Carlos Eduardo Martins
Nutricionista com Especialização em Nutrição Esportiva
Mestrado pela Ciências Farmacêuticas - USP
Doutorando pela Medicina - USP
Professor de Pós-Graduação em Nutrição Esportiva
Nutricionista na Clínica Malka - SP
A eficácia dos suplementos pode ser difícil de isolar quando são usados dentro da dieta geral ou em suplementos mistos (blend). No entanto, os benefícios podem ser mais facilmente detectados quando são consumidos especificamente antes, durante ou após uma sessão de exercício e de maneira isolada. Os suplementos que aumentam o desempenho e que alegam obter benefícios diretos ou indiretos, representam um desafio maior em termos de evidências científicas robustas. Com poucas exceções, existe escassez de pesquisas e muitos dos estudos disponíveis não são de qualidade suficiente para justificar a sua aplicabilidade na área esportiva. Logo, pode-se concluir que existem muitos suplementos com apelo de melhora, mas sem comprovação científica consistente.
A beta-alanina ou β-alanina é um aminoácido não proteogênico, produzido endogenamente no fígado e compõe o time de suplementos que realmente melhoram a performance como cafeína, creatina e bicarbonato de sódio. Vale ressaltar que humanos adquirem beta-alanina através do consumo de alimentos proteicos como aves, carnes e peixes.
A beta-alanina ganhou popularidade dentro da sociedade esportista no ano de 2000, após o trabalho de Harris e colaboradores mostrarem benefícios. Aproximadamente, mais de 60% das equipes esportivas fazem o uso deste suplemento, de maneira isolada ou em blends (isto é, pré-treinos). Todavia, no Brasil, a beta-alanina ainda é pouco conhecida.
A suplementação de beta-alanina tem como objetivo aumentar as concentrações de carnosina, sendo esta capaz de melhorar a performance. Humanos têm aproximadamente 10 – 40mmol/kg de carnosina, sendo maior em homens e carnívoros do que em mulheres e vegetarianos e em fibras musculares de contração rápida (brancas do tipo II) comparado com fibras de contração lenta (vermelhas do tipo I). O principal objetivo de suplementar com beta-alanina é aumentar as concentrações de carnosina no músculo esquelético.
A carnosina é um dipeptídeo composto de β-alanina e L-histidina, encontrado naturalmente na musculatura esquelética, cérebro e coração. A carnosina pode ser sintetizada facilmente por meio da suplementação de beta-alanina. Em especial, a carnosina atua como um agente tamponante físico-químico durante exercícios de alta intensidade, reduzindo a acidose muscular e atenuando a fadiga muscular. Ainda por cima, a carnosina apresenta atividade antioxidante, atividade quelante de íons metálicos, espécies reativas de oxigênio e radicais peroxila, antiglicação de proteínas, inibição da formação de produtos finais de lipoxidação avançada e produtos finais de glicoxidação avançada e pode agir para aumentar a sensibilidade ao cálcio (Ca++), além disso, tem ganhado destaque em condições clínicas como o diabetes mellitus.
Dessa maneira, por que não suplementar com carnosina ao invés da beta-alanina? Porque pesquisas mostram que em humanos, a suplementação de carnosina é rapidamente degradada no plasma, o que impede o aumento das concentrações na musculatura esquelética (ao contrário do que acontece em estudos com ratos). Assim, uma forma de passar pela circulação sanguínea e rapidamente ser transportado para o trato gastrointestinal e atingir um pico de concentração plasmática após 30 a 45 minutos e então transportado para os tecidos-alvo sem perder sua propriedade é suplementando com beta-alanina. A literatura já considera a beta-alanina uma forma eficaz e segura para aumentar as concentrações de carnosina em humanos.
O primeiro estudo a investigar os efeitos da suplementação de beta-alanina na performance física em teste supra máximo, ocorreu em 2007 e o resultado mostrou uma melhora de 16,2% na performance por 10 semanas de suplementação. Já foi reportado também que a suplementação é capaz de aumentar o tempo de exaustão durante o ciclismo (+10%) após 4 semanas de beta-alanina (4,0 – 6,4 g/dia) em homens ativos.
Em um estudo que durou 24 semanas (de suplementação de beta-alanina em bicicleta ergométrica) melhorou em todos os momentos dando destaque nas semanas finais, correlacionando com a alta concentração de carnosina muscular.
Em homens treinados em musculação, 4,8g/dia de suplementação com beta-alanina após quatro semanas mostrou aumentar o volume de treino.
Um outro estudo mostrou que a suplementação com beta-alanina (4,8 g/dia por quatro semanas) aumentou a concentração de carnosina e atenuou a fadiga em cinco episódios de 30 contrações dinâmicas máximas em homens treinados. Outro estudo ainda mostra que a beta-alanina diminui a fadiga neuromuscular em homens após 28 dias de suplementação e um último estudo avaliou 5 semanas de suplementação com beta-alanina (6,4g/dia) e mostrou melhora tanto em carga como em potência.
Portanto, pode-se concluir que quatro semanas de suplementação de beta-alanina é suficiente para gerar efeitos na performance. No entanto, um estudo mostrou que 18 semanas de suplementação é um tempo ideal para atingir um pico máximo de melhora na performance pelo fato de aumentar as concentrações de carnosina muscular.
EFEITO COLATERAL
A beta-alanina pode causar formigamento na pele (isto é, parestesia). Até o momento, não há evidências de que o formigamento seja prejudicial à saúde. A parestesia tipicamente acontece na face, pescoço, costas e mãos. Nem todos os indivíduos adquirem, pois, esse efeito colateral tem relação com a dose-resposta, mas quanto maior a dose, maior o formigamento. Uma forma de evitar este efeito colateral é fracionar o suplemento em 1g, várias vezes ao dia.
O segundo efeito colateral da beta-alanina é a diminuição das concentrações de taurina (estudo em animais). Beta-alanina e taurina compartilham o mesmo receptor dentro do músculo. Embora se saiba que ambas compartilham o mesmo receptor, há um artigo realizado em humanos afirmando que a suplementação de beta-alanina na dose de 10–4 mg/kg por quatro semanas não resulta em diminuição da taurina.
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