PALAVRA DO ESPECIALISTA

Palavra do especialista: A leveza do balé - Do controle neural a perfeição dos movimentos

Em muitos espetáculos, realizados em comemoração à vida sociocultural, a dança muitas vezes está presente e através de movimentos ritmados, constitui um instrumento de transmissão cultural e comunicação entre povos

Palavra do especialista: A leveza do balé - Do controle neural a perfeição dos movimentos Crédito: BANCO DE IMAGENS

Dr. Carlos Alberto Silva Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba

Em muitos espetáculos, realizados em comemoração à vida sociocultural, a dança muitas vezes está presente e através de movimentos ritmados, constitui um instrumento de transmissão cultural e comunicação entre povos. Dentro da multiplicidade de aspectos em que se insere a dança, sua aplicabilidade também se faz presente enquanto recurso terapêutico, seja no aspecto físico ou psíquico, buscando propiciar bem-estar e qualidade de vida.

Uma análise científica primorosa sobre os movimentos do balé mostra as propriedades fisiológicas desta modalidade, que integra equilíbrio, controle motor, propriocepção e força muscular, gerando movimentos delicados, precisos e de profunda beleza. Toda a dinâmica envolvida no controle motor depende de diferentes aspectos, como: refinado controle neuromuscular, planejamento das ações e constante ajuste postural, lembrando que estes estão integrados com a resistência mecânica de suporte propiciada pelos ossos e articulações.

Desta forma, entende-se que os movimentos do balé resultam do desenvolvimento físico, do aprimoramento das técnicas e também do controle que as áreas cerebrais exercem sobre o corpo do bailarino. No aspecto neuromuscular, os exercícios exigem a execução de movimentos contráteis da musculatura, que devem propiciar a descarga de peso de forma adequada inclusive para estabilizar o tronco, permitindo liberdade de movimentos nos membros e precisão nos giros e saltos.

A beleza dos movimentos, a precisão e a leveza exigem do organismo uma expressiva coordenação por parte dos sistemas que coordenam a atividade motora, modulando a execução das ações de forma suave, precisa e refinada. Esta coordenação do movimento deve integrar velocidade, distância, direção, cadência e tensão muscular, sem desconsiderar as influências sinérgicas dos músculos antagonistas, permitindo a mobilidade e manutenção da postura através da constante estabilização da postura.

Para que o sistema nervoso central coordene esta rede de informações, é necessária uma retroalimentação efetiva envolvendo as cadeias neuronais da medula. O bailarino desenvolve suas habilidades a partir do refinamento da qualidade de informação que chega às áreas motoras do sistema nervoso central, região de onde emerge sistemas neurais que ativam a musculatura certa, na hora certa e dentro da intensidade com que o movimento exige, ou seja, iniciar, guiar e graduar os padrões de movimentos levam a harmonia e a perfeição.

A IMPORTÂNCIA DO EQUILÍBRIO

Já está bem estabelecido que o equilíbrio é a manutenção de um corpo na posição normal, sem oscilações ou desvios pela igualdade entre forças opostas, assim, o equilíbrio é uma condição dinâmica que envolve a combinação de estabilidade e mobilidade, sustentando o centro de gravidade em uma eficiente base de suporte.

No balé, o equilíbrio pode ser estável, condição em que o bailarino constantemente retorna o centro de gravidade, caso a sua posição anterior seja perturbada, ou a condição de equilíbrio instável, onde a base do centro de gravidade se desloca permanecendo no mesmo nível como ocorre no equilíbrio estável, ou ainda o equilíbrio estático, no qual se tem a capacidade de sustentar qualquer posição do corpo contra a força da gravidade, proporcionando a oportunidade de manter-se parado, qualidade ímpar expressa por bailarinos cujo movimento necessita em uma parada rápida.

Dentro de uma visão neurofisiológica, o equilíbrio somente é possível devido à integração de várias estruturas, como: o sistema motor onde se concentram grupos neuronais com múltiplas funções e local onde ocorre a coordenação da força muscular; o tônus muscular, além do processamento de informações sensoriais emitidas por sistemas receptores periféricos denominados de proprioceptores, que informam constantemente o sistema nervoso central, da posição dos segmentos corporais e dos movimentos do corpo.

Entende-se que a força muscular surge inicialmente de um sistema neurotransmissor que deflagra respostas nas fibras e culminam com a contração, produzindo tensão e gerando força, em resumo, a capacidade de gerar força depende das propriedades físicas do músculo, da eficiência neuromuscular, bem como de fatores mecânicos que determinam a quantidade de força a ser gerada. Dentre os fatores que determinam a força muscular, destacam-se a arquitetura das fibras, idade, sexo, tipo de fibra muscular e a velocidade de contração.

Por fim, o balé é uma arte que exige muitas habilidades físicas, um constante treino atlético e se expressa através de movimentos refinados que seguem o ritmo determinado pelas notas musicais. Tais movimentos chegam à perfeição quando a técnica aplicada envolve repetidas posições articulares, ativação de grupos musculares e um intenso controle das áreas motoras, as quais se ajustam rápida e automaticamente até que chegue a perfeição, condição em que se desenvolve uma memória motora.

Termino parafraseando Rubens Alves que sabiamente disse “Nas ciências, como no balé, é impossível prever o próximo passo”. Uma boa postura com pleno estado de equilíbrio muscular é a base que capacita a geração de movimentos sutis, mas perfeitos do ponto de vista anatômico, porém, para atingir a perfeição é necessário, treino intenso, persistência, dedicação e a devida suplementação.

AS POSIÇÃOS DA ARTE DO BALÉ

Demi-plié

Realizado em todas as posições de pés. Os joelhos são flexionados até o máximo acompanhando a linha dos pés, sem tirar os calcanhares do chão. Serve para dar impulso aos saltos e a outros passos

Tendu

Uma das pernas fica esticada à frente, ao lado ou atrás do corpo. As duas permanecem viradas para fora e os ossos dos quadris ficam sempre em linha com os ombros.Arabesque

Uma perna esticada atrás do corpo. A outra, pode estar esticada ou não. Os ombros e os quadris devem estar virados para frente.

Passé

O pé passa pela perna que está como apoio até chegar à altura do joelho. Forma a posição de número "quatro” no ar. As duas pernas permanecem viradas para fora.Attitude Uma das pernas fica no ar, ligeiramente dobrada e a outra fica como apoio. As pernas ficam viradas pra fora (a coxa da perna que está no ar fica levantada, com o joelho apontando pro lado).

Pirouette

Pode ser feita em várias posições, como no "passé", "arabesque"e "attitude". A perna de apoio deve estar firme para que o giro saia no lugar. Os braços e a cabeça ajudam a dar o impulso.Sissone

É um Salto em que as duas pernas ficam abertas no ar, enquanto o corpo se desloca na direção desejada. O impulso sai do "demi-plié" e as duas pernas saem do chão ao mesmo tempo. Pode ser feito para frente ("en avant"), para trás ("en arrière") ou para o lado ("à la second").

 

 

 

Prof. Dr. Carlos Alberto Silva

Especialista

Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba.

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