“Eu tinha 32 anos, era 03 de abril de 2009, quando voltava da cidade de Três Lagoas/MS, com um amigo que dirigia o carro. Chegando em Ribas do Rio Pardo, próximo a Campo Grande, um carro invadiu a pista contrária da estrada após tentar ultrapassar um caminhão. Não havia acostamento e muito menos nenhuma chance de podermos desviar daquele carro. Do lado direito havia um rio, na nossa frente o carro e do lado esquerdo um caminhão. Batemos de frente com o carro, sem chance de escapar.
Na hora da batida nosso carro pegou fogo. Por sorte, no carro de trás havia um cardiologista e antes mesmo do fogo tomar todo o carro, fui tirada dali. Esse novo amigo e outras pessoas presentes conseguiram apagar as chamas. Eu estava com o cinto de segurança grudado no meu corpo. Se não fosse tirada dali às pressas, hoje poderia nem estar contando essa história.
Nessa hora tinha certeza que meu amigo não tinha sobrevivido, porque o painel e o volante o atingiram em cheio. Em nenhum momento eu apaguei, me lembro de cada detalhe e agradeço todos os dias por estar viva. Sai do carro com uma fratura no braço e outra exposta na perna. Até aquele momento não sabíamos o que havia acontecido comigo internamente. O cardiologista que estava no outro carro nos levou para o hospital assim que conseguiram apagar o fogo. Eu cheguei inconsciente ao hospital e tive que ser reanimada.
Lá descobri que havia perdido 1,5m de intestino, metade do baço, quebrei as costelas do lado esquerdo e estas entraram em meu pulmão esquerdo, que ficou tomado de sangue e colabado, e além de fraturar o braço esquerdo tive que colocar duas placas com 16 parafusos. Também tenho pinos no pé esquerdo e tive uma ruptura no peitoral. Foram apenas quinze dias de internação. Deveria ter ficado mais, mas minha recuperação foi excelente e pude sair. Foram três cirurgias neste período.
Fui para a casa e minha luta recomeçou. Por ter perdido parte do intestino, não podia comer nenhum alimento fibroso, nem com lactose, ou seja, nada que liberasse meu intestino, porque eu já tinha vinte episódios de diarreia por dia. Foi uma adaptação terrível, pois tudo me fazia mal. No meu pé, fiquei um bom tempo com um fixador de dedos, por causa a fratura exposta. Tinha um corte enorme no meu tronco, feito pelas operações, então tinha que me precaver na hora de me movimentar, tudo era limitado, pois tinha medo de ganhar uma hérnia. Ao longo do tempo, fui reabilitando meu braço às funções de antes do acidente, enfim, foi uma mudança radical de vida.
Por recomendação médica, teria que parar por seis meses, para me recuperar legal, mas tive que voltar a trabalhar depois de três meses. Como moro com minha mãe, ela ajudava a cuidar do meu filho, que na época tinha 5 anos. Mas, como era autônoma, tinha todas as minhas despesas, então não podia ficar muito tempo parada, além de temer perder meus clientes. Trabalhava com estética, fazia drenagem, dava instrução de Pilates. Para voltar ao batente, lá fui eu com minha botinha ortopédica. Meus alunos de Pilates já conheciam as posições que executavam, então faziam sozinhos e isso me ajudou muito. Aos poucos fui auxiliando cada um deles e isso me ajudou a reabilitar meus movimentos.
Após quatro meses, já conseguia me movimentar. Como tinha que ir muitas vezes ao banheiro, contei muito com a compreensão dos meus alunos, além é claro da minha família. Fui reaprendendo como me segurar mais, como me comportar diante desta fragilidade. Antes do acidente, já estava achando que só o Pilates não estava sendo suficiente. Após quatro anos do acidente, decidi fazer a faculdade de Educação Física e partir para os treinos funcionais. Nessa época, fui orientada por uma amiga que competia nesse universo bodybuilding a entrar nessa vida.
Devido ao acidente estava fora de forma, mais gorda e cheia de celulite. Já na faculdade e com esse estímulo, conheci a musculação e comecei a inserir alguns equipamentos dentro do meu estúdio de Pilates. Comecei a me aprofundar mais e hoje já são dois anos praticando musculação. Era março (de quando) e eu entrei numa pilha de que conseguiria competir em maio daquele ano. Em maio, percebi que estava bem, mas não o suficiente para competir. Já tinha perdido uns dez quilos e uns 10% de gordura. Desisti deste campeonato e fui melhorando meu corpo.
