Tatiana Pizzato Galdino
Nutricionista – CRN2 9270
Mestre em Gerontologia Biomédica pelo IGG/PUCRS, Pós-graduada em Nutrição Clínica pela UGF/RJ, Graduada em Nutrição pelo Centro Metodista IPA/RS, Docente em cursos de Pós-Graduação em Nutrição e Treinamento Físico (iPGS, Sogipa, Unisinos, Faculdade Futuro/Curitiba, Ies/Aracajú)
Co-autora de capítulos de livros na área de nutrição. Speaker Recover
O século XX foi marcado por um crescimento populacional que vem modificando o panorama demográfico e o perfil de morbimortalidade da população mundial. É amplamente aceito que a dieta exerce importante papel na saúde dos indivíduos e a relação entre dieta, obesidade e saúde já apresenta respaldo científico.
O consumo de dietas ricas em compostos antioxidantes e anti-inflamatórios exerce efeito protetor no desenvolvimento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão arterial e doenças neurodegenerativas.
O consumo de frutas e vegetais é obrigatoriamente incentivado, justamente por serem fontes de compostos fitoquímicos.
Carotenoides, flavonoides, isoflavonoides e ácidos fenólicos são os principais compostos bioativos presentes nestes alimentos, os quais possuem ação antioxidante, anti-inflamatória, antidiabética, antiobesogênica e imunomoduladora.
Os flavonoides são os fitoquímicos mais comumente encontrados em hortifrutis, sendo a quercetina um dos mais estudados. A quercetina é encontrada principalmente em alguns alimentos, com: cebola (284 - 486mg/kg), couve (100mg/kg), maçã (21 – 72 mg/kg), vinho tinto (4 – 16mg/kg), brócolis (30mg/kg), tomate (8mg/kg) e chás (10 -25mg/kg). Além de sua concentração no alimento, a quercetina encontra-se em maior teor nas cascas, principalmente na da cebola (2,82mg/g) e na da maçã.
METABOLISMO DA QUERCETINA
Flavonoides são compostos polifenólicos que apresentam uma estrutura benzo-y-pirona presentes em frutas e vegetais. Dentre os flavonoides, a quercetina é a que possui um dos mais amplos efeitos bioativos sobre a saúde humana, por apresentar propriedades funcionais e ergogênicas.
A quercetina é absorvida no intestino delgado sendo hidrolisada pelas enterobactérias, a qual libera a aglicona correspondente no ceco e cólon. Já na circulação, os compostos são submetidos à metilação, glucoronidação ou sulfatação no fígado. Uma parte desse metabólito é excretada na bile e retorna ao lúmen intestinal sendo novamente hidrolisada e, posteriormente, degradada pelas bactérias intestinais em ácido fenólico, ácido 3-hidroxifenilacético e ácido 3,4-dihidroxifenilacético e, por fim, excretado nas fezes.
Apesar da quercetina ser amplamente distribuída em todos os tecidos, efeitos tóxicos da suplementação com consumo crônico de quercetina em dose de até 157mg/kg/dia ainda não foram registrados.
PROPRIEDADES FUNCIONAIS DA QUERCETINA NA SAÚDE E NA PERFORMANCE ESPORTIVA
A ação antioxidante dos flavonoides está diretamente ligada à capacidade sequestrante de radicais livres e quelante de íons metálicos, protegendo os tecidos da peroxidação lipídica e estresse oxidativo.
A quercetina, em particular, sequestra espécies reativas de oxigênio (OH e O2), inibe a xantina oxidase e a peroxidação lipídica, além de apresentar propriedade quelante e estabilizadora de ferro.
A ação antiobesogênica e antidiabética da quercetina tem sido investigada. Pesquisas que estimulam o aumento do tecido adiposo marrom têm sido realizadas como estratégia promissora para a prevenção da obesidade.
Em estudo com modelo animal, a quercetina, presente na casca da cebola, remodelou as características do tecido adiposo branco, favorecendo o escurecimento destes adipócitos, através da ativação da AMP-proteína quinase. Quanto ao seu feito antidiabético, a suplementação de quercetina (10-50mg/kg ao dia) em ratos Alloxan diabéticos normalizou a glicemia e o glicogênio hepático, além de reduzir colesterol sérico e LDL dos animais. Também se mostrou efetiva na redução da resistência à insulina, hiperlipidemia e inflamação em ratos Zucker obesos.
Estudos sugerem que mulheres que consomem uma maçã por dia possuem em média 30% menor risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2.
Kyung-Ah Kim et al, estudaram os efeitos da administração de um suplemento a partir do extrato da casca da cebola (286mg/g de quercetina) por 12 semanas em mulheres obesas, sobre a produção de espécies reativas de oxigênio e defesa antioxidante. Demonstraram uma diminuição de espécies reativas de oxigênio no plasma e aumento da concentração de superóxido dismutase no grupo suplementado, diminuindo o estresse oxidativo.
O treinamento físico é a melhor estratégia para aumentar o número e a função das mitocôndrias no músculo. A quercetina exerce efeito anti-inflamatório no exercício físico, uma vez que modula a sinalização intracelular, através da cascata de sinalização inflamatória, inibindo a ativação do fator de transcrição nuclear pró-inflamatória (NFkB).
A ação antioxidante da quercetina inibe o processo de formação de radicais livres em três etapas diferentes: na iniciação, pela interação com íons superóxido, na formação de radicais hidroxil, por quelar íons de ferro, e na peroxidação lipídica, por reagir com radicais peroxi de lipídeos.
O aumento no conteúdo mitocondrial é essencial para a melhora em exercícios de endurance. Todo este processo é mediado pela elevação dos níveis de cálcio intracelular durante a contração muscular e envolve a expressão coordenada de genes mitocondriais e nucleares, incluindo a expressão do PGC-1 a (peroxisome proliferator activated receptor gamma coactivator 1 – alpha).
Os primeiros estudos indicaram aumento no conteúdo mitocondrial a partir da suplementação de quercetina e como consequência, maior resistência durante os exercícios, foram com animais. Davis et al, encontraram maior expressão do PGC-1 a e do SIRT1, além de maior tempo para fadiga em corrida em esteira, após sete dias de suplementação de quercetina em ratos. Niemann et al, mostraram que, após duas semanas de suplementação de quercetina (1000mg/d) em indivíduos não treinados, houve pequena, mas significativa melhora em teste em esteira rolante, além de aumentos modestos no número de DNAs e RNAs mensageiros mitocondriais de quatro genes relacionados a biogênese mitocondrial.
Outro efeito importante da quercetina sobre a performance esportiva seria o seu efeito psicoestimulante muito simular ao da cafeína. Por apresentar maior afinidade por receptores de adenosina que outros flavonoides, a quercetina é capaz de bloquear receptores de adenosina no cérebro, aumentando o efeito da dopamina durante a prática esportiva. Seria, portanto, um recurso ergogênico interessante e possível de ser utilizado, principalmente em indivíduos sensíveis à cafeína.
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