O conhecimento no que diz respeito à importância da ingestão de água em associação a carboidratos (CHOs) sobre o desempenho físico, é comum entre atletas e indivíduos fisicamente ativos. A própria ingestão de água em associação a CHOs, se delineada de maneira correta, pode apresentar importante efeito na melhora da capacidade de defesa do organismo contra agentes patogênicos, capacidade esta, que pode se encontrar diminuída, após os esforços físicos.
Vários estudos têm associado o efeito imunossupressor do exercício e o aumento nos episódios de infecções do trato respiratório superior (ITRS) em atletas e indivíduos fisicamente ativos, enaltecendo a relação com que a literatura científica denomina de perturbações nos parâmetros imunológicos. Tais perturbações se instalam durante e principalmente após as sessões de exercícios, e, apresentam potencial para induzir a diminuição da capacidade defensiva do organismo de maneira transitória, sendo esse período, denominado pela literatura científica de “Janela Aberta”.
As alterações observadas na “Janela Aberta” são instauradas sob a contagem e funcionalidade das células do sistema imunológico, frente aos próprios agentes patogênicos, destacando-se alterações nas contagens de determinadas populações de células imunológicas do sangue como, aumento nos neutrófilos e diminuição nos linfócitos; redução da proliferação dos linfócitos e da capacidade de defesa de células específicas, no caso, os linfócitos Natural Killers.
Adicionalmente outros fatores como o aumento da morte celular dos próprios linfócitos; bem como a redução da imunidade da mucosa, em decorrência de diminuições nas concentrações séricas de anticorpos específicos, principalmente a imunoglobulina (Ig)-A são comumente observados na “Janela Aberta”. Todas essas perturbações corroboram de maneira integrada para o estabelecimento de uma menor capacidade de defesa do organismo em combater os agentes patogênicos.
Durante e após os exercícios de duração moderada (60 minutos) a prolongada (acima de 60 minutos), as perturbações nos parâmetros imunológicos podem ser atenuadas pela correta ingestão de CHOs, promovendo manutenção ou elevação da glicemia e consequente inibição do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal, culminando em menor liberação dos hormônios do estresse, durante e após o esforço. Dentre eles, o cortisol, hormônio cogitado como um dos responsáveis pelo efeito imunossupressor do exercício e aumentos nos episódios de ITRS.
Um adequado estado de hidratação, além de auxiliar na atenuação ou prevenção da elevação progressiva do trabalho miocárdico; da temperatura central e corporal; bem como da percepção ao esforço, pode adicionalmente conferir maior proteção imunológica, visto que a estimulação da secreção salivar pela própria manutenção do estado de hidratação a níveis ótimos, antes, durante e após as sessões de treinamento, reconhecidamente apresenta potencial para estimular a proteção da mucosa pela própria manutenção da concentração de Ig-A.
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Nesse sentido, do ponto de vista prático, a determinação da ingestão de água em associação aos CHOs sob o aspecto da manutenção da competência do sistema imunológico, deve ser determinada a partir da duração das sessões de treinamento bem como do intervalo de tempo entre o término das referidas sessões e a realização da refeição após as mesmas.
Considerando uma sessão de treinamento com duração de 60 minutos, com intervalo de tempo entre o término da sessão e o início da refeição subsequente sendo de 30 minutos, o montante de CHOs a ser ingerido deve ser de 84g, podendo ser utilizada a maltodextrina. A quantia de CHOs deve ser distribuída em um volume de 1400ml de água.
Essa combinação de CHOs e o volume de água confere uma bebida com concentração de 6% de CHOs, concentração esta capaz de proporcionar o efeito esperado frente à proteção do sistema imunológico e melhorar o desempenho físico, além de não ser capaz de induzir desconforto gastrointestinal.
