1) QUANDO O PROBLEMA OCORRE NO CÉREBRO
Tanto a epilepsia, quanto o Mal de Parkinson são doenças neurológicas. A epilepsia é uma síndrome caracterizada pela alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, indicando que um grupo de células cerebrais se comporta de maneira instável, causando reações físicas conhecidas como crises epilépticas.
O Parkinson, conhecido por comprometer os movimentos, principalmente dos idosos, é uma doença crônica e progressiva que atinge o sistema nervoso central. Sua causa está na morte de células do cérebro, principalmente da região da substância negra, a que produz dopamina, um neurotransmissor responsável pelo controle dos movimentos.
2) QUAL É O PERFIL DE QUEM SOFRE DE PARKINSON E EPILEPSIA?
“A etiologia do Parkinson ainda não está totalmente esclarecida, porém existe a combinação de fatores genéticos com fatores ambientais. A faixa etária mais comum do surgimento dos sintomas parkinsonianos é aproximadamente aos 60 anos, porém há indivíduos que são acometidos mais precocemente, ao redor dos 40”, explica a neurologista, Dra. Roberta Saba.
“Estudos indicam que a epilepsia afeta de 1 a 2% da população mundial (65 milhões de pessoas) acometendo pessoas de todas as idades, sexo, raça e classe social. No entanto, a sua incidência é um pouco maior em crianças e em idosos. No Brasil estima-se que existem 3 milhões de pessoas com esta doença”, explica o nutricionista Bruno Araujo, vice-presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE).
Para a neurologista Luciana Rodrigues, existem dois picos de ocorrência de epilepsia: “Na infância e nos idosos. As causas são variadas predominando na infância causas congênitas, doenças genéticas e erros do metabolismo e nos idosos, as doenças cérebro vasculares e as alterações degenerativas encefálicas”, explica a médica.
3) COMO ELAS SE MANISFESTAM?
No caso da epilepsia, as crises variam de alguns segundos para minutos, podendo ser acompanhadas por diversas manifestações clínicas como contrações musculares, mordedura da língua, salivação intensa, sensação de ‘desligamento’ por alguns segundos, movimentos automáticos e involuntários do corpo, percepções visuais ou auditivas estranhas e alterações transitórias da memória.
Apesar de ser mais comum na infância, qualquer pessoa pode ter crises epilépticas independentemente da idade, gênero, raça ou classe social. “As crises epilépticas podem ser provocadas, como por exemplo em uma criança com febre alta e podem ser não provocadas, ou seja, sem fatores clínicos precipitante. Se uma pessoa tiver duas ou mais crises não provocadas, terá o diagnóstico de epilepsia”, afirma a neurologista Luciana Rodrigues.
Os principais sintomas do Parkinson são bradicinesia (lentidão do movimento), tremor de repouso e rigidez. “No início o paciente pode se queixar de cansaço, principalmente ao final do dia, marcha mais lenta, maior tempo para executar tarefas do dia-a-dia, comprometimento da escrita ou surgimento de tremores. Alguns pacientes podem apresentar, antes das manifestações motoras, quadros de depressão, distúrbios do sono e alteração do olfato”, afirma Roberta Saba.
Segundo ela, nem todos os pacientes com doença de Parkinson apresentam tremor, existem pacientes com tremor de repouso predominante, porém em outros a bradicinesia e rigidez são os sintomas que predominam. “É importante ressaltar que para o diagnóstico da doença de Parkinson é obrigatória a presença da bradicinesia e não do tremor de repouso”, frisa a neurologista.
4) COMO VIVER COM O DIAGNÓSTICO DE PARKINSON?
Por ser manifestada inicialmente pelo cansaço físico, sonolência, movimentos lentos e rigidez, o paciente acometido pelo Parkinson pode viver de forma mais isolada, já que convive com muitas limitações diárias. Existe o preconceito diante dessa doença, pelo fato de ser incurável e requerer principalmente a atenção das pessoas mais próximas do paciente, no caso, a família. O carinho e o convívio familiar dos amigos podem auxiliar a vida desse paciente após o diagnóstico de Parkinson.
5) E PARA QUEM TEM EPILEPSIA?
