PALAVRA DO ESPECIALISTA

Desacoplar para gastar mais energia e viver mais

Conheça a fundo a relação do gasto energético através do exercício e a longevidade, e mexa-se muito!

Desacoplar para gastar mais energia e viver mais Existem algumas estratégias para estimular o gasto de ATP e gerar calor: o exercício físico, o tipo de composição da dieta, os compostos bioativos pr
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Atualmente existem várias estratégias para emagrecimento, porém muitas delas não são eficazes e acabam surgindo de forma esporádica pela mídia. Há poucos relatos de que emagrecer pode estar associado à longevidade. Dessa forma, ao longo da descoberta científica, foi documentado que o gasto energético pode estar sim aliado à longevidade. Mas de que forma?

 Existe uma classe de proteína intracelular com funções mitocondriais, mais precisamente relacionada com transportes de ânions que atuam como desacopladoras da fosforilação oxidativa por dissipação do gradiente de próton através da membrana, desviando ATP da síntese e utilizando-o para produzir calor e eliminar a energia extra ou excedente, podendo desta maneira, ser importante na regulação do peso corporal.

 Essa proteína intracelular leva o nome de UCP (proteína desacopladora mitocondrial), e é subdividida em UCP1, UCP2 e UCP3, presentes em dois principais tecidos metabolicamente energéticos como, tecido adiposo marrom e músculo esquelético. As UCPs têm como função produzir calor através da utilização de ATP como energia.

  Existem algumas estratégias para estimular o gasto de ATP e gerar calor: o exercício físico, o tipo de composição da dieta, os compostos bioativos presentes nos alimentos e a temperatura ambiente, portanto, estas estratégias podem auxiliar no balanço energético negativo e no combate a obesidade.

 

Com vocês: as estratégias para estimular as UCPs

  O exercício físico tem a capacidade de secretar uma miosina chamada irisina, responsável em promover aumento da taxa metabólica, escurecimento dos adipócitos, biogênese e desacoplamento mitocondrial, especificamente por aumentar a expressão de uma proteína chamada PGC1-α (regulador do metabolismo energético e biogênese mitocondrial) no músculo esquelético e tecido adiposo marrom. Estas mesmas características foram evidenciadas em ratos submetidos ao frio. Logo, tanto o exercício como temperaturas extremas (frio e/ou calor), são reguladoras da função mitocondrial, com isso surge à hipótese de que os africanos (residentes em ambiente com alta temperatura) são os melhores corredores por ter uma quantidade e funcionalidade mitocondrial melhorada.

  Atualmente foi revelado que alto nível de niacina (vitamina B3) causa um aumento no fator de transcrição da proteína PPARγ no músculo esquelético (coativador da PGC1-α e β), no entanto, é digno de nota que a vitamina B3 em doses farmacológicas (750mg/kg) exerce atividade hipolipidemiante (redutor de lipídeos).

  Outro nutriente é o resveratrol, muito bem conhecido por seus efeitos benéficos na função cardiovascular, atualmente está sendo uma molécula importante na pesquisa contra a obesidade, por demonstrar diminuição na gordura corporal em animais e humanos. Este nutriente pode inibir a adipogênese em pré-adipócitos, aumentar a apoptose de adipócitos maduros e estimular também a lipólise. Exemplificando, o resveratrol inibe a formação de tecido adiposo e estimula a sua eliminação.

  Em um estudo onde avaliou-se o consumo de leite em resposta a grande concentração de BCAA, em especial a leucina, os resultados mostraram ativação da SIRT1, estimulando a biogênese mitocondrial tanto nas células adipócitas quanto nas células musculares. Logo, o autor do estudo conclui que a leucina e o cálcio presentes no leite, modulam a expressão das UCPs, através das proteínas intracelulares SIRT1, PGC1-α, NRF-1, UCP3, COX e NADH sinalizando a oxidação de ácidos graxos.

  No estudo onde se utilizou a suplementação com CLA, os resultados mostraram que os animais suplementados com alta dose deste suplemento apresentaram aumento da UCP3, da carnitina e da CPT-l, indicando também um aumento na oxidação de ácidos graxos no músculo esquelético.

  O consumo de óleo de oliva induz a expressão das UCP1, 2 e 3 no tecido adiposo marrom interescapular. Um efeito análogo foi observado no músculo gastrocnêmio. A conclusão do autor do estudo deu-se ao efeito positivo do azeite de oliva na regulação das UCPs.

  E além de clássicos já descritos na literatura com funções no aumento do gasto energético: Laranja Amarga (Citrus aurantium/sinefrina), substituto da Ma Huang (efedra; banido nos EUA e outros países como Brasil), Guaraná (paullinia cupana), Forskolin (Coleus Forskohlii), Garcinia Cambogia (HCA), Cafeína, Chá verde, Quercetina, Isoflavona de Soja, Kaempferol (encontrado em brócolis e espinafre), Pimenta Vermelha, Gengibre, Mostarda (capsinoids), Cálcio via efeito no plasma (calcitrol; combinado com vitamina D a termogênese é maior), Proteína do Peixe, da Soja e do Soro de Leite (whey protein), Triglicerídeo de Cadeia Média (MCT) e Óleo de Cártamo (ácidos graxos poli-insaturados) ou ácido docosahexaenóico (DHA).

 

Longevidade explicada

  A ciência relaciona maior longevidade com menor produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ERO) e quanto maior é o desacoplamento, menor é a produção dessas espécies. Isso tem sido chamado de ‘desacoplar para sobreviver’ hipótese de Brand, professor de Cambridge. O professor também afirma em suas publicações que o consumo de oxigênio pelo exercício é insuficiente para gerar radicais livres (RL) a ponto de prejudicar o organismo, isto por conta do potencial de membrana baixo durante a prática física.

 Quanto maior a razão metabólica oxidativa, maior o fluxo de elétrons e liberação de calor, e isso acontece sem aumento da produção de ERO durante o exercício. Portanto, se manter em movimento significa menos produção de ERO, levando em consideração de que o aumento nos RL está mais relacionado com a interrupção do exercício do que com a realização. Durante o exercício os antioxidantes do corpo dão conta de neutralizar os RL, todavia após o exercício há uma queda nesses antioxidantes, levando a uma produção maior de RL. Contudo, é essencial o consumo de nutrientes após exercícios físicos, de preferência que contenha antioxidantes. A dica é: mexa-se e viva mais!

Carlos Eduardo Martins

Nutricionista

CRN - 34187-SP

Bacharel em Nutrição. Com Especialização em Nutrição Esportiva e Estética. Mestre em Ciências no Laboratório de Nutrição e Esporte da USP. Doutorado em andamento no Laboratório de Nutrição e Fisiologia Aplicada da USP. Nutricionista em Consultório Particular. Carlos Supera a Lacuna entre a Ciência e a Aplicação No Mundo Real. Ele aplica as Pesquisas mais Recentes na sua Prática de Redação e Consultoria. Para se Manter Saudável, Executa Treino com Pesos Aliado ao Jiu-Jitsu e uma Dieta Especifica.

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