“Nasci em Mogi das Cruzes e desde a época da faculdade moro em Campinas/SP. Sou formado em Engenharia de Controle e Automação pela Unicamp, Universidade Estadual de Campinas. Trabalho na parte administrativa e não atuo na área, pois preciso de uma atividade que me permita conciliar o esporte e a carreira.
Em 2006, no meu segundo ano de faculdade, estava em um churrasco de confraternização quando sofri um acidente. Mergulhei em uma piscina, bati no fundo dela e acabei fraturando a cervical, lesionando a coluna na altura do pescoço, me causando uma tetraplegia em que perdi os movimentos das pernas e braços.
No ano seguinte, tranquei a faculdade, voltei a morar com meus pais em Mogi e me dediquei 100% na minha recuperação. Naquele momento eu precisava da ajuda deles, pois não conseguia me movimentar. Foram horas e horas intensas de fisioterapia para recuperar o máximo de movimentos possíveis. Além disso, neste mesmo ano, consegui uma vaga no Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek, localizado em Belo Horizonte, onde passei por um processo de readaptação e independência, mesmo com as minhas limitações. O centro não é um hospital, não é um local onde recuperamos as lesões, mas sim, onde aprendemos a conviver com elas. Eles nos encorajam a ter uma vida normal, a nos trocar sozinho, nos alimentar e até mesmo dirigir, entre outras atividades.
Em 2008 muita coisa aconteceu! Voltei para Campinas, passei a morar sozinho, retomei a faculdade e a minha rotina. Como sempre gostei de esportes, comecei a buscar na Universidade alguma modalidade que pudesse praticar. Nesse momento, estava iniciando o projeto Rugby em cadeiras de rodas na Unicamp e conhecendo o tipo de lesão que eu tinha, algumas pessoas próximas sugeriram que eu experimentasse esse esporte.
Assim que tive o primeiro contato com o rugby, gostei de imediato. Comecei a pesquisar e vi que era um esporte paralímpico, o que me despertou o interesse em participar de uma paralimpíada.
Com o incentivo da minha família e dos meus amigos, comecei a me envolver cada vez mais nos jogos. Isso me fazia muito bem e me tornava cada dia mais vivo. Não demorei para me adaptar ao esporte em si. Neste mesmo ano, participei de um campeonato, me destaquei e passei a ser observado pelo técnico da seleção brasileira. Ainda em 2008, fui jogar em um campeonato na Colômbia e lá, fui convidado a fazer parte da seleção. Comecei no banco de reservas, mas aos poucos fui conquistando meu espaço, com muito treino e dedicação. Virei titular e, mais tarde, capitão do time.
Representando o Brasil, viajei para os mais diversos lugares do mundo. Suíça, República Tcheca, Holanda, Canadá, Argentina e Colômbia foram alguns dos países que conheci. Além de competir com grandes times, tive a oportunidade de conhecer as cidades e me divertir ao lado dos meus colegas de equipe nas horas vagas.
Nessa aventura de conhecer o mundo, joguei duas temporadas nos Estados Unidos representando um clube americano. Fiquei 5 meses jogando na liga, treinando e me aperfeiçoando cada vez mais. Os times americanos são bastante competitivos e isso faz com que os treinos sejam intensos. Foi lá que conheci o treino funcional, gostei e passei a treinar aqui no Brasil, assim que voltei.
E os treinos continuam firmes e fortes! Três vezes por semana treino em quadra com o time e duas vezes por semana faço treinamento funcional em uma academia personalizada, com acompanhamento do meu personal trainer. Como cada deficiência tem a sua particularidade, esse treino é preparado especialmente para mim. A minha rotina é bastante acelerada, mas com disciplina, eu consigo conciliar o esporte e o trabalho. Hoje moro sozinho, sou independente e faço tudo o que fazia antes, mas de um jeito diferente. Tudo é uma questão de adaptação!"
Ele escolheu viver!
Transformar uma dificuldade em oportunidade. Foi o que Alexandre Taniguchi fez! Com foco, determinação e disciplina, ele se adaptou à sua deficiência e mostrou que levantar a cabeça para enfrentar uma crise é o certo a fazer, afinal, é a atitude que faz a diferença. Além de se tornar um jogador referência na sua modalidade, ele não parou de estudar e hoje, tem uma vida normal, mesmo com suas limitações.
“Em 2007, quando voltei para a casa dos meus pais para me reabilitar, não deixei de estudar e exercitar a cabeça”, conta.