O diagnóstico da epilepsia é clínico e deve ser resultante da conversa do médico com a pessoa acometida e um acompanhante que possa dar informações acerca do que ocorre no momento e após a crise, acrescidos ou não de alterações detectadas por exames complementares (eletroencefalograma, tomografia computadorizada e ressonância magnética do crânio).
“Mais de 70% das pessoas com epilepsias, quando devidamente diagnosticadas e tratadas, podem ter suas crises controladas com o uso correto das medicações antiepilépticas. Contudo, para que isso ocorra é fundamental o comprometimento do paciente e da família, uma vez que a suspensão abrupta do uso do fármaco (ou fármacos) aumenta imediatamente o risco de crises”, explica Bruno Araujo.
Segundo ele, a outra parcela dos indivíduos com epilepsia (30% restantes), mesmo utilizando de forma correta a medicação, não consegue obter controle sobre suas crises, portanto, essas epilepsias são descritas como de difícil controle medicamentoso ou refratárias ao tratamento, ou seja:
“Essas pessoas apresentam crises recorrentes por mais de seis meses, com frequência de uma ou mais crises por mês, aliadas a não eficácia dos medicamentos, apesar do uso de politerapia (associação de dois ou mais medicamentos) corretamente ministrada e utilizada. Para estes casos há alternativas de tratamentos como o cirúrgico, a estimulação do nervo vago (VNS) e até mesmo o uso de dietoterapia (dieta cetogênica)”, afirma.
6) O PRECONCEITO É AINDA PIOR QUE O TREMOR
Quem já teve uma crise epilética e convive com essa instabilidade, sabe bem o que está relacionado a essa crise. “O temor relacionado à epilepsia não está presente na condição clínica da doença, mas sim no preconceito que na maioria das vezes vem atrelado a esta condição. Apesar de vivermos em uma sociedade onde o acesso à informação está amplamente democratizado (internet) a epilepsia ainda hoje está cercada de preconceitos e de desconhecimento. Pesquisas apontam que o preconceito em relação à epilepsia chega próximo ao que existe em relação à Aids e desta forma a desinformação pode trazer dificuldades na inserção escolar, profissional, econômica, no lazer e em interações sócio-familiares”, afirma Bruno Araujo.
7) HÁ TRATAMENTO PARA O PARKINSON?
Quem sofre com a doença de Parkinson, deve estar ciente que ela não tem cura, porém há tratamento eficaz para o controle dos sintomas, melhorando a qualidade de vida destes pacientes. Há o tratamento medicamentoso e não medicamentoso e a associação dos dois deve ser considerada sempre.
“O tratamento não medicamentos é feito através da fisioterapia, fonoterapia e se necessário acompanhamento psicológico. Já no caso do tratamento medicamentoso, podemos utilizar drogas dopaminérgicas e não dopaminérgicas, a escolha do medicamento depende da fase da doença, se inicial, intermediária ou avançada, assim como da idade do paciente e atividades diárias e profissionais destes indivíduos”, explica a neurologista Roberta Saba.
8) JÁ PARA A EPILEPSIA...
No caso da epilepsia, o tratamento é realizado com medicamentos que devem ser tomados diariamente. Além disso, alterações dos hábitos de vida como sono adequado, alimentação regular e realização de exercícios físicos podem regular a excitabilidade excessiva cerebral. “Para os casos refratários, alguns pacientes podem se beneficiar de outras modalidades terapêuticas como a dieta cetogênica, a neuromodulação e as cirurgias para epilepsia”, explica Luciana Rodrigues.
O estilo de vida também pode ser um fator benéfico para o tratamento. “Hoje nós sabemos que a prática de atividade física é um fator coadjuvante importante para o controle das crises. Contudo, alguns limites devem ser respeitados na prática de esportes por pessoas com epilepsia”, diz o nutricionista Bruno Araujo. Para ele, esportes que coloquem em risco a vida do paciente, devem ser evitados, no caso de uma crise epilética ocorrer. Aqui são incluídos todos os esportes radicais, como alpinismo, pára-quedismo, mergulho com cilindro, automobilismo, entre outros. Os demais esportes são indicados, desde que sejam realizados com responsabilidade
Fontes consultadas:
Bruno Araujo: Nutricionista. Vice-presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE). Mestre e doutor em Neurociências pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).Dra. Luciana Rodrigues: Neurologista, especialista em Epilepsia.Dra. Roberta Saba: Neurologista, especialista em Parkinson.
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