SUPERAÇÃO

Superação - Ítalo Romano

Após um acidente ainda na infância, o jovem Ítalo Romano nos conta como superou os desafios através do skate

Superação - Ítalo Romano Para o atleta, o esporte veio como uma forma de se redescobrir, abrindo seus horizontes
Crédito: Marcello Zambrana
“Me chamo Ítalo, tenho 28 anos e sou de Curitiba/PR. No ano de 2001, fui acampar com mais três amigos: Thiago, Rafael e Nei. Estávamos fazendo um trajeto a pé até o local em que íamos acampar, uma distância de mais ou menos 30km. Mas, para chegar mais rápido ao destino resolvemos pegar ‘rabeira’ em um trem – fui o primeiro a subir. 
Quando segurei na escada para subir no trem em movimento, não consegui me segurar direito e cai embaixo da roda. O trem me arrastou por uns 10m. Meus amigos ao verem o que tinha acontecido comigo, correram para me encontrar, quando eles chegaram próximo estendi a mão para eles e nesse momento eles me puxaram, foi quando o trem cortou as minhas pernas.  
Perdi muito sangue até o socorro chegar, ao ser atendido recebi uma anestesia e acordei no hospital com as pernas amputadas.
Esse acidente aconteceu comigo quando eu era criança e tinha 11 anos. Acredito que o acidente – por ter corrido na infância – contribuiu para que o processo de superação fosse mais rápido – afinal se fosse no período da adolescência seria muito mais difícil e poderia me levar para uma depressão. 
Recebi o total apoio da minha família, que foi fundamental em todo o processo de recuperação física e psicológica. Como eu era criança, não pensava no acidente, só queria saber de brincar. Na época, eu ficava imaginando várias coisas e, principalmente, como meus amigos iriam me aceitar. 
Para minha alegria e de todos a minha volta ao receber alta do hospital, fui bem recepcionado pelos meus amigos e percebi que era uma insegurança somente da minha cabeça, um preconceito comigo mesmo. 
Meus amigos todos os dias iam até minha casa me chamar para brincar. No começo eu negava, mas aos poucos fui percebendo que eles queriam ficar próximos a mim, independentemente de qualquer coisa.
No mesmo ano, conheci o skate e às vezes, até me esquecia que era deficiente. Apenas queria aprender as manobras e como poderia subir nos obstáculos. Me sentia livre em cima do skate e nele eu não dependia da ajuda de ninguém, pois na cadeira, eu precisava de ajuda e não gostava de ter que pedir ajuda, queria ser independente. Por esse motivo o skate tornou o processo de superação e recuperação bem mais rápido!
Quando iniciei no skate lembro que eu era bem magro, quase não tinha força para dar as manobras que o skate exigia. Então, comecei a treinar na academia e tudo mudou. O foco do treino na academia era para facilitar as manobras em cima do skate. 
Me lembro até hoje que a primeira manobra que aprendi depois de iniciar a musculação, foi o ‘flip’ – uma manobra em que o skatista chuta o skate para trás com o pé da frente fazendo dar uma volta completa.  Depois do ‘flip’ as outras manobras vieram com mais facilidade, até mesmo para subir nos obstáculos, foi tudo num piscar de olhos. Com o treino na academia meu condicionamento físico melhorou muito e passei a ter mais disposição. Ao todo são 17 anos andando de skate. 
Em 2012, me torneio profissional dentro da modalidade. Um momento inesquecível daquele ano, foi quando participei de um campeonato profissional, Tampa Pro, nos EUA – estava concorrendo contra 130 skatistas e alcancei a 27ª colocação. Fiquei muito feliz com o resultado conquistado, pois foi o meu primeiro ano como skatista profissional.
O skate me trouxe grandes alegrias! Minha maior conquista dentro do esporte foi poder mostrar para as pessoas que é possível um deficiente descer a maior rampa de skate do mundo, a ‘Mega Rampa’ – evento idealizado pelo skatista, Bob Burnquist. Até então, a ‘Mega Rampa’ era somente praticada por pessoas que tinham as duas pernas. O que sou hoje é graças ao esporte, não sei o que seria de mim sem o skate. Agradeço por essa modalidade fazer parte da minha vida e da minha carreira”.

O IMPOSSÍVEL É QUESTÃO DE OPINIÃO
Na vida tudo se trata de ponto de vista. Qual a forma que você vê a sua vida? Quando se está diante de uma situação que não há saída, basta redirecionar o olhar. 
Ainda criança, Ítalo Romano, teve que encarar a dura realidade de que não poderia mais andar. Apesar do grave acidente que sofreu, na época ele percebeu, com a ajuda dos familiares e amigos, que não precisaria deixar de ser criança e que poderia levar uma vida normal. Com os amigos, conheceu uma brincadeira que lhe trouxe independência e que hoje se tornou sua profissão, o skate.
Para o atleta, o esporte veio como uma forma de se redescobrir, abrindo seus horizontes. A primeira modalidade que entrou de vez na vida de Ítalo foi o skate, que por precisar de mais força para as manobras lhe fez conhecer a musculação. Da musculação o interesse despertou para outras modalidades, como o vôlei sentado e o tênis de cadeira. 
“Há dois anos, eu treinava todos os dias somente com o skate, em torno de cinco horas por dia. Mas, de um tempo pra cá, conheci uma nova modalidade que é o tênis de cadeira de rodas/tênis de quadra e no momento estou dedicando mais tempo para esse meu mais novo esporte. Sempre que posso, treino bem intensivo, pelo menos dois dias, com o skate”, detalha o atleta.
O jovem Ítalo leva uma vida normal, como todos nós, enfrenta a correria do dia a dia e não deixa de lado a rotina de treinos. “Durante a semana tudo é bem intenso, todos os dias no período da manhã treino tênis, à tarde quando posso ando de skate e a noite treino vôlei sentado. Além disso, também sou adepto de musculação, que já prático há 12 anos”, explica o jovem skatista que aproveita as horinhas de folga durante o final de semana para aproveitar a companhia da namorada e ir ao cinema e parques.
As adversidades que aparecem ao longo da nossa vida são de certa forma necessárias, pois sem esses momentos ruins, os bons também não existiriam. O que parecia ser uma barreira para Ítalo Romano, na verdade era uma segunda chance. Após o acidente renasceu uma criança feliz que hoje se tornou uma pessoa realizada na vida pessoal e profissional.
Se você caro leitor, se encontra em uma situação semelhante ou que acha que não tem saída, o skatista, Ítalo Romano tem um recado especial para você: “Nunca desista dos seus sonhos! Se você tem um foco, batalhe para um dia acontecer. Meu sonho era ser profissional no skate, batalhei para isso acontecer. Jamais deixe alguém dizer que seu sonho não é possível, prove para essa pessoa que é possível! Bola pra frente, pois a vida segue e no final do túnel sempre há uma solução!”.  
Ítalo Fernandes de Lima 
Data de nascimento: 11/12/1989
Peso: 56kg
Altura: 1,31
Patrocinadores: Kronik e Evoke
 
Principais Títulos: 
2012 – 27º lugar - Tampa Pro, EUA
2009 – Campeão Paranaense Amador 

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Instagram: @italoromano

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