FISIOLOGIA DO RESULTADO

Fisiologia do Resultado: Hidroximetabutirato baseado em evidências

Conhecido como HMB, o suplemento é um metabólito do aminoácido leucina, conheça mais sobre ele 

Fisiologia do Resultado: Hidroximetabutirato baseado em evidências Estudos que abordam a eficácia da combinação de suplementação de HMB com outros nutrientes.
Crédito: BANCO DE IMAGENS
A reação do HMB no corpo que leva a síntese deste a partir da leucina.

Na dieta regular apenas 5% da leucina ingerida é convertida em HMB, portanto precisamos de pelo menos 60g de leucina ao dia para obter um valor de 3g de HMB no organismo. Para essa conversão ocorrer de forma não suplementada, teríamos que ingerir o equivalente a 600g de carne bovina, o que não seria nada prático, além de normalmente desconfortável.

O HMB exerce uma série de efeitos que podem explicar os potenciais benefícios de sua suplementação em massa muscular e desempenho.

Um estudo publicado no The Journal of Physiology em 2013 por Wilkinson e cols, mostrou que a ingestão de 3g de HMB em seres humanos provocou aumentos na síntese proteica muscular comparáveis a 3g de leucina, enquanto também ocorreu supressão da proteólise muscular (quebra de proteína muscular) independentemente da insulina. Da mesma forma que a leucina, a estimulação da síntese proteica muscular pelo HMB é atribuível à sinalização mTOR. Para entender a supressão independente de insulina da quebra proteica muscular associada à ação do HMB, numerosos alvos moleculares associados a diferentes caminhos proteolíticos (beclin 1, calpaína 1, MuRF1, F-box e catepsina) foram investigados, embora não tenham sido observadas alterações detectáveis na abundância de proteínas. 

Estudos de longo prazo descobriram que o HMB preservou a massa muscular durante os períodos de destreino (Deutz e cols, 2013); além deste, um outro estudo onde mulheres idosas receberam um suplemento contendo 2g de HMB mais 1,5g de lisina e 5g de arginina durante 12 semanas, revelou um significativo ganho de força e aumento da massa magra no grupo suplementado (Flakoll et al., 2004). Porém, neste último, como o HMB foi administrado como parte de um coquetel nutricional, é impossível afirmar se o HMB foi o único responsável pelos efeitos sobre a massa magra. 

Recentemente, a meta-análise publicada em 2015 feita por Wu He. e colaboradores, com 287 participantes idosos (147 suplementados com HMB e 140 no grupo controle), demonstrou que a suplementação com HMB levou a maiores ganhos na massa muscular em comparação com o grupo controle, o que indica que o HMB foi uma ajuda ergogênica efetiva, pelo menos em idosos, para prevenir a perda de massa muscular. 

Essas propriedades anabolizantes do HMB também foram sugeridas nos exercícios de resistência. Por exemplo, a suplementação de HMB (3g/dia) com treinamento de exercício resistido entre 4 e 7 semanas, levou a um aumento na força muscular (Panton e cols, 2000), e na massa magra corporal em comparação com o treinamento de resistência não suplementado (Wilson e cols, 2014; Nissen e cols, 1985).  

Outro efeito ergogênico do HMB é a suposta capacidade do mesmo em atenuar danos musculares induzidos pelo exercício. Knitter e colaboradores estudaram a suplementação oral de HMB (3g/dia por 6 semanas) em atletas de endurance e notaram que sua suplementação atenuou o aumento da CPK (creatina fosfoquinase) e DHL (lactato desidrogenase), que são marcadores plasmáticos de dano muscular induzido pelo exercício, após uma corrida de tempo de 20km em comparação com o placebo. Este efeito protetor do HMB pode acontecer, pois ele é um precursor da síntese de colesterol ‘de novo’, o que ajuda na manutenção da membrana celular. Assim, o HMB pôde manter a integridade da membrana muscular durante exercícios extenuantes e longos.

Além disso, o HMB mostrou-se eficaz para melhorar o desempenho dos exercícios de endurance. Vukovich e Dreifort em 2001, relataram que o HMB em combinação com o exercício de endurance prolongou o tempo para atingir o início do acúmulo de lactato sanguíneo e do pico de VO2, embora através de um mecanismo desconhecido. Outros investigaram marcadores de desempenho de resistência após treinamento de intervalo de alta intensidade (HIIT), com ou sem suplementação com HMB. Para exemplificar, seguindo 5 semanas de HIIT em combinação com suplementação de 3g/dia de HMB, foi demonstrada melhora do VO2max em comparação com o placebo (Lamboley e cols, 2007). Esses autores sugeriram que os benefícios deste desempenho poderiam ser atribuídos à preservação da membrana celular, mas como a estabilidade da membrana não foi medida no estudo, não podem ser extraídas conclusões mecânicas disso. Ainda em outro estudo, Miramonti e colaboradores, em 2016, publicaram um trabalho onde avaliaram que a suplementação de HMB em participantes destreinados potencializou os efeitos de HIIT em comparação com o treinamento HIIT sem suplementação, no início da fadiga neuromuscular.

