SAÚDE

Nutrigenômica e nutrigenética - dupla parceira do desempenho esportivo

Você já ouviu falar dessas duas novas ciências? São diversos os fatores que interferem no desempenho físico de um atleta, entre eles os genéticos, fisiológicos e bioquímicos. Saiba qual é a relação entre os genes e a sua performance dentro e fora da academia

Nutrigenômica e nutrigenética - dupla parceira do desempenho esportivo

 Recentemente a atriz Angelina Jolie revelou em artigo publicado no jornal The New York Times, que foi submetida a uma dupla mastectomia preventiva para reduzir o risco de câncer de mama. A atriz explicou que após a morte da mãe, vítima de câncer no seio, realizou uma série de exames médicos que revelaram que ela era portadora de uma mutação genética que aumentaria o risco de desenvolver a doença. O que pareceu para muitos um exagero, ou absurdo, foi na verdade a aplicação de técnicas nascidas após a descoberta do mapeamento do genoma humano, que aconteceu a partir de 2005. Nesse momento o desafio da ciência passou a ser entender como a função dos genes é alterada por fatores ambientais, dentre estes a alimentação, visto que a exposição de nossos genes à ação de compostos ativos dos alimentos exerce grande influência, não apenas no tratamento de doenças, mas recentemente no aumento da performance esportiva. Dessas descobertas nasceram duas novas ciências: a nutrigenômica, estudo dos nutrientes e substâncias alimentares capazes de modular a expressão gênica, e a nutrigenética, que tem o objetivo de entender como a composição genética de um indivíduo coordena e modifica a resposta aos nutrientes e compostos bioativos, determinando se aquela carga genética o torna mais suscetível ao desenvolvimento de doenças como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras.

NUTRIÇÃO X DESEMPENHO FÍSICO

Antes de explicar um pouco mais sobre essas novas ciências, ainda em estudo, é preciso compreender que são diversos os fatores que interferem no desempenho físico de um atleta: fatores genéticos, fisiológicos, bioquímicos, psicológicos, cargas de treinamento e nutricionais. O entendimento de cada um deles é o que determina o sucesso ou não do desempenho esportivo, seja em atletas profissionais ou não, e se tornou um desafio para os profissionais de educação física, nutrição esportiva e ciências do esporte. Quando o assunto é nutrição, importante explicar a diferença entre alimento e nutriente. O alimento é tudo aquilo que ingerimos para saciar a fome, já os nutrientes são as substâncias contidas nos alimentos e que desempenham funções específicas no organismo e são classificados em macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais). Quando o objetivo é melhorar o rendimento esportivo toda a atenção é voltada aos nutrientes e o efeito dos mesmos no organismo, não só para suprir as necessidades do organismo, como também de que maneira aproveitá-los para alcançar os objetivos desejados. Não é novidade que a nutrição, associada à prática regular de atividades físicas, traz benefícios à saúde, diminuindo a incidência de uma série de doenças. Mas o homem, em toda a história da humanidade, exige sempre mais de si: no trabalho, na vida pessoal e também na prática esportiva, buscando resultados rápidos e duradouros. Entram em cena então os suplementos alimentares, ajudando a suprir as necessidades do organismo que nem sempre conseguimos através da alimentação, graças à correria da vida moderna. Os praticantes de exercícios físicos regulares e, principalmente, os atletas, possuem uma demanda alimentar superior a das pessoas sedentárias. Desta forma, podem ocorrer deficiências na concentração dos macro e micronutrientes, alterando o desempenho principalmente quando se trata de esportes de alto rendimento. Neste sentido, a utilização de suplemento, principalmente por atletas, torna-se fundamental, pois são criadas lacunas em que uma refeição cotidiana não consegue suprir. Os suplementos alimentares são produtos que contêm em sua composição substâncias como vitaminas, minerais, lipídios, aminoácidos ou carboidratos, e que possuem efeitos fisiológicos e nutricionais específicos, e que visam uma melhor recuperação do indivíduo após a realização de determinada atividade física. Existem vários fatores alimentares que podem influenciar os aspectos biomecânicos, psicológicos e fisiológicos do praticante de esporte. Por exemplo, perder o excesso de gordura corporal melhora a eficiência biomecânica; ingerir carboidratos durante o exercício possibilita a manutenção das concentrações normais de glicose no sangue; consumir a quantidade adequada de ferro garante o suprimento de oxigênio aos músculos. Esses e outros fatores estão ligados a nutrição esportiva e favorecem diretamente o desempenho esportivo.

