Suplementos: Suco de beterraba como suplemento?

Carlos Eduardo Martins Graduado em Nutrição. Com Especialização em Nutrição Esportiva e Estética pelo Centro Universitário São Camilo/SP. Nutricionista na Empresa Clínica Esportiva em São Paulo. Mestrando no Laboratório de Nutrição e Esporte do Departamento de Alimentação e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo–USP

O nitrato orgânico apareceu na década de 1930 e sua primeira comercialização aconteceu em 1946 na Suécia. Hoje, este componente químico que recebe a formula NO3- tem aceitação em todo o mundo em diferentes formulações. Além disso, nos últimos anos a suplementação dietética de nitrato tem sido alvo de pesquisas em populações com diferentes modalidades.

A suplementação de nitrato tem sido utilizada como um modulador do metabolismo energético muscular e como um possível recurso ergogênico natural, com objetivo de melhorar a performance. Outros autores relacionam o nitrato com a prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes por estar relacionado com a redução robusta da pressão sanguínea, proteção contra danos da isquemia/reperfusão, inibição da agregação de plaquetas e preservação da função endotelial. Esses efeitos têm sido atribuídos ao nitrato inorgânico que é encontrado, particularmente, em grandes quantidades na beterraba e em vegetais verdes folhosos.

A suplementação de nitrato é feita na forma de nitrato de sódio ou suco de beterraba (500ml de suco de beterraba tem ~6.2 mmol de NO3- (nitrato)) e tem sido mostrado efeitos notáveis em indivíduos jovens e atletas saudáveis, incluindo a redução do custo de oxigênio durante a prática esportiva, melhorando a tolerância ao exercício e reduzindo a pressão sanguínea. Essa melhora da eficiência no exercício é consequência da conversão metabólica do nitrato inorgânico para o nitrato bioativo e, subsequentemente, óxido nítrico (NO).

Já é bem estabelecido na literatura que o NO tem um papel chave na regulação da pressão sanguínea, contratilidade muscular, diferenciação de células musculares e homeostase da glicose e cálcio. Tem-se observado efeitos benéficos em indivíduos com doença arterial periférica, seguido da suplementação dietética de nitrato. Efeitos estes, atribuídos ao aumento do NO proveniente do nitrato.

O metabolismo do nitrato se inicia na deglutição, onde o mesmo é quebrado na cavidade oral pela enzima salivar anaeróbia dando origem ao nitrito que após contato com ácido estomacal resulta na formação de NO, e alguns nitritos são absorvidos na circulação onde atuam como um conjunto de armazenamento para posterior produção de NO. A conversão de nitrito em NO acontece pelo complexo óxido nítrico sintetase em condições de acidose ou hipoxemia.

Digno de nota, o nitrato tem hipersensibilidade e fica expressamente vetado a utilização de antisséptico bucal e o uso de gomas de mascar durante o período da utilização do suplemento, pelo fato de que esses produtos são conhecidos por erradicar as bactérias orais que são necessárias para o início da conversão do nitrato em nitrito. De outra forma, para garantir a produção de NO no corpo todo, o aminoácido L-arginina é oxidado à L-citrulina pelo, também, complexo óxido nítrico sintetase na presença de oxigênio, NADPH, flavinas e biopterinas.

Este aminoácido é indicado no pós-treino (~4 horas), ocasionando a vasodilatação no músculo esquelético, aumentando o fluxo de sangue e nutrientes para o músculo, favorecendo a síntese de proteínas. Vale destacar que estudos apontam que a suplementação de L-arginina + nitrato não aumenta a concentração de nitrato no plasma, quando comparado a suplementação de nitrato na forma isolada.

A suplementação dietética de nitrato tem sido reportada em estender o tempo de exaustão durante exercícios de alta intensidade em taxa de trabalho constante, melhorando a performance em aproximadamente 1-2%, efeitos atribuídos ao volume de oxigênio e metabolismo energético. O efeito do nitrato ocorre sem mudança na concentração de lactato circulante, indicando maior eficiência no metabolismo aeróbio ou melhora do mecanismo de eficiência.

O nitrato tem efeito direto no metabolismo mitocondrial em tornar a produção de ATP mais eficiente em produzir exergia (energia útil) ao invés de anergia (energia transformada em calor; inútil). Tornando as mitocôndrias mais eficientes ao oxigênio. Outro fato interessante é que indivíduos que residem em altas altitudes, baixos, esguios e negros têm maior concentração de nitrato e são mais eficientes metabolicamente. Logo, estes estereótipos são melhores esportistas em exercícios aeróbios em comparação aos caucasianos altos.

Recomendações práticas do uso de nitrato como recurso ergogênico

Evidencias indicam que a suplementação de nitrato com 5-7mmol (aproximadamente 0,1mmol/kg de peso corporal) resulta no aumento significativo de nitrito no plasma por até três horas, associado aos efeitos fisiológicos tais como, diminuição da pressão sanguínea, redução da captação de oxigênio pulmonar durante a prática esportiva e melhor desempenho e tolerância ao exercício. Essa dose de nitrato pode ser facilmente alcançada através do consumo de 500ml de suco de beterraba.

Seguindo uma ingestão única de 5-6 mmol de nitrato, a elevação do nitrito no plasma pode se estender por mais 6-9 horas. Contudo, recomenda-se que a suplementação de nitrato seja realizada com aproximadamente três horas antes da competição ou treino. Vale ressaltar que existem possibilidades de doses elevadas não controladas de nitrato fazerem mal para a saúde.

Por esta razão, recomenda-se que os atletas explorem os possíveis efeitos ergogênicos deste suplemento na forma natural (Exemplo: suco de beterraba) em vez de opções farmacológicas. Lembrando sempre de conciliar a suplementação com a prescrição de um profissional nutricionista. Concluindo, a suplementação de nitrato é indicada em atividades recreacionais ou competitivas de alta intensidade e longa duração, objetivando aumento na eficiência máxima em exercícios aeróbios tanto com a suplementação de forma aguda ou crônica.

“O nitrato tem efeito direto no metabolismo mitocondrial em tornar a produção de ATP mais eficiente em produzir exergia (energia útil) ao invés de anergia (energia transformada em calor; inútil)”