DANILO FERRAZ Coach, palestrante e escritor,especializado em Programação Neurolinguística aplicada a atletas de alta-performance
Nos tempos áureos da Gold´s Gym, era comum ver centenas de pessoas se aglomerando nos arredores da hoje lendária academia californiana para assistir os melhores fisiculturistas do mundo treinando. Aos olhos impressionáveis de um jovem, ver Arnold Schwarzenegger, em seu auge, esmagando uma última repetição no supino era como ver um semideus em ação.
Mas para a comunidade ítalo-americana residente da área, o gigante austríaco não inspirava tanto quanto Franco Columbu.
Com pouco mais de 1,65m, Franco era, peso por peso, um dos atletas mais fortes do mundo e suas proezas de força atraíam verdadeiras multidões de crianças e adolescentes em busca de um herói. Em uma certa tarde ensolarada de 1975, Franco iniciou seu treino de pernas com 230kg no agachamento – algo comum para o titã italiano.
Nesse dia, no entanto, Franco agachou com o peso nas costas e não conseguiu subir de volta. Arnold e alguns amigos que estavam em volta correram para ajudá-lo e com muitoesforço, repousaram a barra de volta ao suporte. Nesse momento, um grupo de garotos o avistou e com entusiasmo, rapidamente formaram uma pequena plateia em volta de seu treino. Seus seguidores dariam trinta anos de vida para ser Franco Columbu por trinta minutos – mas ele próprio não havia conseguido fazer um levantamento que, para seus padrões, era comum.
Com o ego ferido e se sentindo humilhado, Franco esboçou um meio-sorriso e, cabisbaixo, se posicionou novamente embaixo da barra. Certo de que o amigo fracassaria novamente, Arnold tomou Franco pelos braços e o levou para a parte de trás do ginásio, longe dos olhares curiosos dos fãs: “Franco, esses garotos pensam que você é um rei”, ele começou. “Você não pode falhar de novo com esse peso ou eles vão voltar para a casa e dizer a todos que o grande Franco Columbu é uma farsa e não aguenta 250kg”.
Franco ouviu atentamente as palavras de Arnold e passou os minutos seguintes respirando profundamente e se preparando para o exercício. Como resultado, Franco agachou naquele dia 230kg para oito repetições, quando sua meta era, até então, seis! Essa história, recontada pelo próprio Arnold Schwarzenegger uma dezena de vezes em entrevistas e artigos, ressoa forte com um dos pontos principais do fisiculturismo: sua mente é um dos músculos mais importantes na busca pelos seus objetivos.
A MENTE
É ela que projeta a bússola para onde seu corpo irá seguir. Em um esporte onde consistência e repetição formam um elo intrínseco ao sucesso, dominar a mente e desenvolver a capacidade de visualizar resultados pode ser determinante no cumprimento de suas metas. Determinação, motivação e o estabelecimento de objetivos começam em sua mente. Nosso cérebro possui uma extensa gama de registros emocionais capazes de engatilhar ações específicas.
É sabido que, em momentos de profundo estresse, o ser-humano é capaz de feitos incríveis. Em 1982, em Lawrenceville, Geórgia, uma mulher foi capaz de levantar um Chevrolet Impala, após o macaco ceder e ela ver o filho ficar preso debaixo do veículo. Ela ergueu o carro a uma altura suficiente para que dois vizinhos recolocassem o macaco e puxassem o rapaz. Como isso se aplica aos seus treinos?
Bem, um fator estressor - por exemplo, ver seu filho preso embaixo de um carro - estimula o hipotálamo. Essa região do cérebro é responsável pela manutenção do equilíbrio entre o estresse e o relaxamento em seu corpo. Quando recebe um aviso de perigo, ele envia um sinal químico a suas glândulas supra-renais, ativando o sistema simpático, que deixa o corpo em um estado de excitação.
Essas glândulas liberam adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina), hormônios que criam o estado de prontidão, que ajuda uma pessoa a enfrentar melhor o perigo.
Juntos, esses hormônios aumentam os batimentos cardíacos, a respiração, dilatam as pupilas, diminuem a velocidade da digestão e - talvez o mais importante para você - permitem que os músculos se contraiam. Todas essas mudanças, em nosso estado físico normal, nos preparam para enfrentarmos o perigo de frente.
Juntas, tornam-nos mais ágeis, permitem que captemos mais informações e nos ajudam a usar mais energia. Mas o efeito da adrenalina nos músculos é responsável por essa força surpreendente. A adrenalina age nos músculos, permitindo que eles se contraiam mais do que quando o corpo está em estado calmo ou neutro. O fato é que estar sob um efeito estressor não é mandatório para acessar este potencial.
O CANAL CORRETO Em outras palavras, qualquer sensação está disponível a qualquer momento – você só precisa sintonizar o canal certo. Como? Há dois segredos para mudar instantaneamente seu estado emocional: foco e postura. Deixe os problemas em casa e permita que sua mente se conecte unicamente com o músculo a ser trabalhado. Visualize como você deseja que fique e pense que cada repetição é um degrau rumo a esse resultado, extraindo do movimento o máximo de sua contração. Em seguida, adquira uma postura adequada.
Qual é a imagem de uma pessoa triste e deprimida? Ombros baixos, cabeça pendurada, respiração entrecortada. Adquira a postura de um campeão! Sua postura desencadeia um processo químico capaz de alterar, inclusive, sua produção de hormônios. Ao dominar os “atalhos” para resultados extraordinários, você será capaz de reproduzi-los com muito mais frequência. Mas lembre-se: como todo músculo, a mente deve ser exercitada com frequência e disciplina. Experimente constantemente a postura de um campeão e em pouco tempo, ela se tornará parte de você.
Ao dominar essa habilidade, você pode se manter confiante em ambientes e condições diversas, em vez de esperar que sua mente responda a um estímulo externo ou até mesmo um pré-treino milagroso. Como praticante de musculação, existirão diversas situações que você não poderá controlar. Sua capacidade de dominar seu foco e perseverar em seu objetivo com fé e uma mente blindada é o que determinará o sucesso ou o fracasso a longo prazo. Ainda que não seja exposto nos palcos, esse é o verdadeiro músculo que separa o campeão do segundo lugar.
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