ONDE ENTRA A GENÉTICA EM TUDO ISSO?

Dada explicações gerais sobre a influência da alimentação no rendimento esportivo, retomamos a descoberta do genoma humano e consequentemente da nutrigenômica e da nutrigenética. Tendo definido que o ser humano está em constante busca de evolução, da qualidade de vida e talvez não da vida eterna, mas de uma vida mais longa e com saúde, com o surgimento da nutrigenômica e nutrigenética, os cientistas passaram a buscar entender a relação do genoma com a dieta, onde a nutrigenômica procura desvendar a dieta ideal a partir de uma série de alternativas nutricionais. Enquanto isso, a nutrigenética revela importantes informações para auxiliar na identificação e elaboração da dieta ideal para um determinado indivíduo, tornando-a personalizada. Associadas a outros fatores como atividade física, por exemplo, essas duas ciências podem levar a uma sensível melhora no rendimento esportivo e consequentemente da qualidade de vida. Devido a sua alta complexidade, à primeira vista o assunto pode parecer parte de um roteiro de ficção científica. Para que o leitor compreenda um pouco, estima-se que o genoma humano codifica mais de 25 mil genes, sendo responsáveis pela formação de mais de 100 mil proteínas funcionalmente distintas. A nutrição moderna, baseada nessas descobertas, objetiva a manutenção da saúde e o aumento da performance esportiva, dando maior valor ao efeito que um determinado nutriente causa sobre a regulação das funções celulares desde a estabilidade do DNA até a maturação de uma proteína, do que simplesmente as funções energéticas e fisiológicas que este impõe ao organismo. Existem três fatores centrais que sustentam a genômica nutricional como uma ciência importante:

- Primeiro, a grande diversidade genética entre diferentes grupos étnicos e indivíduos que afeta a biodisponibilidade dos nutrientes e o metabolismo destes;

- Segundo, de acordo com as diferenças culturais, econômicas, geográficas e até mesmo o gosto, cada indivíduo difere muito em suas escolhas por alimentos e nutrientes;

- Terceiro, a carência ou excesso de determinado nutriente pode afetar a expressão gênica e a estabilidade do genoma e, consequentemente, levar à presença de mutações no gene ou à sequência de nível cromossômico que pode cursar com a expressão gênica anormal.

DESCOBERTA DOS GENES

Muitos estudos estão sendo realizados em todo o mundo e também no Brasil no que se refere a nutrigenômica e a nutrigenética. Há expectativas de que, em pouco tempo, poderemos identificar com exatidão todos os genes que acarretam as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e sua relação com os nutrientes, utilizando-os para prevenção. Mas a alta tecnologia necessária para colocar em prática a nutrigenômica e a nutrigenética impede que essas descobertas estejam acessíveis para a maior parte da população. O teste que detectou a mutação genética da atriz Angelina Jolie, por exemplo, custa mais de três mil dólares nos Estados Unidos. No Brasil já existem laboratórios de pesquisas com equipamentos profissionais de última geração capazes de realizar alguns exames que podem dar origem a uma dieta com características nutrigenômicas, ainda que de forma experimental. Mas, também, a um custo bastante elevado. O que se espera, para um futuro bem próximo, é que o profissional da nutrição que trabalhe com nutrigenômica e nutrigenética seja capaz de analisar as doenças com maior probabilidade de desenvolvimento pela predisposição genética; amparado por especialistas como neurologistas ou cardiologistas, de maneira que o paciente saia do consultório com uma combinação de prevenção clínica e uma rotina de hábitos saudáveis, como exercícios físicos e alimentação direcionada, diminuindo as chances do desenvolvimento de doenças.

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