PALAVRA DO ESPECIALISTA

Palavra do especialista: Chás - hidratam, regeneram e fazem bem à saúde

A ingestão consciente desta bebida pode ser uma excelente aliada para o bom funcionamento do seu organismo, contanto que você saiba identificar as propriedades e indicações de cada um

Palavra do especialista: Chás - hidratam, regeneram e fazem bem à saúde Existem chás digestivos, calmantes, diuréticos, emagrecedores e laxativos
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Tradicionalmente apreciado como bebida, o chá é considerado um grande elixir que traz inúmeros benefícios à saúde. Por outro lado, apesar dos cientistas terem dedicado esforços ao entendimento dos efeitos desta bebida sobre o organismo, ainda não foi possível chegar a um consenso. Diversos estudos têm sugerido que o chá possui propriedades benéficas muito importantes, como por exemplo: elementos com ação anticancerígena, elevação do metabolismo, além de auxiliar na função do sistema imunológico e minimizar o estresse. No entanto, grandes precauções se fazem necessárias em relação a estas armações.

No que tange ao perfil do chá, todos os tipos têm praticamente as mesmas substâncias, porém, em concentrações muito diferentes devido aos processos de preparação. As substâncias presentes no chá exercem efeitos benéficos se ingeridas em pequenas quantidades, fazendo valer a regra de que o consumo em excesso – ou ainda da bebida mal conservada ou mal preparada – resulta em efeitos negativos para a saúde. Além das virtudes medicinais do chá que já são de conhecimento milenar, especialmente o efeito estimulante, os cientistas têm observado propriedades terapêuticas e cosméticas ligadas ao seu consumo regular. Este é um fato bem descrito quando referenciado ao chá verde, atualmente considerado um aliado da saúde por ser rico em bioflavonóides*.

Chá verde

O chá verde ajuda a diminuir as taxas de colesterol e possui substâncias ativadoras do sistema imunológico. Cientistas têm defendido a ideia que consumir chá verde regularmente ajuda a prevenir alguns tipos de câncer, artrose, aterosclerose e outras doenças degenerativas. As propriedades deste tipo de chá na prevenção do câncer vêm do fato que ele é rico em bioflavonóides* e catequinas*, que bloqueiam as alterações celulares que dão origem aos tumores. Além de conter manganês, potássio, ácido fólico e as vitaminas C, K, B1 e B2, o chá verde ajuda a prevenir doenças cardíacas e circulatórias por conter boa dose de tanino*, assim, sua ingestão diária auxilia a diminuir as taxas do LDL (colesterol ruim) no sangue. Mas as boas notícias não acabam por aí: o chá verde acelera o metabolismo e ajuda a queimar gordura corporal.

Auxílio na queima de calorias

Um dos estudos que suportam esta teoria foi realizado na Suíça com três grupos de pessoas que seguiram a mesma dieta. O resultado: o grupo que recebeu chá verde teve aumento de 5% na queima calórica em relação aos outros dois grupos pesquisados. Outro estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition demonstrou que o extrato de chá verde possui altas concentrações de antioxidantes como catequina*, polifenóis* e diversos compostos, incluindo cafeína, que podem aumentar a utilização de energia muito acima dos efeitos da cafeína pura. Pesquisadores acreditam, ainda, que o hábito de beber chá ao invés de café é um dos fatores responsáveis pelo menor índice de infarto em países do Oriente.

E como se não bastasse, comprovou-se também que as substâncias presentes no chá verde ajudam a prevenir cáries, têm ação anti-inflamatória e antigripal, ativam o sistema imunológico e regeneram a pele.

 

Faz bem para a pele

Na área da dermatologia, é correto afirmar que o chá verde pode ser eficiente para a proteção contra os efeitos nocivos do sol. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Nova Jersey demonstrou que o chá, transformado em creme, melhora o sistema de defesa das células da epiderme contra os raios ultravioleta do tipo B – aqueles responsáveis pelo avermelhado da pele. Ao reduzir a inflamação causada por essa radiação, o chá verde aumentaria a proteção contra o câncer de pele. Esta descoberta pode ser o ponto de partida para a produção de uma nova família de loções.

Propriedades antioxidantes

O interesse nos efeitos do consumo de antioxidantes fenólicos dietéticos no estresse oxidativo, induzido pelo exercício, tem sido foco de pesquisas recentes e os resultados sugerem que o consumo regular do chá verde melhora os mecanismos de defesa antioxidante em praticantes de exercício resistidos (com peso). Este chá também pode reduzir a manifestação de danos teciduais induzidos pelo esforço, possivelmente por meio da neutralização da ação danosa de radicais livres.

Resumindo, sugere-se que: alimentos e bebidas ricos em polifenóis*, como por exemplo o chá verde, podem oferecer proteção contra o dano oxidativo induzido por exercícios e a orientação para esportistas deve ser enfatizada.