Estudos que abordam a eficácia da combinação de suplementação de HMB com outros nutrientes, resultaram em potencialmente maior força e massa magra. Nesse contexto, como em um estudo realizado por Jowko e colaboradores, em 2001, voluntários receberam suplementação dietética com HMB, creatina, uma combinação de ambos, ou um placebo, e foram submetidos a treinamento de força por 3 semanas. Os autores encontraram aumento na força e na massa muscular esquelética no grupo suplementado com HMB e creatina, em comparação com outros grupos e uma redução no dano muscular e degradação proteica no grupo suplementado apenas com HMB.

Recentemente pesquisas mostraram o papel do HMB tanto na biogênese mitocondrial quanto na área de estudos (ainda em animais) no padrão de fibras musculares tipo II para o tipo I (oxidativas lentas), como no estudo publicado na Aminoacids em 2016, por Xi He e colaboradores.  As mitocôndrias são as organelas celulares geradoras de energia e ainda impulsionam as funções metabólicas das mesmas. A Biogênese mitocondrial é explicada como o aumento da densidade de mitocondrias nas células musculares e o aumento da sua atividade enzimática. Ela pode ser induzida pela prática de atividade física, resultando no aumento de mitocôndrias em todos os três tipos de fibras musculares (I, IIa e IIb); também causam uma maior concentração destas nas fibras, aumentam a resistência muscular à fadiga e a capacidade das mesmas em oxidar substratos energéticos por estes estímulos musculares repetidos cronicamente. 

Os efeitos do BCAA, particularmente a leucina, na biogênese mitocondrial muscular e na oxidação de ácidos graxos, são atualmente regulados pelo metabólito da HMB (Stancliffe 2012). 

O HMB tem sido implicado na síntese de músculo esquelético, de força muscular tanto no exercício físico quanto nas configurações clínicas, ao mesmo tempo que aumenta a oxidação de ácidos graxos, um marcador de função mitocondrial, como descrito em vários estudos (Cheng et al., 1997, 1998; Slater e Jenkins 2000; Wilson et Al., 2008). O HMB também pode desempenhar um papel na produção de coenzima Q, um metabólito que desempenha um papel crucial na proliferação de células musculares (miócitos) e na função mitocondrial (Evans e Rees, 2002). Porém os efeitos in vivo de HMB na biogênese mitocondrial do músculo esquelético em animais e seres humanos não são conhecidos.

Existem também evidências clínicas de que o HMB possa atenuar a perda de músculo causada pelo envelhecimento (Vukovich et al., 2001), caquexia do câncer (Zanchi et al., 2011), AIDS (Clark et al., 2000) e endotoxemia, ou seja, toxemia provocada pelas endotoxinas de algumas bactérias (Russell e Tisdale 2009 Kovarik et al., 2010). Estudos demonstraram que a suplementação dietética de HMB atenua o desgaste muscular induzido por dexametasona e, assim, pode ser usado para prevenir a miopatia esteróide (Noh et al., 2014). Não se sabe se HMB tem efeito direto ou indireto sobre esta ação observada neste caso na massa muscular esquelética. 

Nosso conhecimento fundamental da regulação do HMB da biogênese e da saúde mitocondrial do músculo esquelético tem sido amplamente expandido ao longo dos últimos 20 anos. Compreender o importante papel do HMB na biogênese mitocondrial e na saúde muscular pode fornecer novas estratégias para melhorar a saúde humana.  De forma significativa, o HMB pode ser usado como suplemento livre de nitrogênio para beneficiar o meio ambiente, reduzindo a excreção de nitrogênio. Estudos adicionais são necessários para definir claramente os efeitos da suplementação dietética de HMB na biogênese mitocondrial do músculo esquelético in vivo em indivíduos saudáveis e animais, e também mais estudos de aplicabilidade clínica, tanto na área de performance muscular (mesmo muitos já mostrando seu benefício na preservação de massa muscular e do aumento de oxidação de ácidos graxos), quanto na área clínica. 

Vale lembrar que antes de usar qualquer suplemento nutricional, tanto o HMB quanto outros, sempre procurar orientação de seu médico ou nutricionista. 


Tatiana Camargo Pereira Abrão

CRM 95.121-SP

Médica Endocrinologista e Nutróloga. Especialista em Endocrinologia e Metabologia, PUC/SP/2003. Pós-graduada em Nutrologia, USP/Ribeirão Preto/2004. Especialista em Nutrologia – AMB/CFM. Pós-graduada em Medicina do Esporte/2013 e Nutrologia Esportiva/2015


Paulo Cavalcante Muzy

CRM 115-573-SP

Médico pela Escola Paulista de Medicina – Unifesp/2004. Especialista em Ortopedia e Traumatologia Unifesp/2009. Diretor Médico IFBB Brasil, desde 2011, docente dos Cursos de Medicina Esportiva e Nutrologia Esportiva da Fisicursos/HZM, desde 2012 e docente dos cursos de Medicina Esportiva BWS, desde 2016

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