Em junho, conheci um nutricionista que começou a investir em mim. De março a julho vi uma mudança significativa. Conquistei patrocínios e em novembro, já havia perdido 14kg, menos de 20% de gordura e finalmente estava preparada para subir em um palco. Nesta primeira experiência, peguei a quinta colocação e adorei participar. Amei essa coisa de palco e coreografia que a minha categoria Tonned exige. Todo mundo me elogiou, mas como a gente nem sempre está satisfeita, me sentia ainda muito magra, sem a definição considerável. Essa experiência foi à motivação que eu precisava para continuar. Mostrando minhas fotos de antes e depois, eu impressionava o pessoal e isso me ajudou muito profissionalmente. Aliás, o fisiculturismo hoje pra mim me auxilia a ter mais clientes.
Nessa fase toda, fiquei um pouco viciada em treino. Os raros dias em que não consigo treinar nem meia hora, por conta da minha agenda de atendimentos, me sinto culpada. Procuro treinar musculação e Pilates de segunda a sábado e faço aeróbicos aos domingos, acompanhada do meu filho. É o único dia que faço aeróbicos consideráveis. Se a minha agenda em algum dia lotar e não conseguir horário para treino, procuro fazer um HIT de 20 minutos. Me sinto muito feliz e agradecida”.
FOCO NO FUTURO
Francislaine Aretusa de Souza, ou simplesmente Fran Souza, é uma vencedora sem dúvida alguma. Ela mora em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e tem 38 anos. Como pode alguém sobreviver a tantas provações e hoje ser uma atleta de fisiculturismo, em pleno sucesso? Simples, ela tem determinação e optou pela vida, não desistiu diante das adversidades, uma verdadeira injeção de ânimo para quem pensa em desistir.
“Não foi nada fácil, mas graças a Deus, hoje estou muito bem, obrigada! Superar o acidente e entrar no fisiculturismo são divisores de água em minha carreira. Hoje tenho respeito e credibilidade, principalmente pelas redes sociais. Sei lá, parece que me sinto invencível, capaz de vencer qualquer coisa. As pessoas gostam de acompanhar minha evolução, o que faço, minha correria, elogiam e me colocam como inspiração e, quando precisam de algum serviço que ofereço na empresa, vão me procurar. É gratificante!”, conta a vencedora Fran.
Além disso, quem mais pode agradecer é a saúde de Fran. “Antes de entrar no esporte, eu vivia doente. Tinha muitas dores musculares, estava constantemente gripada e com alergias. Tomava relaxantes musculares, antialérgicos e anti-inflamatórios 365 dias ao ano. Estava constantemente inchada e meus rins estavam falhando. Depois que iniciei a suplementação e alimentação correta, isso sumiu. Praticamente, nunca mais usei este tipo de medicação”, revela.
Para se manter sempre em dia, Fran consome ômega 3, polivitamínico, vitamina C, whey protein isolada e hidrolisada, colágeno hidrolisado, creatina, glutamina, BCAA, pré-treino (arginina, betalanina, cafeína) e picolinato de cromo 200mcg. Além disso, investe há dois anos em musculação. “Ainda dou aulas de Pilates e desenvolvi uma metodologia minha, que batizei de Método Fran Souza de Hipertrofia e Modelagem Corporal. Estou agora divulgando a técnica e ministrando os cursos em outras cidades, além de Campo Grande”, conta.
Segundo ela, este é um trabalho de formiguinha. “O foco desse trabalho é sempre a hipertrofia, minha maior dificuldade. É um trabalho de formiguinha. A musculação me aumenta e me fortalece e o Pilates atinge musculaturas profundas, me dá um abdômen forte e definido, me dá flexibilidade e postura”, diz. “Tenho muita dificuldade em ganhar massa muscular. Não posso descuidar da dieta e dos treinos que eu já estou catabolizando. Assim, a balança desce rápido”, conta.
Quando Fran decidiu entrar no esporte, logo cortou açúcar, leite com lactose e derivados. Reduziu drasticamente refrigerantes, massas e carne vermelha. Hoje a carne vermelha se resume a patinho ou maminha e são apenas duas vezes por semana. Adicionou o peixe na dieta e tirou o arroz branco. Não era fã de chocolate, mas sim de doces mais gordurosos. “Hoje como uma vez por semana em off season, escolho o dia, mas nessas refeições, geralmente dou preferência pra pizza ou pipoca doce do cinema”, entrega. Para permanecer no foco, ela dá a dica: “Mantenha sua disciplina, seu foco e o seu autocontrole, que assim, a qualidade de vida vem dos nossos bons hábitos”, finaliza.
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Fran faleceu no dia 29/05/2017 em casa, após uma parada cardíaca.
Nossa solidariedade para os familiares e amigos dessa leitora tão querida que deixou sua historia em nossas paginas.
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