A maioria dos suplementos alimentares nunca sai de moda. Substâncias como whey protein, BCAA, creatina, dextrose e uma infinidade de outros produtos, permanecem sempre em alta com o público. Já outros suplementos desaparecem de repente, como num passe de mágica. Quase ninguém mais fala deles, e pouco ainda se vê à venda nas lojas especializadas. Se estivermos falando de mercado brasileiro, então, não é nem necessário cair no esquecimento: as regras da ANVISA costumam ser tão rígidas que alguns suplementos podem, de uma hora pra outra, serem banidos e sumirem das prateleiras. Outros acabam saindo do gosto do público por outras razões: preços abusivos, falta de informação, volume de importação insuficiente, entre outros fatores.
Um desses suplementos "desaparecidos" é, justamente, o Ácido beta-hidroxi-beta-metilbutírico, mais popularmente conhecido como HMB. Muito famoso nos Estados Unidos na década de 90, chegou com força ao Brasil por volta do ano 2000 e era a mais nova promessa de ganho de massa muscular. Todos queriam experimentar esse nova cápsula revolucionária, alguns diziam ser o melhor suplemento de todos, outros alegavam ser um tremendo desperdício de dinheiro. Independente da realidade, o fato é que, após alguns meses de febre, a procura pela substância diminuiu. A maioria dos atletas que iniciou o uso concordava que, apesar de inovador, o HMB não produzia nenhum resultado incrível, se comparado com o preço que era cobrado.
Os tempos, no entanto, mudaram. Nos últimos dez anos, exaustivas pesquisas foram feitas com essa esquecida substância. Diversos testes foram realizados, envolvendo os mais respeitáveis profissionais e os mais sérios laboratórios. Nesse meio tempo, o preço do produto caiu muito no mercado americano, tornando-o ainda mais acessível. Sua eficácia parece ter sido comprovada de uma vez por todas, principalmente quando combinado com outros suplementos.
Mas, afinal, o que é e como funciona o HMB?
Há muito tempo é sabido que os aminoácidos de cadeia ramificada, mais conhecidos como BCAA, têm inúmeras funções no metabolismo, auxiliando atletas e praticantes de atividade física nos mais diversos aspectos. São três: leucina, isoleucina e valina. Destes, a leucina é a mais utilizada pelo organismo, sendo uma de suas principais funções a síntese de estruturas proteicas. O HMB, sendo um metabólito da leucina, é justamente uma dessas estruturas.
Como essa substância afeta nossa massa muscular, de maneira geral?
Quando exercitamos, causamos pequenas lesões nas células do músculo e no tecido muscular, essas lesões acontecem principalmente por conta das repetidas séries com altas cargas a que submetemos nossa musculatura. O problema é que os danos causados às membranas celulares aumentam a necessidade de colesterol para a reconstrução das mesmas e, de forma a sintetizar esse colesterol, a célula precisa concentrar muita energia apenas nessa tarefa, deixando de lado outras funções específicas, como, por exemplo, aquelas responsáveis pelo seu crescimento, como a hipertrofia, até que toda a célula seja reconstruída. E essa necessidade por colesterol é ainda maior à medida que o músculo cresce! Ou seja: quanto maior a massa muscular, muito mais difícil mantê-la e muito mais fácil lesioná-la.
"O dano no tecido muscular causado pelo exercício físico, principalmente quando intenso, é o principal indutor do processo de ganho de massa magra. É necessário fazer o reparo desse tecido, formando novas estruturas musculares. Essa função é exercida em especial pelos aminoácidos, sendo um dos principais a leucina. A leucina está relacionada intimamente nesse processo de formação, reparo e aumento de tecido muscular, justamente por, entre outras funções, aumentar o estímulo da síntese proteica. O HMB também exerce tarefas semelhantes no organismo”, comenta o professor Pedro de Paula Leite Aguiar, especialista em bioquímica, fisiologia, treinamento e nutrição desportiva pela UNICAMP.
Estudos publicados ainda na década de 90 já demonstravam que o HMB auxilia na síntese do colesterol em células do sistema imunológico, glândulas mamárias e tecido muscular. Isso é especialmente importante, pois deixa claro que o HMB não só ajuda a reconstruir a membrana celular mais rapidamente, como previne substancialmente o catabolismo, implicando para o atleta um maior crescimento muscular.
