A descoberta dos efeitos positivos do exercício físico no cérebro humano é tão animadora, que já podemos dizer que o desenvolvimento dos músculos e o condicionamento dos órgãos, como coração e pulmões, podem ser considerados apenas efeitos colaterais, diante do potencial que a atividade física tem de modular certas estruturas do cérebro, nos tornando mais bem humorados e inteligentes.
Isso é o que os estudos mais recentes na área da Fisiologia e Neurofisiologia do esporte vêm mostrando, pois cientistas estão concluindo que atividades físicas ajudam a prevenir diversas patologias (doenças) envolvendo o cérebro, dentre elas a demência cognitiva, que é um quadro clínico muito comum, principalmente em idosos, caracterizado por um declínio mental que ocorre com o decorrer da idade. Nesse caso, estudos mostraram que exercícios regulares podem aumentar a memória, as habilidades de planejamento e organização, assim como uma maior rapidez para executar tarefas mentais.
Fisiologicamente falando, esses eventos ocorrem porque descobriu-se que os exercícios físicos aumentam a perfusão sanguínea cerebral, ou seja, a capacidade do corpo de bombear sangue para o cérebro, promovendo assim um melhor desempenho em determinadas áreas neurológicas, principalmente na região do hipocampo cerebral, que é uma área responsável pela memória e aprendizagem. Esse fato ocorre, porque a melhora da perfusão sanguínea cerebral gera o aumento de substâncias que atuam na nutrição e no desenvolvimento dos neurônios, aumentando o desempenho cerebral local. Outro fator fisiológico detectado foi o aumento da capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões, a chamada neuroplasticidade.
Baseado nos estudos realizados em camundongos, cientistas sugerem que atividades físicas estimulam o fenômeno de neurogênese cerebral, que é o crescimento de novos neurônios na região do hipocampo, onde se armazenam as células tronco. Isso se dá graças ao grupo de substâncias chamado de neurotrofinas, essas são pertencentes a uma família de citocinas essenciais para a diferenciação, crescimento e sobrevivência de neurônios dopaminérgicos, colinérgicos e noradrenérgicos do SNC e de neurôniossimpáticos e sensoriais do Sistema Nervoso Periférico (SNP) durante a vida adulta.
Até o momento, são representadas por cinco proteínas de estruturas relacionadas que constituem a família das neurotrofinas, incluindo o fator de crescimento nervoso (NGF – Nerve Growth Factor), o fator de crescimento derivado do cérebro (BDNF – Brain Derived Neurotrophic Factor) e as neurotrofinas 3, 4 / 5 e 6 (NT 3, NT 4 / 5 e NT 6 – Neurotrophic Factor).
Essas novas células funcionais foram produzidas principalmente nas regiões associadas à aprendizagem e à memória, justamente as regiões mais afetadas por doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, colocando nesse caso novos rumos nos estudos e talvez uma futura alternativa de tratamento as doenças degenerativas que acometem o cérebro.
O PODER DE EXERCITAR-SE
O exercício físico tem potencial de alterar diversas substâncias neurotransmissoras no cérebro, tais como a serotonina (5HT), dopamina (DA), noradrenalina (NA), GABA, glutamato, endorfina, dentre outros neuro-hormônios, melhorando as suas respectivas atividades. Outros efeitos positivos notados dizem respeito à redução da pressão corporal arterial sanguínea, um fator importante para adultos e principalmente idosos, pois grande parte desses indivíduos possui pressão arterial sistêmica elevada, sendo que estudos já mostraram os hipertensos como seres mais propensos a problemas de memória e aprendizagem.
O aumento da perfusão sanguínea corporal ocasionada pelo exercício físico tem também uma atribuição pelo estímulo da enzima óxido nítrica sintetase, no qual permite a liberação de óxido nítrico, favorecendo a dilatação arterial sistêmica (aumento no calibre das veias), permitindo assim maior passagem de sangue e favorecendo a redução da pressão sanguínea do corpo em repouso, o que diminui o risco de acidentes vasculares cerebrais (AVC), promovendo a síntese de diversas proteínas importantes, como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, na sigla em inglês), que estimula a produção de células endoteliais, que compõem o revestimento interno de vasos sanguíneos, tornando-os mais resistentes·
À melhora de quadros clínicos de depressão também pode ser atribuída pelo efeito dos exercícios físicos no cérebro, uma vez que o mesmo ativa uma região cerebral dopaminérgica, responsável pelo prazer, denominado de circuito mesolímbico dopaminérgico central, a famosa zona de recompensa neurológica, modulando positivamente o humor e contribuindo para um maior equilíbrio bioquímico-neurológico.
Podemos atribuir com base em alguns estudos realizados, que o sistema nervoso leva cerca de 12 semanas para produzir alterações detectáveis de melhor desempenho, sendo após a prática de exercícios regulares (cinco ou sete dias na semana), durante as 12 semanas. Podendo levar ao quadro que chamamos de estabilização afetiva, que são as reduções bioquímicas e fisiológicas das reações que causam o aumento nos níveis de estresse e ansiedade cerebral, melhorando assim a capacidade do desempenho e raciocínio rápido.
Tendo como base essas novas descobertas da fisiologia, podemos dizer que estudos recentes promovem a quebra de um mito, daquilo que a crença popular ou a sociedade julgava como verdade, a famosa afirmação de que: ‘Pessoas praticantes de exercícios resistidos de musculação ou fisiculturismo eram tidas como indivíduos desprovidos de inteligência, pois hipertrofiavam o corpo e atrofiavam o cérebro’. Atualmente, a ciência prova justamente o contrário, pois a prática de qualquer exercício físico de intensidade moderada, incluindo o treinamento resistido de musculação, já é o suficiente para promover as reações bioquímicas em todo o corpo e principalmente no cérebro, favorecendo uma melhor cognição e saúde neurológica, afinal corpo e cérebro formam um complexo único totalmente ligado entre si.
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