A formação do sistema nervoso central (SNC) surge logo no início da gestação, entre a terceira e a quarta semana após a fecundação do óvulo. Nessa fase temos a formação da placa neural que mais tarde será o túbulo neural, com seu desenvolvimento completo entre a 24ª e a 28ª semana gestacional. O túbulo neural cresce e dá origem a novas três estruturas que serão às estruturas anatômicas principais em um adulto.Existem alguns processos importantes para que haja boa comunicação entre essas células. Um desses processos é chamado de mielinização, que é iniciado ainda no útero, próximo ao sexto mês de vida e se intensifica após o nascimento, por volta dos dois anos de idade, sendo essa constituída de proteínas e gorduras.
Essa camada, bainha de mielina, contribui para aumentar a velocidade de propagação do impulso nervoso, atribuindo maior eficiência na transmissão das informações. Deste modo, esse processo tem relação direta com a aprendizagem e desenvolvimento da criança. Outros dois processos são a hiperplasia, aumento da quantidade e a hipertrofia, aumento de tamanho das células neurais.
Por conta disso, esses períodos são os mais críticos e dependendo da intensidade, das alterações ou privações nutricionais, as consequências terão maior ou menor impacto sobre todo o organismo. Sendo assim, funções neurais básicas, como processamento de informações, percepção das sensações, como também execuções de tarefas motoras podem ser afetadas em diferentes extensões. Além disso, também podem sofrer impacto as funções cerebrais mais elaboradas, como memória, consciência e aprendizado.
Uma das maneiras de acompanharmos o crescimento cerebral adequado é através do perímetro cefálico. Devendo este ser avaliado em todas as consultas até os três anos de idade, já que até esta fase se dá o desenvolvimento do cérebro. Essa medida tem boa correlação com o estado nutricional durante o período mais crítico. Para termos uma ideia, o tamanho do cérebro de uma criança de aproximadamente um ano é de 83% do tamanho de um adulto.
Alguns autores sugerem que um perímetro cefálico pequeno e de baixo peso, reflete o padrão de crescimento fetal associado com mudanças em certos tecidos, incluindo vasos sanguíneos e pâncreas. Essas transformações ‘programariam’ a pressão sanguínea e o metabolismo da glicose e insulina, e as doenças cardiovasculares na idade adulta impactando em maior mortalidade.
Algumas deficiências na criança já estão bem relacionadas com o prejuízo do desenvolvimento como a falta do iodo que leva ao atraso mental, com a deficiência do ferro como um gatilho para as mudanças de comportamento, com a falta ou o excesso de vitamina A relacionada com a má circulação do líquido cérebro-espinhal, causando aumento da pressão no crânio e com a deficiência de magnésio associada à hiperatividade e a falta de atenção na escola.
ATENÇÃO À NEGATIVIDADE
Assim como a falta o consumo excessivo de alguns nutrientes ou alimentos também impactam negativamente nesse desenvolvimento. Entre eles podemos citar o consumo excessivo de gordura saturada (origem animal) e trans (industrializados) como causadores de prejuízos no aprendizado e na memória. Assim como altos níveis de colesterol podem impactar no acúmulo de uma proteína, B-amilóide, no cérebro causando perdas das funções cognitivas similares e Alzheimer. Outro fator de impacto negativo é o alto consumo de alimentos fontes de carboidratos refinados, farinhas e açúcares, causando elevação da insulina e interferindo negativamente na cognição.
Estudos também apontam que alterações na barreira intestinal permitem a entrada de proteínas não digeridas, glúten e caseína, impactando na produção de substâncias estimulantes, levando mais uma vez a hiperatividade e déficit de atenção. Além disso, a alta exposição/consumo, tanto no útero quanto na infância, de produtos industrializados, ricos em conservantes e corantes, podem apresentar danos no desenvolvimento cerebral e déficit de atenção. Sendo que a exposição a estes químicos durante o desenvolvimento fetal pode causar danos ao cérebro com doses muito mais baixas que no cérebro do adulto.
Dessa forma, o desenvolvimento do SNC pode sofrer influências de fatores genéticos, ambientais e nutricionais durante toda a sua formação. Assim, a alimentação da gestante e da criança deve ser pensada e ajustada com a finalidade de promover melhor desenvolvimento e de fornecer fatores de proteção para a vida adulta.
Os cuidados na gestação garantem uma melhora nos padrões alimentares da mãe. O incentivo ao consumo aumentado de peixes, fontes de ômega 3, como sardinha, atum e salmão, ou mesmo sua suplementação acompanhada auxiliam na melhor formação da bainha de mielina. Outros nutrientes também estão associados nessa fase, como a colina (gema de ovo e peixe), o iodo (peixes de água salgada), o folato (folhas verde escura e feijão) e o ferro (carnes magras). Já após o nascimento, o aleitamento materno exclusivo, até o sexto mês de vida, também auxilia no desenvolvimento e na proteção, já que encontramos um tipo de ácido graxo poli-insaturado de cadeia longa que é essencial para esta fase, além do vínculo afetivo.
Os alimentos que levam proteção para as crianças são: carboidratos integrais e de baixo índice glicêmico (arroz integral, batata doce, mandioca), bem como o aumento do consumo de alimentos fontes de ômega 3, como os citados anteriormente, para melhora dos sintomas de déficit de atenção e melhor funcionamento do cérebro de uma forma geral.
Outros alimentos importantes são os ricos em flavonoides (uva e cacau) que estão relacionados, em estudos recentes, com a proteção de neurônios e a estimulação da regeneração, aliados a uma dieta rica e equilibrada em alimentos naturais (frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas, azeite de oliva e carnes magras) e pobres em alimentos industrializados.
Assim, o consumo de uma variedade de alimentos in natura e o baixo consumo de industrializados durante essas fases garantem o consumo adequado de fontes alimentares importantes, auxiliando num melhor desenvolvimento do feto e da criança até a vida adulta.
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