Assim, a fim de minimizar a imunossupressão induzida pelo esforço e consequentemente a “Janela Aberta”, a ingestão de CHOs e do volume de água deve obedecer a seguinte distribuição:
I. 200ml especificamente 20 minutos antes (1o ingestão)
II. 200ml imediatamente anteriormente (2o ingestão)
III. 200ml a cada 20 minutos de esforço (3o/4o ingestão)
IV. 200ml imediatamente ao final (5o ingestão)
V. 200ml a cada 15 minutos de recuperação (6o/7o ingestão)
A literatura científica ressalta para o fato de que a distribuição de CHOs e o volume de água foi proposta, considerou especificamente uma sessão de treinamento com duração de 60 minutos e com intervalo de tempo entre o término e o início da refeição subsequente de 30 minutos.
PALAVRA DOS MESTRES
Vale ressaltar que as recomendações frente à ingestão de fluídos preconizam que: deve-se começar logo no início do esforço, com manutenção de volumes em intervalos regulares ao longo do mesmo e, adicionalmente em volumes suficientes para repor as perdas pela transpiração e diurese, sendo que, após o esforço, devem-se corrigir quaisquer perdas líquidas acumuladas.
Assim, sob o amplo aspecto da manutenção da competência do sistema imunológico, a correta ingestão de água em associação a CHOs mostra-se primordial, sendo necessário que, atletas e indivíduos fisicamente ativos sejam orientados por profissionais que comunguem da imediata necessidade de uma orientação responsável, ou seja, com fortes bases científicas.
A necessidade de orientação responsável se faz necessária, pois frequentemente ajustes são necessários, considerando aspectos biológicos individuais como percepção de desconforto gastrointestinal, tolerância à ingestão de fluídos, diferenciadas taxas de transpiração e diurese, distintas respostas ao estresse térmico decorrente da combinação da temperatura e da umidade relativa do ar e que fatalmente podem variar pelas próprias condições ambientais, bem como pelas diferenciadas condições de esforço.
Do ponto de vista do desempenho físico, deve ser dada importante atenção ao montante de CHOs, pois uma inadequação, ou seja, uma ingestão inferior a quantidade mínima necessária, pode não ser capaz de contribuir de maneira importante para a manutenção do conteúdo de glicogênio muscular e hepático. Por outro lado, a ingestão de CHOs superior à quantidade máxima necessária, pode induzir efeito rebote nas concentrações glicêmicas (hipoglicemia reativa ou hipoglicemia de rebote), favorecendo a instalação de um transitório estado hipoglicêmico; minimização da taxa de utilização de gorduras como substrato energético; bem como indução de aumento da utilização de glicogênio muscular e hepático durante os estágios iniciais do esforço, comprometendo o desempenho nos estágios finais das sessões de exercícios, primariamente quando de duração prolongada.
A ingestão de água em associação a CHOs, se bem orientada, além de contribuir para o desempenho físico, pode adicionalmente apresentar importante efeito na melhora da capacidade de defesa do organismo frente aos esforços físicos, contribuindo para uma melhor resposta frente às ITRS. Nessa linha de pensamento, atletas e indivíduos fisicamente ativos, também necessitam de uma adequada capacidade de defesa do sistema imunológico, pois, um fator a se considerar como indutor de não adesão, não continuidade ou queda no desempenho, é o quadro imunológico dos mesmos, e que, pode ser beneficiado por um adequado estado nutricional anteriormente, durante e após os esforços físicos.
Por fim, é importante reforçar que é necessário que atletas e indivíduos fisicamente ativos, busquem profissionais tecnicamente e eticamente habilitados frente à fisiologia do exercício, modulações na resposta do sistema imunológico frente as ITRS e estratégias nutricionais relacionadas, ou seja, responsáveis e com fortes bases científicas.
Prof. Dr. Carlos Alberto da SilvaDoutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba
Prof. Ms. Rodrigo Dias Doutorando (PhD) pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) Mestre pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)Professor de Pós Graduação da Universidade Estácio de Sá (UNESA), da Faculdade de Educação Física de Sorocaba (FEFISO), da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e do Centro Universitário de Itajubá (FEPI)Revisor dos Periódicos International Journal of Exercise Science, Brazilian Journal of Science and Movement, Health in Review e Esmefe ScientificPersonal Trainer
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