NUTRIÇÃO & ESPORTE

Nutrição e Esporte: Triathlon com Dave Scott

Considerado uma lenda viva do esporte, o homem de ferro Dave Scott revela os segredos de quem sabe exatamente o que fazer para estar no topo

Nutrição e Esporte: Triathlon com Dave Scott Dave Scott é adepto da suplementação desde o auge de sua carreira.
Crédito: ARQUIVO PESSOAL

Antes de encontrar com a nossa equipe de reportagem, ele já havia corrido 13 km no Parque do Ibirapuera e nadado mais 3.500m em um clube da capital paulista. E isso era só o começo. Enquanto muitos podem considerar essa rotina de exercícios intensa, o norte-americano Dave Scott afi rma que não corresponde nem a 50% dos treinos que realizava no auge de sua carreira. 

Agora, aos 56 anos – esbanjando vitalidade – o hexacampeão do Ironman no Havaí viaja o mundo dividindo toda a experiência adquirida com a prática do esporte e ainda dá a alguns atletas o privilégio de serem treinados pelo guru do Triathlon. Este homem de ferro levou nada menos que o primeiro lugar na principal prova do mundo da modalidade nos anos de 1980, 1982, 1983, 1984, 1986 e 1987. Os bons resultados dessa época ele atribui à constância de treinamento. “Eu sempre procurei treinar frequentemente e não interromper a minha rotina. Isso com certeza foi um dos principais fatores que me levaram a conquistar esses títulos”, revela Scott.

Na época, o atleta seguia uma dieta ovolactovegetariana – quando é permitido ingerir ovos e derivados do leite – e somente em poucos momentos consumiu carnes de frango ou peixe.

Porém, este tipo de alimentação exigia um aumento muito grande na quantidade de outras fontes de proteína ingerida principalmente no período de recuperação entre os treinos, que é muito importante no triathlon. Atualmente, Scott afirma seguir uma dieta muito mais saudável, com o consumo de carnes magras como frango, peito de peru e peixe. “Na época, notei que ao acrescentar proteína animal ao meu cardápio houve uma melhora na recuperação da musculatura”, afirma. Antes, a maior parte das calorias ingeridas em períodos de treino – de 5 a 7 mil por dia – eram originadas principalmente de açúcares simples. “Ao substituir esses açúcares pela proteína animal e também pelos ácidos graxos presentes no peixe, como o Ômega 3, comecei a me alimentar muito melhor”.

Dave Scott é adepto da suplementação desde o auge de sua carreira, com o objetivo principal de manter a estrutura muscular, muito prejudicada em esportes de alta intensidade como o triathlon. A nutrição sempre foi um dos aspectos fundamentais do seu treinamento e sua dieta foi tão destacada na mídia quanto sua performance no esporte. “Nos anos 80 já existiam alguns suplementos, mas obviamente os avanços dessa indústria nos últimos 10 anos colocaram à disposição dos atletas uma quantidade muito maior de produtos com finalidades variadas”, conta.

Para manter seu dia a dia de exercícios - ele corre e nada cinco vezes por semana e dedica três dias à musculação - Dave Scott toma diariamente um composto que contém todos os aminoácidos essenciais de alta absorção, um composto alfalipólico, mais 300 IU de vitamina E, 500mg de vitamina B12, 1.200 mg de vitamina D, 1g de vitamina C, 200 mg de glucosamina, 600 mg de magnésio e 200 mcg de selênio. O atleta sempre foi seu próprio nutricionista e se considera um autodidata porque lê muito e tem grande conhecimento sobre fisiologia do exercício. “Porém, hoje em dia existe muita informação equivocada sobre nutrição na mídia. Você lê um artigo agora e amanhã publicam outro que o contradiz.

Por isso, como técnico, as perguntas mais frequentes que ouço dizem respeito a como se alimentar para melhorar a recuperação, que tipo de suplementação utilizar, como suplementar durante o exercício para melhorar a performance na prova, etc.”, revela.

