“Meu nome é Carlos Alberto Cristóvão dos Santos, mais conhecido no meio esportivo como Carlos Cristóvão. Tenho 40 anos e nasci em São Bento do Sapucaí, interior de São Paulo. Pratico esporte desde os sete anos, participei de jogos regionais, kung fu e capoeira. Sempre gostei de nadar e comecei há pouco a treinar triathlon. Sou atleta de mountain bike há 26 anos, minha formação é em nutrição e educação física e desde 2015 atuo como treinador em minha cidade natal, próxima a Campos do Jordão e São José dos Campos. Além dos altos níveis de adrenalina e liberação constante de endorfina, ao andar de bicicleta é possível trabalhar quase todas as regiões do corpo ao mesmo tempo: quadríceps posterior da coxa, panturrilha, glúteos, abdominal e extensores da coluna. Até mesmo os músculos dos ombros, braços e antebraços são desenvolvidos.
O ciclismo é um dos melhores esportes para quem deseja se manter saudável. Pedalar envolve uma série de exercícios, tanto na bicicleta, quanto fora dela: fora, temos treinamentos como leg press, para trabalhar os quadris; agachamento smith, para os membros inferiores; supino, entre outros. Já na bicicleta, temos treino de prospecção para o equilíbrio, subida e velocidade.
Acredito que um atleta se supera todos os dias, seja na busca pelo patrocínio ou no aperfeiçoamento do esporte que pratica. Mas, minha maior superação, sem dúvidas, foi quando sofri um acidente em meados de 2003, no auge da minha carreira. Nessa época eu havia sido convidado pela Bianchi (montadora Italiana de bicicletas) para treinar na Itália para a categoria Elite. Tinha também acabado de me classificar para uma prova em que representaria o Brasil nos Jogos Panamericanos, quando fui atropelado por um ônibus. Quebrei um braço, quatro costelas do lado esquerdo, tive uma protusão na coluna lombar (L3 e L4), perdi a fala, quebrei os dentes, tive algumas escoriações, quebrei a espinha da escápula e por isso perdi o movimento do braço esquerdo. Tive uma lesão no lobo esquerdo, responsável pela fala e audição. Contudo, não pude treinar na Itália e nem participar dos jogos, no entanto, não precisei passar por cirurgia e nenhum órgão foi atingido. Todos ficaram surpresos e os médicos disseram que, pelo trauma, eu poderia ter morrido, mas meu bom condicionamento físico contribuiu para que eu me salvasse”.
NASCIDO DE NOVO
Segundo o atleta Carlos Cristóvão, sua recuperação foi rápida: três meses em repouso e fazendo tratamento, incluindo sessões de fisioterapia e fono. Ao longo desse tempo, ele pôde se dedicar mais aos estudos das faculdades de educação física e nutrição.
“Fui me cuidando, consegui bons médicos que me ajudaram a ser persistente ao longo da jornada. Meus pais também sempre me apoiaram nesse esporte, não puderam me auxiliar financeiramente, mas o apoio emocional que veio deles foi fundamental. Infelizmente, durante esse período, acabei perdendo os patrocínios, por conta do tempo de contrato, mas estou em busca de patrocinadores novamente. Em 2005, já de volta às competições, comecei a sentir algumas dores, mas me cuidei e fiquei ainda melhor. Até hoje continuo correndo, mesmo com alguns resquícios das lesões e essa foi a minha maior superação. Depois da recuperação, fui vice-campeão de uma prova, perdendo apenas para um campeão mundial, o americano Tinker Juarez. Hoje estou tentando me classificar, tenho várias provas na agenda e pretendo dar muito trabalho ainda”, brinca.
A aptidão e a paixão de Carlos Cristóvão pelo ciclismo sempre foram nítidas, tanto que, ao longo de sua trajetória, conquistou importantes títulos como: Vice-campeão Brasileiro de Cross Country; Campeão Paulista de Cross Country; Melhor atleta do Vale do Paraíba; Campeão da volta de Santa Catarina de Mountain Bike; Campeão do 12 horas (várias edições); Vice-campeão Brasileiro dos Jogos Universitários em Curitiba; Atleta que representou o Brasil em dois mundiais (2005 e 2010); Campeão Interestadual de Cross Country; Campeão Paulista de ciclismo de estrada e Motobike; Campeão de 21km; Vice-campeão do KTR em Campos do Jordão; Vice-campeão de corrida de montanha 12km; Campeão da EcoMotion; Campeão da KMTB e Campeão no Big Biker.
ROTINA SAUDÁVEL
Atualmente, Carlos também aplica seus conhecimentos em sua academia (Saúde e Performance) como treinador de ciclismo profissional e recreativo. A escolha de ensinar em São Bento do Sapucaí foi estratégica, afinal por ser uma cidade do interior, possibilita que o ciclista se envolva com a natureza, desfrute da paisagem, do ar puro e das inúmeras trilhas.
“Treino bike em São Bento do Sapucaí, Taubaté, Campos do Jordão e sul de Minas Gerais. Não posso reclamar da minha vida, está muito boa! Sou preparador físico de atletas de diversas modalidades, entre o pessoal da escalada, vários foram campeões brasileiros. Treino atletas de corridas de montanha e um dos meus alunos foi para um mundial na Itália e na Espanha. Sem contar que, aos finais de semana, presto serviços de passeios de bicicleta por trilhas locais”, explica.
Além disso, Carlos conta que, normalmente, treina de duas a três horas por dia, mas como está se preparando para uma prova, o treino se intensifica para quatro a cinco horas, seis vezes por semana. “Quando o corpo pede mais descanso, diminuo o ritmo, precisamos respeitar nossos limites. Também tenho o meu day off, mas apenas no treinamento, pois continuo trabalhando na minha academia ou como nutricionista. Eu mesmo cuido da minha nutrição, tenho 1,77m de altura e meu peso atual é 72kg. Me alimento a cada duas horas, seja com uma barrinha de proteínas ou com uma fruta, especialmente nos treinamentos. Procuro evitar comidas industrializadas e sempre balancear as refeições, pois o alimento é o nosso principal combustível. Sempre que necessário, reponho todos os sais minerais e me dou o descanso ideal. Consumo entre três e quatro mil calorias por dia (na fase em que eu treinava muito, cheguei a seis mil), então preciso prestar atenção para não passar do limite. Faço sete refeições por dia: dejejum, snack, almoço, lanche da tarde, segundo lanche da tarde, jantar e ceia. Além de me hidratar com no mínimo três litros de água. Procuro me alimentar com carboidrato bom, riqueza em proteínas, especialmente no meu pós-treino, para acelerar a recuperação muscular. Faço uso, também, de suplementos há 25 anos. São eles: whey protein, dextrose, maltodextrina, creatina, polivitamínicos, vitamina C, ferro, isotônicos, carboidratos em gel e, às vezes, alguns termogênicos, quando estou na fase de perder peso para melhorar o desempenho esportivo. Sempre pratiquei musculação, que contribui para prevenir lesões, fortalecer os músculos, além de melhorar minha postura, força e flexibilidade”, enfatiza o ciclista.
Para finalizar e inspirar outras pessoas e atletas, Carlos ressalta o que conseguiu aprender através de sua história de superação: “Estar naquela situação, impedido de fazer o que amo, poderia facilmente ter me levado a desistir, mas não foi o que aconteceu. O esporte me trouxe muitas coisas importantes: consigo lidar bem com as dificuldades da vida, pois o atleta sente dor do começo ao fim, precisa ter persistência e amar o que faz. As dificuldades acontecem todos os dias, acredito que para obter a vitória, é necessário passar pela derrota”, finaliza.
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