Chá de Camellia Sinensis

Existem princípios curativos e regeneradores presentes no chá de Camellia Sinensis que enriquecem os cosméticos prometendo recuperar o viço da pele e dos cabelos. É possível dizer que esta espécie dá origem a inúmeros chás diferentes, de acordo com as condições de cultivo, coleta, preparo e acondicionamento das folhas.

Tanto que as indústrias de cosméticos incluem os extratos das folhas em fórmulas de produtos como cremes e loções. Tais produtos podem ser divididos em quatro categorias distintas: chá branco não fermentado, produzido das mais tenras folhas (mais raro e caro); chá verde (levemente fermentado), chá preto (bem fermentado e forte) e o chá oolong (com fermentação mediana, basicamente ficando entre o chá verde e o preto, mas com características degustativas geralmente mais próximas ao chá verde).

As substâncias presentes na Camellia Sinensis também promovem a mobilização de reservas de gorduras e são eficazes no tratamento de celulite e gordura localizada. Esta planta tem sido extensamente estudada e os primeiros resultados já revelaram a presença de propriedades capazes de combater úlceras, espasmos musculares, hipertensão, apatia e certas infecções bacterianas. Sem contar que é rica em tanino, substância com funções anti-séptica e adstringente, que é extremamente positiva para a pele sendo indicada também para limpar e equilibrar peles oleosas.

Os mais populares

Os chás mais populares são os de alecrim, alfazema, arnica, camomila, catuaba, erva cidreira e doce, hortelã, jasmim, carqueja, menta, malva e maracujá. Porém, o chamado “chá verdadeiro” é aquele comentado acima, proveniente da planta Camellia Sinensis. A farmacobotânica descreve diversas ações para diferentes chás, ou seja, digestivos, calmantes, diuréticos, emagrecedores e laxativos. Os digestivos são aqueles que favorecem as secreções gástricas e a digestão como: boldo, camomila, erva-doce, cascas de laranja, cascas de abacaxi. Entre os chás com ação de calmante, que contém substâncias que agem como tranqüilizantes naturais e indutores do sono, destacam-se a melissa, sementes de maracujá doce, erva-cidreira, alfazema e camomila. Entre os diuréticos, que são aqueles que auxiliam no funcionamento dos rins, diminuem inchaços e podem ajudar no tratamento da hipertensão arterial, estão o chapéu-de-couro, rosa-mosqueta, folha de abacate, quebra-pedra e cavalinha.

E, porém, há também o chá emagrecedor, que tem ação termogênica e pode auxiliar na perda de peso. Mas é preciso tomar cuidado e passar longe dos chás laxativos.

Os perigos dos chás laxativos

Uma prática que tem se tornado bastante comum é o uso indiscriminado e abusivo de chás de ervas com estes efeitos. A maioria das pessoas tende a achar que tudo que vem das plantas é natural e não faz mal. Porém, as ervas nem sempre são inofensivas. O abuso na utilização de chás com propriedades laxativas pode causar algumas doenças. Pesquisas apontam que 40% dos pacientes que fizeram uso de laxantes e chás laxativos, com frequência igual ou superior a 3 vezes por semana e por mais de um ano, tiveram lesões intestinais, reveladas por exames de Raio X.

Além disso, o uso destes chás provoca desequilíbrio na microbiota intestinal (bactérias benéficas e maléficas que habitam nosso intestino), prejuízo no sistema imunológico, na produção de neurotransmissores e na absorção de nutrientes, ou seja, é preciso estar atento!

Consumo inteligente

Quem pretende saborear esta bebida que já está sendo considerada medicinal, vale lembrar: até mesmo a simplicidade do chá não dispensa alguns pequenos cuidados especiais. É recomendado guardá-lo bem acondicionado em local fresco e seco e, na hora do preparo, passar água fervente no bule e nas xícaras. Para o chá verde, especialistas aconselham que a água esteja um pouco abaixo da fervura e, de preferência, nada de acrescentar açúcar. Preparar a bebida é simples: basta fazer uma infusão com uma colher de sopa rasa da erva para cada xícara de água “quase” fervente.

*Saiba mais

Flavonóides: são compostos químicos com propriedade antioxidante que ajudam a neutralizar os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento celular precoce. São encontrados naturalmente em certas frutas, vegetais, chás, vinhos, nozes, sementes e raízes.

Bioflavonóides: são pigmentos naturais, encontrados nas frutas e vegetais que trazem inúmeros benefícios à saúde potencializando

a ação antioxidante de outros compostos.

Polifenóis: Compostos químicos do chá que auxiliam na eliminação de gorduras.

Catequinas: é um nutriente pertencente à família dos polifenóis exercendo uma potente ação antioxidante. É encontrado em diferentes formas e apresenta propriedades farmacológicas importantes não havendo referências de contra-indicações do seu consumo.

Tanino: (do francês tanin) é um grande composto polifenólico de origem vegetal com atividade antioxidante e seqüestradora de radicais livres.

 

Prof. Dr. Carlos Alberto Silva

Especialista

Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba.

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