Desvendando mitos De acordo com Scott, um erro muito comum inclusive de atletas de elite é o de não realizar uma nutrição adequada pouco antes da prova e dos treinos. “De seis a sete minutos antes, é importante consumir carboidratos e proteínas que servirão como fonte de energia durante a prática da atividade física e evitarão a quebra de proteína do músculo”, esclarece. A bebida esportiva indicada pelo atleta - e pelo qual é patrocinado - é a Accelerade, que tem a proporção de quatro de carboidratos para um de proteína. Esta última substância é utilizada como fonte de energia e ajuda a manter os estoques de glicogênio durante a prova, assim como os níveis de cortisol, hormônio que aumenta durante o exercício de alta intensidade e está associado à quebra de proteína dos músculos.  “Alguns estudos inclusive associam a combinação de proteína e carboidratos da bebida a um aumento da hidratação”, diz. Ao contrário do que muitos praticam existe também o que Scott chama de “janela da oportunidade”, período de 15 a 40 minutos após o exercício em que o atleta deve realizar a suplementação com proteínas, carboidratos e isotônicos. Eles aumentam a produção de insulina, substância catabólica que atua na reconstrução dos músculos.

“Não ter a intervenção nutricional ade quada nesse momento é um erro que a maioria das pessoas comete, principalmente as mulheres que depois do exercício não querem suplementar e ficam com fome. O que acontece neste caso é que os estoques de glicogênio se mantêm muito baixos, a proteína continua quebrando e perde-se massa muscular”, explica. Quando o assunto é supercompensação de carboidratos (saiba mais no box ao lado), o atleta é categórico: não é uma prática eficiente. Scott explica que na última semana antes de uma competição é importante diminuir o volume de treinos, mas manter a intensidade. “Com esta diminuição do volume de treinos, naturalmente os estoques de glicogênio se elevam porque o atleta não queima tantos carboidratos, por isso não é necessário ingerir maior quantidade dessa substância”, esclarece. “Ao realizar a supercompensação não é bom diminuir drasticamente a quantidade de carboidratos ingerida porque isso gera um estresse muito grande no sistema digestivo e intestinal. Mudar drasticamente a dieta uma semana antes da prova não é aconselhável”, afirma. Scott ressalta ainda que nenhum atleta gosta de estar se sentindo pesado na largada. “Porém, se você segue uma dieta muito rica em proteínas e gorduras e de repente a modifica, fazendo uma alimentação muito rica em carboidratos, acaba retendo muita água”.

Para quem corre durante a prova de triathlon - e não alterna com caminhadas - é importante ficar sem correr uma semana após a competição. As pedaladas com baixa intensidade podem ter início três dias depois e somente a natação deve ser mantida diariamente. No quesito suplementação, é fundamental aumentar o consumo de proteínas e aminoácidos nos dias que seguem a prova, pois ainda há desgaste muscular. “Deve-se aumentar também o volume de Ômega 3, substância que tem ação comprovada cientificamente no combate à destruição das células”.

O que é a supercompensação de carboidratos? É uma dieta realizada antes das competições de resistência que tem como suposto objetivo aumentar as reservas de glicogênio no músculo. Primeiro, o atleta segue uma alimentação pobre em carboidratos e mantém um treinamento intenso. Depois, cessa os treinos realiza uma sobrecarga na quantidade de carboidratos ingeridos. Com sua experiência do triathlon, Dave Scott desaconselha a prática porque a modificação drástica da dieta é agressiva para o organismo. Na última semana antes de uma competição, se o atleta mantém sua dieta e a intensidade do treinamento, mas diminui o volume de exercícios, naturalmente consumirá menos carboidrato e os estoques de glicogênio serão elevados.

Perfil do atleta

Nome: Dave Scott

Data de Nascimento: 04/01/1954

Local: Estados Unidos

Profissão: Atleta, treinador e consultor Títulos:

Primeiro lugar na principal prova do mundo de Triathlon nos anos de 1980, 1982, 1983, 1984, 1986 e 1987

Na internet:

www.davescottinc.com

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