O macronutriente proteína é extremamente necessário quando consideramos renovação e produção de células e tecidos corporais, principalmente no tocante aos músculos esqueléticos. Bioquimicamente, as proteínas são formadas a partir de um conjunto de aminoácidos, esses divididos em essenciais (não sintetizados pelo corpo, precisando ser ingerido através da alimentação) e não essenciais (sintetizados a partir de outros compostos pelo organismo).
O mercado de suplementos nutricionais cresce ano a ano e o desafio das empresas sempre é oferecer e entregar soluções práticas e eficientes para cada objetivo.
Associadas ao treino de força, as proteínas são consideradas as melhores ferramentas para a construção da massa muscular, pois fisiologicamente, os aminoácidos disponibilizados após o processo digestivo participam da síntese proteica.
Atualmente, as quantidades totais de proteínas diárias para uma pessoa fisicamente ativa gira em torno de 1,6-2,0g/kg/dia, sendo que sua distribuição pode ser feita a cada 3-4 horas com quantidades ingeridas por refeição calculadas de forma individual, chegando a 0,3-0,4g/kg/refeição. Isso para um indivíduo de 100kg: total diário (100kg x 2,0g/kg) = 200g divididos por 0,4g/kg/ref = 40g. Isso significa que os 200g de proteínas totais podem ser distribuídos em 5 refeições ao dia, contendo por volta de 40g de proteína em cada refeição (1).
A partir deste cálculo, o nutricionista pode escolher o tipo e a fonte proteica que será mais adequada para cada momento do dia, afim de completar as quantidades totais diárias. Sabe-se que proteínas de rápida absorção como a do soro do leite, whey protein, proteína isolada da carne e proteínas veganas isoladas (arroz e ervilha) podem ser usadas imediatamente antes e depois dos treinos, pois seu perfil de aminoacidemia rápida (disponibilidade de aminoácidos plasmáticos), oferece de forma aguda uma grande quantidade de aminoácidos para os músculos exercitados (2).
Atualmente, pelas diversas formas de proteínas encontradas no mercado, surge um produto que se caracteriza pela mistura de várias fontes proteicas de diferentes fontes e velocidades de absorção, o ‘blend proteico’. Esse produto traz a característica de ter uma absorção mais lenta para sustentar um maior tempo de aminoacidemia, oferecendo também um efeito maior de saciedade, modulado por mecanismos fisiológicos estomacais ligados ao glucagon like peptide-1 (GLP-1).
Esses blends proteicos podem ser constituídos de várias proteínas: whey concentrada, whey isolada, proteína isolada da carne, albumina, caseína, proteína do leite isolada.
Com relação as proteínas de mais lenta absorção, um exemplo é a caseína, proteína globular que constitui 80% das proteínas do leite e tem sua separação na produção de queijos. Quando isolada em pó e ingerida diluída em água, no trato gastrointestinal formam-se pequenos aglomerados de gel proteico e que tendem a ser digeridos de forma mais lenta, disponibilizando aminoácidos de forma constante na corrente sanguínea.
Informações leigas oriundas da internet, que não possuem cunho científico e são usadas para gerar polêmica e atrair seguidores, ‘propõem’ que a caseína tenha um efeito inflamatório intestinal, porém quando se pesquisa com seriedade em fontes científicas (PUBMED), não é encontrado nenhum trabalho randomizado com humanos que demonstre esse processo inflamatório a partir do consumo de caseína. Para confrontar essa ‘mentira’ o grupo de pesquisa do professor Nicolas Deutz nos EUA, ofereceu caseína para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e observou que essa proteína ajudou a manter a síntese proteica deste tipo de pacientes hospitalizados altamente debilitados (3). Agora fica a reflexão aos ‘doutores’ das mídias sociais, se a caseína é uma ‘proteína inflamatória’, como ela pode ajudar na síntese proteica de pacientes acamados? A hipocrisia é tanta que quando se ingere queijos (uma ótima fonte de caseína), porque ninguém fala que é um produto inflamatório?
A literatura tem demonstrado que o uso de proteínas de lenta absorção pode auxiliar na manutenção da aminoacidemia por um tempo mais prolongado, ajudando na renovação e construção muscular. Isso foi demonstrado em um trabalho comparativo feito entre whey protein versus blend proteico, analisando a síntese proteica após treinamento. Conforme Reidy e colaboradores (4), a absorção prolongada dos blends proteicos podem estender o tempo que os aminoácidos ficam disponíveis no sangue (aminoacidemia) aumentando a demanda para os músculos, prolongando a atividade de síntese proteica por mais tempo, tendo um resultado ótimo de recuperação muscular. Um outro momento importante é o período pré-sono, já passamos um tempo prolongado dormindo e podemos aproveitar esse período para oferecer uma porção proteica antes de dormir, pois já existem trabalhos confirmando que 40g de proteína antes de dormir ajuda na manutenção da síntese proteica (5).
Com essas informações, o nutricionista pode auxiliar as pessoas na substituição de fontes proteicas de difícil consumo com proteínas de fácil consumo e lenta absorção. Por exemplo, um indivíduo realiza uma refeição às 10h da manhã, por estar no trabalho é difícil comer 11 claras de ovos cozidas onde ele não possui local acondicionar sua comida, sendo assim um blend proteico é indicado nesta situação, pela praticidade e logística, podendo assim ser muito mais fácil e adequado.
Vale lembrar que é sempre necessária a procura por um nutricionista gabaritado para ajustes individuais na dieta e suplementação alimentar.
Prof. Dr. Felipe Donatto
Mestre em Ed. Física
Doutor em Ciências (ICB-USP)
Nutricionista Expert Integralmedica
CRN3: 18.215
Referências:
1. Morton et al. Nutritional interventions to a ugment resistance training-induced skeletal muscle hypertrophy. FrontiersinPhysiology. 2015.
2. Stuart M. Phillips. The impact of protein quality on the promotion of resistance exercise-induced changes in muscle mass. Nutrition & Metabolism, 2016.
3. Engelen MP, Rutten EP, De Castro CL, Wouters EF, Schols AM, Deutz NE. Altered interorgan response to feeding in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Clin Nutr 2005;82(2):366–72.
4. Reidy et al. Soy-dairy protein blend and whey protein ingestion after resistance exercise increases amino acid transport and transporter expression in human skeletal muscle. J Appl Physiol 116: 1353–1364, 2014.
5. Jorn Trommelen and Luc J. C. van Loon. Pre-Sleep Protein Ingestion to Improve the Skeletal Muscle Adaptive Response to Exercise Training. Nutrients 2016.
6. Louise M. Burke, Julie A Winter, David Cameron-Smith, Marc Enslen, Michelle Farnfield, and Jacques Decombaz. Effect of Intake of Different Dietary Protein Sources on Plasma Amino Acid Profiles at Rest and After Exercise. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 2012.
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