O jovem de 30 anos, que tem como ídolos Michael Jordan e Ayrton Senna, tem uma rotina digna de aplausos. Ele treina quase todos os dias pela manhã e trabalha das 13h às 22h na IBM. Disposição é o que não falta! Mas como ele consegue mantê-la nessa correria do dia a dia? Sabemos que uma alimentação regrada e saudável é essencial, ainda mais quando o assunto é um jogador de rugby.
Alexandre tem um endocrinologista e duas nutricionistas uma particular e a outra da seleção brasileira, que o acompanham. Como tem hipotireoidismo, faz exames de sangue regularmente e reposição de vitaminas isoladas. Suas refeições (café da manhã, almoço e jantar) são ricas em proteínas e carboidratos. Nos intervalos, come frutas, castanhas e lanches naturais. Para ajudar no ganho de massa muscular o atleta consome whey protein após os treinos e também durante o trabalho. O atleta tem uma rotina alimentar exemplar, o que garante a sua ótima performance em quadra.
Apaixonado pelo rugby, Japa Taniguchi, assim chamado quando está na seleção brasileira, não quer parar tão cedo. “Enquanto eu conciliar a carreira profissional e a esportiva, vou continuar jogando. Passei minha vida inteira praticando esportes, sempre estive envolvido neste meio”, enfatiza. A experiência de participar dos jogos Paralímpicos Rio 2016 foi marcante, ainda mais como capitão da equipe. “Tenho o sonho de participar de mais uma paralimpíada. A seleção como grupo está crescendo bastante e o Brasil está se destacando cada vez mais. Sei que ficaremos cada dia mais competitivos”, finaliza.
Com a garra e a persistência de Taniguchi, a seleção brasileira paralímpica de rugby tem tudo para vencer em 2020. O céu é o limite para o jovem oriental que tem sede de vida. Palmas para esse exemplo de superação!
Como joga?
O Rugby em cadeira de rodas é um jogo dinâmico e intenso. As partidas acontecem em quadras de basquete e as bolas são semelhantes às de voleibol. Os times são mistos, com homens e mulheres. Uma partida é dividida em quatro tempos de oito minutos, sendo quatro atletas titulares por equipe e oito reservas. O objetivo do jogo é marcar o maior número de gols possível. Para isso, os jogadores devem ultrapassar a linha de fundo ofensiva, com domínio da bola.
Curiosidade
As cadeiras de jogo são resistentes e específicas para o rugby. Durante uma partida, as batidas são liberadas e incentivadas com o intuito de fazer a bola parar de progredir. O jogador é autorizado a bater com força na cadeira do adversário, sem contar como falta. “No rugby convencional quem sofre é o atleta, em nossa partida quem sofre é a cadeira”, explica Alexandre.
Essa cadeira de rodas especial custa caro e seu valor é semelhante ao de um carro popular. “É uma cadeira específica e tem que ser feita sob medida. As melhores são importadas dos Estados Unidos ou Nova Zelândia, o que dificulta ainda mais a compra por conta da moeda”, afirma. Adquirir uma cadeira própria foi a única dificuldade que Taniguchi teve ao começar a praticar o rugby. “No início usei um equipamento que não era meu, levou um tempo até eu conseguir comprar uma cadeira perfeita pra mim, com a largura da minha cintura e com o comprimento das minhas pernas”.
Treino para a Paralimpíada 2016
De acordo com Bruno Dias, personal trainer de Alexandre, o treino foi dividido em três fases:
Exercícios para o core (centro do corpo, abdômen, lombar, quadril).Treino Funcional com foco em ganho de força geral em membros superiores. Exercícios de puxar e empurrar na vertical e horizontal.
Alexandre pratica também xercícios intensos e mais próximos da realidade dos jogos e treino na corda naval e arremesso de medicine ball com foco no ganho de potência e velocidade.
Além disso, foi realizado um trabalho de liberação miofascial, uma massagem que visa estimular pontos gatilhos de dor com o objetivo de contribuir para a recuperação. Embora Alexandre seja tetraplégico, ele tem os músculos do abdômem e das pernas preservados. “As pessoas geralmente pensam que o tetraplégico não "mexe" os braços e as pernas, mas a definição de tetraplegia é ter os quatro membros com algum grau de comprometimento, o que varia de pessoa pra pessoa e de lesão pra lesão” explica Bruno.
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