão 400g e o volume sanguíneo 1,2kg, além de um acúmulo de líquidos de 2kg e uma reserva adiposa de 4kg. A comunidade científica sugere limites pensando no bem estar da gestante ao considerar que mulheres com IMC (índice de massa corporal) pré-gestacional menor que 18,5kg/m2, devem engordar entre 12 a 18kg; mulheres com IMC pré-gestacional entre 18,5 e 24,5kg/m2 devem engordar entre 9 e 10kg; Mulheres com peso pré-gestacional maior de 30kg/m2, podem engordar no máximo11,5kg durante os 9 meses de gestação. Mas porque o ganho de peso excessivo é prejudicial? Perceba que todo o organismo entra em sobrecarga aumentando a probabilidade de doenças graves, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, além da sobrecarga imposta as articulações da coluna, quadris, joelhos e tornozelos, que causam fortes dores e até o favorecimento de formação de estrias modificando o fator estético.
São muitas as orientações quanto à prática de exercícios durante o período gravídico destacando-se a caminhada e os exercícios de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico (se localizam na região entre as pernas). Neste sentido, ressaltamos que estes músculos auxiliam na sustentação da bexiga, do útero e do intestino, além de participar efetivamente no trabalho de parto. Fortalecendo os músculos do assoalho pélvico, haverá maior apoio ao peso extra da gravidez, aumento na circulação sanguínea melhorando a perfusão sanguínea nos membros inferiores, reduzindo o inchaço e as câimbras nas pernas, além de prevenir a incontinência urinária, classicamente relatada no primeiro mês da gestação. Atividade física para gestantes, quando praticada corretamente promove aumento na resistência cardiorrespiratória e muscular tonificando os músculos que irão auxiliar no trabalho de parto e sem dúvida promove melhora na postura causada pela inclinação anterior do quadril.
Por fim, procure sempre um especialista para orientar e prescrever os melhores exercícios dentro da especificidade das suas condições orgânicas e sem exageros.
Gravídicas em condições de normalidade deve-se respeitar a fase inicial da gravidez obedecendo períodos de repouso para evitar um possível aborto espontâneo devido a sobrecarga, ou ainda, é prescrito repouso também no caso de sangramento na fase inicial do período gestacional, dor abdominal, e em especial, no caso de gravidez múltipla, onde se faz necessário repouso nos últimos meses de gestação para evitar parto prematuro. Por outro lado, prescreve-se o repouso absoluto somente em condições especiais, tais como na placenta prévia, patologia onde a placenta se implanta no colo uterino provocando sangramento vaginal indolor nas 12 semanas finais da gestação. Mulheres que apresentam problemas respiratórios ou cardíacos devem seguir a recomendação de repouso absoluto, mas não significa ficar deitada o tempo todo, e deve se movimentar principalmente para cuidados de higiene pessoal. Em condições tal como, ameaça de aborto, redução na quantidade de líquido amniótico ou trabalho de parto prematuro recomenda-se que a gestante fique em repouso. Em condições de normalidade, a gravídica pode iniciar as atividades logo no primeiro mês e mantê-las até o nono mês acompanhando recomendação de um profissional e na atividade física deve-se excluir atividades de alto impacto. Exercite-se sempre de forma prudente e aproveite os benefícios na hora do parto e na recuperação após o nascimento do bebê.
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