Um estudo mais recente, publicado no The American Journal of Surgery, corrobora essa conclusão, demonstrando inclusive que o HMB também é benéfico para pacientes que fazem tratamento contra o câncer e têm dificuldade pra manter ou ganhar peso, justamente porque previne a quebra das proteínas.
Mas, na prática, será que é tão bom assim?
Pesquisadores da Universidade de Tampa, na Flórida, publicaram um estudo recente visando demonstrar os efeitos da suplementação com HMB. O estudo durou 12 semanas e seu objetivo era investigar o impacto dessa substância em força, massa magra e resistência muscular nos atletas testados. Para isso, foi dado aos indivíduos participantes cerca de 3g de HMB por dia. Os resultados foram surpreendentes: em média, houve um aumento de massa magra de 12,7%. A força dos indivíduos aumentou quase 1/4, subindo impressionantes 23,5%. Além disso, foram aplicados dois testes de resistência. Quando comparados ao grupo que usava apenas placebo, os atletas que receberam HMB conseguiram aumentos substanciais de performance, em torno de 21,5% e 23,7%, em média. Os pesquisadores foram enfáticos: a suplementação com HMB beneficia todo tipo de atleta, mas é especialmente eficiente àqueles de alto nível, como atletas de ponta ou militares de elite, que sofrem de catabolismo muscular mais frequentemente.
Resultados similares já haviam sido obtidos em outras pesquisas, conforme demonstra um estudo feito em 2001 por Ewa Jowko. Na ocasião, foram testados 40 homens que se exercitavam regularmente, mas não eram atletas de alto nível, divididos em quatro grupos: o primeiro usando apenas placebos, o segundo, apenas creatina, o terceiro apenas HMB e o quarto, creatina e HMB combinados.
Júlio Martin, pós-graduado em Exercício físico aplicado à reabilitação cardíaca e a grupos especiais, concorda com a ingestão diária de 3g de HMB para aumento no desempenho e melhora da qualidade muscular, mas lembra que outros estudos que levaram em conta períodos de até 7 semanas de uso não demonstraram diferenças significativas. E destaca, "Levando em consideração o alto custo do HMB no Brasil, a suplementação pode apresentar um custo elevado já que seus efeitos são melhor observados em períodos de 12 semanas ou mais." Ele também concorda se tratar de uma suplementação muito segura. "Até agora nenhum efeito colateral reconhecido foi relatado ou documentado por causa do uso de HMB, e isso é muito bom", ressalta.
Sendo o HMB um metabólito da leucina, se o atleta apenas aumentar o consumo desse aminoácido, conseguiria o efeito desejado?
Não há dúvida sobre os efeitos positivos do HMB no ganho de massa muscular e na redução do catabolismo. Todos os estudos confirmam se tratar de uma substância benéfica para o organismo e, acima de tudo, segura para o consumo.
Sem sombra de dúvidas, se o atleta optar por aumentar sua ingestão diária de leucina, haverá um aumento da produção do HMB pelo corpo. No entanto, não é garantia que haverá o resultado desejado, visto que a produção dessa substância específica é limitada pela ação de enzimas.
Vale a pena suplementar com HMB?
Derek "Beast" Charlebois é personal trainer, bodybuilder, e colaborador do site bodybuilding.com, um dos maiores sites do mundo especializado em suplementação e bodybuilding, tendo escrito mais de 50 artigos sobre diversos assuntos. Ele resolveu encarar o teste da suplementação com HMB e compartilhar sua experiência com o público. O resultado foi surpreendente: mesmo sendo um atleta de ponta, com altos índices de massa muscular e pouca gordura no corpo, em apenas quatro semanas de suplementação com HMB, ele conseguiu ir além: Beast ganhou quase 400g de massa magra, ao mesmo tempo que perdeu mais de 1kg de gordura corporal.
Conforme observado, as propriedades do HMB com relação ao aumento de massa muscular e diminuição do catabolismo são certamente benéficas. Podemos concluir, definitivamente, que o HMB é um suplemento excepcionalmente efetivo na fase de crescimento muscular, mas se torna ainda mais imprescindível quando o atleta está numa dieta de baixa caloria e precisa preservar sua massa muscular.
Fontes Consultadas:
Pedro de Paula Leite Aguiar: Especialista em bioquímica, fisiologia, treinamento e nutrição desportiva pela UNICAMP
Júlio Martin: Educador físico, pós-graduado em exercício físico aplicado à reabilitação cardíaca e a grupos especiais
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