A deficiência de ferro é considerada uma das doenças nutricionais de maior prevalência, atingindo mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo. Muitos estudos em crianças, principalmente com faixa etária inferior a cinco anos, demonstram que a anemia existe por deficiência de ferro entre outras alterações, a baixos índices em testes de desenvolvimento mental e de atividade motora, um fator que pode levar a sequelas irreversíveis, mesmo na presença de tratamento adequado. Prejudicando o crescimento, aumentando risco de infecções, diminuindo o rendimento do aprendizado. A anemia contribui para a queda da capacidade geral de desempenho do indivíduo, muitas vezes na fase inicial da vida, do desenvolvimento e do crescimento saudável.
A dieta desempenha papel crucial no desenvolvimento da anemia ferropriva. Nas regiões em que a prevalência da anemia é alta (maior de 40%), a causa mais comum é a deficiência de ferro dietético, segundo a Organização Mundial de Saúde, OMS. Embora o ferro esteja presente em muitos alimentos, grande parte da dieta é composta por ferro de baixa biodisponibilidade como os cereais e as leguminosas e, além disso, após o desmame, muitas vezes a introdução do leite de vaca e sua manutenção prolongada, em detrimento de outros alimentos, são fatores importantes que levam à instalação da anemia ferropriva nos primeiros anos de vida.
A anemia por carência de ferro tem sido relatada com frequência na infância, principalmente até o segundo ano de vida, quando o crescimento acelerado depende de maior quantidade desse nutriente. A dieta nesta etapa de vida constitui-se, da fase de introdução de um maior grupo de alimentos como: leite, cereais e frutas, levando à ingestão inadequada de ferro, o que provoca mobilização das reservas da criança, levando a uma deficiência de ferro. O abandono muito cedo do aleitamento materno, a dieta de transição inadequada, somados à elevada velocidade de crescimento, tornam as crianças, abaixo de dois anos de idade, o grupo de maior risco para anemia na faixa etária pediátrica.
O estímulo ao aleitamento materno é de suma importância na prevenção da deficiência de ferro. Crianças nascidas com peso adequado, e com aleitamento materno exclusivo, não necessitam de suplementação com ferro, uma vez que raramente seus estoques estão depletados antes do 6º mês de vida. Após o desmame e com a introdução de alimentos sólidos na dieta, deverão receber aporte através de suplementação de ferro, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria ou por meio de fórmulas lácteas enriquecidas. A OMS preconiza que a deficiência de ferro deve ser combatida através de educação alimentar associada a medidas de aumento do consumo do mineral, suplementação e fortificação de alimentos com ferro.
O que é ferro na dieta?
O ferro tem várias funções no nosso corpo, a mais importante é, como componente da hemoglobina. Sem o ferro necessário para levar o oxigênio, nossas células não seriam capazes de executar todas as funções essenciais da vida e acabariam morrendo. As diferenças entre ferro heme e ferro não heme refere-se principalmente a biodisponibilidade do ferro presente nos alimentos. A biodisponibilidade é a capacidade do organismo de absorver e utilizar o ferro, a vitamina C potencializa a absorção do ferro, pois atua como carregador do nutriente para o organismo. A presença dela no organismo torna o ferro dos alimentos mais biodisponíveis, ou seja, os alimentos que são fontes deste mineral são melhor aproveitados pelo organismo na presença da vitamina C.
ferro heme apresenta uma alta biodisponibilidade e está presente nos alimentos de origem animal. A carne proporciona muito mais ferro do que o feijão, isso ocorre porque o ferro da carne é heme, logo é altamente biodisponível, a absorção do ferro heme pelo organismo é de 15 a 35%. O ferro não heme é aquele que é menor absorvido pelo organismo e está presente nos vegetais verde escuro, cereais, leguminosas e raízes. A absorção do ferro não heme varia de 2 a 20%, aliado aos alimentos que são fontes de vitamina C, o ferro não heme torna-se melhor biodisponível para o organismo. Vale ressaltar que não significa que os indivíduos que não consomem carne terão anemia, isso não é verdade. No entanto, estes indivíduos devem consumir outras fontes de ferro aliados a vitamina C.
Atenção às recomendações!
* Dieta equilibrada e rica em ferro é fundamental para prevenir a anemia por deficiência de ferro;
* A adesão ao tratamento é a melhor forma de restabelecer os níveis normais de ferro no sangue;
* Alimentos enriquecidos com ferro como leite, iogurte, pães, cereais matinais e feijão, ajudam a suprir as necessidades diárias, que variam de acordo com a idade e o sexo;
* O ferro é mais bem absorvido em jejum, seguido por alimentos ricos em vitamina C, como laranja, goiaba, morango, limão, agrião, pimentão, vegetais verde escuros, e alimentos amargos como alcachofra, jiló e agrião.
Alguns exemplos de alimentos ricos em ferro são:
- Fígado de boi
- Peixe
- Gema de ovo
- Feijão
- Lentilha e ervilha
- Beterraba
- Folhas escuras como brócolis, espinafre, couve e agrião
Tratamento é a saída
A primeira medida no tratamento da anemia ferropriva é determinar e corrigir a causa da deficiência de ferro. Uma vez constatada a carência, é importante recomendar uma dieta rica nesse nutriente e prescrever uma suplementação adequada para cada indivíduo.
A anemia por deficiência de ferro deve ser tratada com medicamentos (suplementos de ferro). Agora quando a anemia já está instalada ela não é revertida através da dieta, nesse caso é necessário procurar um médico e tratar a deficiência.
Alguns estudos têm apontado uma considerada melhora no estado nutricional de crianças após a utilização de terapia com ferro ou de suplementação em crianças previamente anêmicas. A fortificação de alimentos é outra alternativa de intervenção, recomendada principalmente para localidades onde se encontram elevadas prevalências, como é o caso do Brasil. Estudos feitos com o leite em pó integral, enriquecido com ferro e vitamina C, demonstrou a eficácia deste tipo de intervenção.
A eficácia da suplementação depende da motivação da população alvo para seguir a indicação da suplementação ao longo do tempo e o controle de efeitos colaterais como náuseas, diarreia, cólicas abdominais e obstipação, muitas vezes produzidos com a ingestão do suplemento a base de ferro. A dose terapêutica recomendada é de 3mg a 5mg/kg/dia de ferro elementar, podendo ser fracionada e dois momentos. A sua prevenção deve ser prioridade, através da promoção de ações de saúde, com incentivo ao aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida, imunização, suplementação de ferro ou fortificação de alimentos.
Danilo Hessel Sanches do Prado Nutricionista Clínico e Esportivo
Graduado em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, Especialista em Nutrição Humana e Terapia Nutricional pelo Instituto do Metabolismo (IMEN) CRN3 31329
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