Juliana Cristina da SilvaNutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Personal Diet e Atendimento Nutricional CRN-3 31330
Diversos termos são utilizados para denominar crianças que apresentam alteração de comportamento com características de hiperatividade e/ou desatenção/impulsividade acima da média para a idade. Atualmente o termo utilizado é o TDAH, ou seja, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, por se tratar de um termo que consta no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV).
O TDAH é caracterizado, principalmente, pela disfunção em três áreas de funcionamento: sustentação da atenção, agitação excessiva e auto regulação de impulsos. Esses comportamentos aparecem na primeira infância e podem perpetuar até a idade adulta, ocasionado prejuízos sociais e no desenvolvimento acadêmico. Pelo DSM-IV é necessário ao menos seis sintomas, dentre os nove existentes, para receber o diagnóstico de TDAH. Para a confirmação do diagnóstico alguns sintomas devem estar presentes antes dos sete anos de idade da criança, além disso, ainda é necessário observar se esses interferem de forma negativa em alguma parte importante da vida, em casa, na escola ou no trabalho.Dessa forma, o real diagnóstico não é baseado somente na presença dos sintomas, mas sim na gravidade, na duração e na interferência no dia a dia.
Pesquisas realizadas para identificar a prevalência de crianças com TDAH sofrem muitas divergências, contudo a que levou em consideração os sintomas descritos no DSM-IV revelaram um número entre 3 a 7% das crianças em idade escolar com diagnóstico de TDAH e com maior frequência nos meninos. Na maioria dos casos há uma melhora significativa na adolescência, mas podem persistir na idade adulta.
O cérebro é composto por milhões de células e repartido em diferentes regiões, cada qual com uma função específica. A comunicação entre essas regiões é realizada por impulsos nervosos, por meio de substâncias químicas chamadas transmissores neurais. Estudos apontam que crianças detectadas com TDAH tenham prejuízos justamente nessas funções, especialmente na dopamina. Essa possui funções cerebrais importantes, incluindo as ligadas com o TDAH, como: comportamento e cognição, movimento voluntário, humor, sono, atenção e aprendizagem.
Quando em menor quantidade causaria uma diminuição na agilidade das atividades na área afetada. A causa do TDAH não pode ser atribuída a um único fator. Contudo existem claras evidências para o fator genético e a importância de fatores ambientais e gatilhos, até alimentares, para a expressão do transtorno, para aqueles que já apresentam a pré-disposição genética.
A INTERFERÊNCIA DOS ALIMENTOS
Em relação aos gatilhos alimentares já é conhecida a relação com reações de TDAH, como: corantes artificiais, aditivos químicos, conservantes alimentares, resíduos de agrotóxicos nos alimentos e carboidratos refinados. Além disso, temos que levar em consideração dois pontos importantes na criança, como: imaturidade fisiológica e tamanho das porções consumidas, comparadas com a dos adultos.
Os primeiros estudos que correlacionaram os aditivos alimentares (corantes e conservantes) e o desencadeamento da hiperatividade ocorreram em 1975. Esses estudos analisaram por meio de dieta de exclusão e retirada dos alimentos fontes desses aditivos, a melhora no comportamento hiperativo de pelo menos 30 a 50% das crianças que tiveram a dieta modificada.
Dos corantes considerados responsáveis podemos citar: tartrazina, amaranto, vermelho ponceau, eritrosina e caramelo amoniacal. Já nos conservantes podemos citar: os derivados do ácido benzoico, dos ácidos sulfídricos e os sulfitos. Alguns antioxidantes também podem estar correlacionados, como: BHT BHA. Já na classe dos corantes que realçam o sabor podemos citar o glutamato monossódico. Essas classes de aditivos são amplamente utilizadas nos produtos industrializados e na sua maioria, são os mesmos consumidos por crianças.
Em relação aos carboidratos refinados temos a digestão e absorção rápida de seu subproduto, a glicose. Dessa forma a glicose passa rapidamente para a corrente sanguínea fazendo com que o pâncreas secrete de forma rápida e intensa a insulina, ocorrendo a retirada da glicose do sangue sua formação de reservas de gordura, não fornecendo energia suficiente para o cérebro trabalhar de forma adequada.
Outras substâncias estimulantes e consumidas de forma direta e indireta são: a cafeína e a teofilina. Essas são encontradas no café, nas bebidas à base de cola, nos chás verde ou preto e são consumidas até mesmo por crianças menores de um ano de idade. Então como melhorar os sintomas da TDAH? Além da retirada dos alimentos fonte dos estimulantes citados, devemos aumentar o consumo dos alimentos que irão auxiliar na melhora do controle.
Dentre eles, podemos citar o consumo de alimentos in natura, a substituição dos alimentos fontes de carboidratos refinados por alimentos fontes de carboidratos complexos/integrais e a inclusão de alimentos fontes de ácidos graxos essenciais (Ômega 3) e fólico, ferro, zinco, cobre, magnésio, vitamina B6, além de antioxidantes naturais. Esses alimentos devem fazer parte da alimentação das crianças para promover uma boa nutrição cerebral. Então onde encontrá-los?
- Ômega 3: peixes gordos (sardinha, salmão, atum e arenque), nozes, semente de chia e linhaça.
- Ácido fólico: folhas verdes escuras (espinafre, couve, brócolis), cereais integrais (arroz, aveia), leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico), ovo e algumas frutas (abacate, manga, banana).
- Ferro: carnes vermelhas magras, leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) e salsa.
- Zinco: Ostras, oleaginosas (castanhas, nozes), carnes em geral, carboidratos integrais, semente de abóbora.
- Cobre: frutos do mar (ostras e lulas), vísceras orgânicas (rins e fígado), amendoim, oleaginosas (amêndoas e nozes), semente de girassol, cacau (chocolate com teores aumentados).
- Magnésio: Frutas (abacate, banana, uva), folhas verdes escuras (espinafre, couve, brócolis), oleaginosas (castanha, amêndoas e nozes), sementes (girassol e abóbora), beterraba, cereais integrais (arroz, aveia).
- Vitamina B6: vísceras orgânicas (fígado), carnes de aves, cereais integrais (arroz, aveia, gérmen de trigo), frutas (banana), peixe (atum).
- Antioxidantes: frutas vermelhas (morango, amora, melancia), abacate, tomate, couve flor, brócolis, gema de ovo, frutas cítricas (limão, laranja).
Dessa forma, a nutrição personalizada e balanceada pode oferecer respostas eficazes, pela retirada dos alimentos desencadeadores e pela correção das deficiências de nutrientes importantes, promovendo um melhor desenvolvimento cerebral e minimizando a dependência dos medicamentos utilizados para controle dos sintomas.
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