Palavra do Especialista: Crianças ativas, integração entre desenvolvimento motor e comportamento social

Juntamente com o desenvolvimento da sociedade, as crianças perderam o direito de ver a própria sombra e ouvir os próprios passos. Esta restrição deixa claro que hoje em dia os jogos eletrônicos ocupam mais tempo nas atividades diárias, onde crianças e adolescentes colocam bits virtuais no lugar da magia das brincadeiras de rua, como pega-pega, correr, ser livre e fazer parte da natureza. O convívio com as regras que a sociedade impõe nos instiga a estimular o resgate pelo contato com a natureza, a prática de atividade física prazerosa, o contato social, o convívio em equipes e a valorização da saúde.

Além dos benefícios para as funções orgânicas, as crianças precisam extravasar suas angústias, correndo, saltando, gritando, rolando, subindo e estando ativa para as praticas esportivas, não de maneira obrigatória com caráter competitivo, mas de maneira a praticar uma atividade que gosta e lhe traga satisfação dentro de uma regularidade. Cabe ressaltar que crianças ativas refletem em adultos com menores índices de patologia e doenças como complicações cardíacas, hipertensão, diabetes, elevadas concentrações de colesterol, entre outros. Por outro lado, a sociedade sempre se pauta no conceito de transferência cultural justificando a obesidade infantil ao sedentarismo e a carga genética, exemplificando que filhos de pais obesos têm mais chances de serem obesos, pois filhos de pais que não fazem atividades físicas e se alimentam mal, tendem a assumir os mesmos hábitos dos pais. Vamos avaliar cuidadosamente os comprometimentos que a falta de atividade física pode trazer para crianças. Inicialmente destaca-se que se a inatividade estiver associada à ingestão de um alto índice de calorias, certamente propiciará um aumento do índice de massa corporal com diversos impactos negativos como o desequilíbrio de funções orgânicas e os desvios posturais.

Os desvios posturais são fenômenos estruturais que a prática regular de atividade física pode auxiliar na reestruturação das anormalidades, na aquisição de flexibilidade e no condicionamento da plasticidade funcional do músculo esquelético. Concomitante ao sedentarismo há diminuição nas habilidades motoras, visto que nas fases iniciais do desenvolvimento, os infantes estão mais propensos a realizar, assimilar e armazenar em seu sistema nervoso central, novos movimentos e habilidades motoras.

Sabe-se que a prática esportiva auxilia as crianças a estreitarem laços de amizades integrando-se a grupos de vida saudável. A infância é representada pela descoberta do mundo, das mudanças no organismo e da maturação de áreas do sistema nervoso central, assim, observa-se a falta de paciência para realizar atividades cíclicas ou repetitivas, sendo descritas como chatas e desmotivantes. Neste aspecto, espera-se que profissionais conscientes e inovadores ajudem a criança escolhendo a opção ideal e compatível com cada idade, instigando ao desenvolvimento de atividades desafiantes que possam contribuir em melhorias nas principais capacidades físicas e emocionais.

Vamos exemplificar: nos três primeiros anos de vida, não deixe por longos períodos as crianças presas em cercados, carrinhos ou andadores, mas permita que elas engatinhem e busquem alternativas para se deslocarem e sentirem o ambiente. Nos dois anos seguintes estimule e planeje brincadeiras recreativas, sempre hidratando e permitindo a interação da criança com o ambiente. A partir da primeira década de vida estimule a não permanência em inatividade em períodos superiores à duas horas, estimulando a prática de brincadeiras como nadar, jogar bola, pular corda ou andar de bicicleta. Uma vez que a prática de atividade seja constante e prazerosa, haverá benefícios substanciais no que se refere à melhora na coordenação motora, no equilíbrio, na força muscular e na flexibilidade.

Não podemos esquecer que somos exemplos para as crianças estimulando a autoestima, e o amadurecimento das habilidades cognitivas e motoras, indicando hábitos de vida saudáveis, mostrando a importância da boa saúde e da convivência saudável em comunidade e controlando o peso. Dentro do aspecto educacional, inerente a prática de atividade física, a criança irá conhecer o próprio corpo, desenvolver a inteligência e aspectos cognitivos, estimular as relações com as outras pessoas, incorporar hábitos saudáveis, desenvolver a autonomia e a formação do caráter.

Por fim, vamos integrar a prática com os benefícios, elencando alguns exemplos para elucidar esta simbiose assim representada:

A) Natação: melhora a capacidade respiratória, o tônus muscular, o equilíbrio, a força, a coordenação motora, a velocidade e o desenvolvimento de habilidades psicomotoras, além de promover aumento na resistência do organismo ajudando na prevenção e recuperação de doenças como asma, bronquite e até problemas ortopédicos.

B) Futebol: estimula o desenvolvimento e senso de direção, coordenação motora, habilidades psicomotoras, deslocamento em lateralidade, sociabilidade e confiança.

C) Balé: esta é uma prática que desenvolve a noção de espaço, ritmo, tempo, coordenação motora fina, agilidade, elegância, leveza, flexibilidade, sociabilidade, tônus muscular, equilíbrio e força.

D) Ginástica: melhora força muscular, tônus, equilíbrio, velocidade, aumenta a resistência do organismo, desenvolve senso de direção e coordenação.

E) Artes marciais: desenvolvem na criança o caráter e a disciplina.

F) Atletismo: esporte que envolve intensos movimentos como correr, saltar, lançar, desenvolve agilidade, coordenação motora, velocidade, colaboração com os companheiros, sociabilidade, força e confiança.

Crianças necessitam de atividades físicas para o seu desenvolvimento no aspecto biológico e social, assim, um estilo de vida ativo, contribui para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano, trazendo melhorias na qualidade de vida. Criança precisa de orientação, cuidado e atenção, mas não esqueça que eles não são adultos em miniatura!