ALIMENTAÇÃO & NUTRIÇÃO

Vinho ou suco de uva?

Ricas em resveratrol, essas bebidas possuem potente ação antioxidante, auxiliam no metabolismo das gorduras e impedem o aparecimento de vários problemas de saúde.

Vinho ou suco de uva? Recomenda-se quantidade maior do suco de uva porque aparentemente há diferença no conteúdo e composição dos polifenóis presentes nas bebidas
Crédito: REVISTA SUPLEMENTAÇÃO

Érica Blascovi de Carvalho Nutricionista – CRN 19945 Pós Graduanda em Nutrição Esportiva - UGF

Christiano Bertoldo Urtado Mestre em Performance Humana Docente do Curso de Pós Graduação em Nutrição Esportiva – UGF

 

A produção contínua de radicais livres durante os processos metabólicos leva ao desenvolvimento de muitos mecanismos de defesa antioxidante, que têm como função limitar os níveis intracelulares e impedir a indução de danos, entre eles cardiopatias, aterosclerose, problemas pulmonares, artrite, envelhecimento precoce, isquemia, doença de Alzheimer e Parkinson, disfunções gastrointestinais, choque hemorrágico, tumores e câncer. Quer entender melhor sobre radicais livres? Leia a matéria da seção “Entenda Tudo Sobre” publicada na edição nº 8 da revista. 


Entre os diversos alimentos fontes de antioxidantes, um dos mais comentados e aclamados é a uva, mais precisamente um de seus derivados: o vinho. Sabe-se que o vinho é produzido pelos homens desde tempos remotos, havendo indícios do seu consumo há aproximadamente 7 mil anos. Registros históricos mostram que seu uso com fins medicinais pelo homem tem sido uma prática que existe há mais de 2 mil anos. Hoje, sabe-se que o processo de fermentação difere bastante de acordo com o tipo de vinho que se deseja elaborar. Este processo, em conjunto com o esmagamento das uvas, interfere na quantidade final do agente responsável pelos efeitos antioxidantes do vinho: o resveratrol.


Ações no metabolismo lipídico: diversos mecanismos de ação têm sido atribuídos para explicar seus feitos no metabolismo de gorduras. Um deles envolve o aumento da excreção de sais biliares nas fezes. Foi sugerido também que o aumento da atividade dos receptores da lipoproteína de baixa densidade (LDL – o “colesterol ruim”) seja um dos responsáveis pela redução dos níveis de colesterol no sangue. Além disso, o álcool presente nos vinhos, quando consumido em quantidades moderadas, atua sobre o metabolismo lipídico aumentando as lipoproteínas de alta densidade (HDL – o “colesterol bom”), captando o colesterol livre das células periféricas, além de possuir efeito vasodilatador e inibir a agregação plaquetária responsável pela obstrução dos vasos sanguíneos.


•Doenças coronarianas isquêmicas: os compostos antioxidantes dos vinhos exercem efeitos preventivos e protetores, porque além de retardarem a formação de placas de ateroma (compostas especialmente de lipídeos e tecido fibroso, que se formam na parede dos vasos), podem ser muito efetivos na redução da trombose (formação de um coágulo de sangue no interior de um vaso sanguíneo), responsável por mais de 90% das mortes por DCI.
•Alzheimer e demência: visto que o estresse oxidativo desempenha papel chave na demência, o resveratrol oferece efeito protetor devido ao seu poder antioxidante. Estudos ainda são necessários para confirmar dados já encontrados na literatura, porém tudo indica que o consumo moderado de bebidas alcoólicas, em especial o vinho tinto, atua na prevenção de tais doenças.

Dose diária relacionada à saúde
O consumo moderado, com pequenas variações, pode ser definido como sendo a ingestão máxima de 59,2g de álcool/dia. Isso equivale a 394ml (cerca de ½ garrafa) de um vinho com 15% de álcool. Estudos mostram também que uma dose de 100ml de vinho tinto/dia e de 400 a 500ml de suco de uva/dia tem efeitos antioxidativos benéficos e protetores à saúde. Recomenda-se quantidade maior do suco de uva porque aparentemente há diferença no conteúdo e composição dos polifenóis presentes nas bebidas. Nas reações químicas que ocorrem durante a fermentação do vinho, os flavonóides ficam mais estáveis e são melhor absorvidos no intestino, o que pode trazer mais benefícios para o organismo. Além disso, há a ação vasodilatadora do álcool, que favorece todo o sistema cardiovascular.
É importante ressaltar que estudos mostram que o consumo excessivo de álcool – incluindo o vinho - ou a associação do mesmo a alguns fatores de risco pode inverter essa correlação. Cada 100ml de vinho contém de 8 a 10g de etanol, responsável pela ressaca do dia seguinte. As linhas do limite também dependem do sexo: os especialistas consideram que 4,5 taças de vinho para o homem são prejudiciais e, para a mulher, esse nível está em 2,3 taças diárias. Portanto, desfrute dos benefícios que o consumo de vinho pode trazer, mas beba com moderação!

Glossário:
- Agregação plaquetária: união de plaquetas, podendo formar trombos.
- Aterogênese: surgimento da placa de ateroma, composta especialmente de lipídios e tecido fibroso, que se formam na parede dos vasos.
- Carcinoma: câncer que se desenvolve em células epiteliais.
- Fitoestrógeno: substâncias encontradas nas plantas que agem como versão mais fraca do estrogênio humano.
- Flavonóides: uma classe de polifenóis.
- Neoplasia: (neo = novo + plasia = tecido) alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado de células. Pode ser maligna ou benigna.
- Polifenóis: componentes antioxidantes e anti-inflamatórios naturais de uma ampla variedade de plantas.
- Sais biliares: substâncias produzidas no fígado para auxiliar a digestão.
- Trombose: coágulos de sangue.

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