Hoje em dia estão em alta muitos tipos de dietas. Práticas de jejum sendo adotadas por adultos como estilo de vida e isso tem sido levado não apenas como algo temporário e sim permanente. Essas práticas, quando extrapolados para crianças podem ser extremamente prejudiciais, mesmo para aquelas que apresentam problemas com sobrepeso e/ou obesidade.
Os hábitos familiares são de extrema importância para a formação do comportamento alimentar das crianças. Logo, práticas alimentares saudáveis durante a infância contribuem para o bom desenvolvimento físico, emocional e social dos seus filhos. Amamentação, introdução alimentar adequada e comer à mesa com a família, são estímulos e hábitos que devemos levar para os demais ambientes de convivência da criança e esse é um papel dos pais e familiares.
É durante a infância que os hábitos alimentares se sedimentam e o principal espelho para as crianças são os pais. Pode parecer que não, mas eles observam muito o que os adultos fazem e o que os adultos comem. Então, não adianta falar para o seu filho comer verduras e legumes se você não come esses alimentos no seu dia a dia. Logo, eles vão perceber que você também não tem esse hábito e irão parar se alimentar corretamente e assim começarão a surgir as primeiras dificuldades alimentares.
Como muitos pais seguem algum tipo de dieta, muitas vezes o desempenho dessas atividades fica comprometido e as crianças são levadas a seguir o mesmo estilo de vida dos pais. Tem sido cada vez mais comum, por exemplo, pessoas que seguem dietas low carb ou paleo, adotarem como estilo de vida único para toda a família, sem levar em consideração se tal prática é adequada para uma criança ou sem consultar um profissional de saúde antes, principalmente o pediatra e um nutricionista infantil.
Vale lembrar que, em primeiro lugar, as necessidades nutricionais da criança, são completamente diferentes das necessidades dos adultos e, ainda que a criança esteja acima do peso, o mais importante na infância é garantir que ela irá receber o aporte nutricional adequado para que cresça e tenha desenvolvimento cognitivo e motor apropriado para sua faixa etária, sendo este o principal o objetivo do atendimento nutricional, juntamente com a melhoria do padrão alimentar.
Quando uma criança entra em algum tipo de dieta, normalmente, algum tipo de nutriente fica deficiente. Por exemplo, dieta low carb e dieta paleo, com pouco carboidrato podem não fornecer a quantidade deste nutriente e comprometer o desenvolvimento cognitivo da criança, dietas low fat podem comprometer o desenvolvimento hormonal e assim por diante. Não se sabe ainda até que ponto, uma vez que tais dietas são muito recentes. Porém, imagine que, se nos primeiros dias de uma dieta zero carb um adulto passe mal, quem dirá uma criança?
Além da questão da possibilidade de deficiências nutricionais, a socialização dos pequenos poderá ficar demasiadamente comprometida, uma vez que as dietas da moda são muito longe da realidade das outras crianças com as quais ele convive. Nas escolas, por exemplo, dificilmente seu filho encontrará um tipo de lanche que atenda a exigência dessas dietas (claro que sempre há a possibilidade de que leve na lancheira), mas existem outras ocasiões onde a criança for à casa de uma amiguinho ou em uma festinha. A sensação de exclusão poderá ocasionar transtornos que o deixarão muito mal e poderão ser difíceis de contornar futuramente. Dessa maneira, uma alimentação que amplie as possibilidades e não as restrinja, certamente o deixará muito mais aceito no meio social em que vive e não causará nenhum entrave emocional ou comportamental.
Será que precisamos chegar mesmo a esse ponto com nossos pequenos? Ou podemos, através de uma introdução alimentar adequada e um planejamento diário melhor, oferecer menos industrializados e mais alimentos verdadeiros e frescos? Assim, podemos fornecer opções que irão contribuir com uma nutrição adequada ao desenvolvimento dessa geração.
Além disso, ao pensar como família, será que é necessário impor para os nossos filhos aquilo que achamos adequado para nós? Talvez seja mais interessante e mais justo com eles e com nós mesmos, explicar que, naquele momento, adotamos tal medida e por quais motivos (sem ser gordofóbicos, sem fazer apologia à ditadura da magreza ou qualquer outro tipo de conversa que tenha teor preconceituoso), mas de uma forma branda, que a criança possa compreender, de forma inclusiva, pois é assim que a alimentação deve ser. Não é porque não comemos determinados alimentos que não devemos nos sentar à mesa com alguém que tenha um pensamento diferente do nosso.
Aliás, vamos refletir um pouco: faz sentido tirar o glúten de uma criança que não é celíaca? E por que sem lactose se a criança tem as enzimas perfeitas para digeri-la? Será que isso não pode provocar um problema no futuro? Dessa forma, entendemos que as dietas da moda não são adequadas para as crianças, ainda que sejam estilo de vida dos pais.
Muitos devem estar se perguntando agora quanto ao estilo de vida vegetariano ou vegano: quero lembrar que estes estilos não são dietas da moda e que, quando bem ajustados, não trazem prejuízos nutricionais à saúde. Acima, foram consideradas alguns tipos de dietas da moda, mas podemos citar diversos outros, como restrições de calorias muito abaixo do metabolismo, dieta da lua, dieta da sopa, dieta do abacaxi, dieta da proteína, dieta high fat, dieta do hcg, dieta alcalina, entre outras.
Se o seu filho apresenta algum problema que precise de alguma dieta ou algum tipo de restrição alimentar, nunca faça por conta própria. Procure um profissional, pois ainda que haja necessidade de retirar algum alimento da rotina alimentar da criança, o profissional irá calcular as necessidades diárias nutricionais e irá prescrever um plano alimentar adequado com as substituições para que seu filho se alimente bem.
Comentários