SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Infantil: Meu filho não come, e agora?

Muitas crianças se tornam seletivas porque os pais aceitam a vontade delas na primeira tentativa de introdução

Infantil: Meu filho não come, e agora? Os pais precisam respeitar o apetite dos seus filhos
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Camila Garcia
CRN 34782
Formada em nutrição pela PUC-Campinas e pós-graduada em saúde e nutrição infantil pela Unifesp. “Acredito no poder da alimentação infantil como essência de um mundo mais leve e saudável”

Seria realmente muito bom se tudo na vida fosse aprendido de um dia para o outro, mas a verdade é que qualquer aprendizado leva tempo e geralmente necessita de pelo menos um pouco de prática.
É comum acharmos que as pessoas já nascem sabendo comer, mas não é bem assim. Quando nascemos precisamos aprender a mastigar e engolir da mesma forma que andar ou falar. Durante os seis primeiros meses de vida a alimentação do bebê é baseada em um único alimento: o leite materno.
Só a partir dos seis meses ele passa a ter contato com outros tipos de comida. Essa mudança nem sempre é fácil porque até então ele não conhece nenhum outro sabor ou textura, só o leite materno ou a fórmula infantil em casos especiais.
Ou seja, tudo é uma novidade que precisa de tempo para ser processada. Na maioria das vezes em que a criança rejeita os alimentos é exatamente disso que se trata, de necessidade de adaptação. Com o tempo, se os pais conseguem estimular uma boa relação com a comida, a tendência é que os filhos passem a aceitar melhor diferentes tipos de alimentos. 
Se a criança é saudável e está começando a introdução alimentar agora é normal, até certo ponto, que ela rejeite alguns alimentos. Mesmo assim, é importante continuar expondo-a à um cardápio diverso, justamente para evitar que ela desenvolva seletividade alimentar no futuro. Podemos dizer que é aí que muitos pais têm se equivocado.
Muitas crianças se tornam seletivas porque os pais simplesmente aceitam a vontade delas na primeira tentativa de introdução, sem estimular de forma adequada sua aceitação aos alimentos.
Precisamos entender que a introdução alimentar a partir dos seis meses é um período de total aprendizado, tem menos a ver com nutrição do que a maioria das pessoas imagina e mais a ver com a construção de bons hábitos. Se os pais entenderem isso logo no começo e aprenderem a estimular seus filhos, as chances de sofrerem com rejeição alimentar são quase nulas. Mas como fazer isso? 
Não é uma questão de forçar o bebê a comer, mas existem algumas formas de incentivar a sua aceitação às comidas. A primeira coisa é não desistir. Se a criança, por exemplo, não aceita um alimento durante a introdução alimentar a tendência é que os pais não ofereçam mais aquela comida. Afinal, ninguém deveria ser obrigado a comer o que não gosta, certo?
A crença é que o bebê não gostou daquele alimento. Claro que todo mundo tem preferência por um ou outro sabor, mas no período de introdução alimentar é importante não assumir à princípio que o bebê rejeitou determinada comida, na maioria das vezes é uma questão de aprender a gostar, o que nunca irá acontecer se ele não tiver contato com aquele sabor ou textura novamente.
Se a criança demonstra não querer algum alimento recomenda-se que mesmo assim os pais continuem oferecendo sempre que possível. Além disso, é importante deixar o bebê perceber a comida na rotina da casa. Ajuda muito ver o alimento no cardápio da mamãe, ter a liberdade de pegar e levar à boca, sentir as diferentes texturas ainda cruas, participar da compra do produto na feira ou no supermercado e, em casos de crianças maiores, até participar da preparação do prato. Tudo isso pode ser muito incentivador para o pequeno. 
Alguns erros também devem ser evitados. Muitos pais ou cuidadores ficam desesperados quando a criança não quer comer, a solução mais fácil para eles muitas vezes é ceder e dar a mamadeira no lugar. Isso não é recomendado porque o bebê perde a oportunidade de exercitar a mastigação, que é extremamente importante para o desenvolvimento da fala e do sistema digestivo. Se ele não quer comer os pais podem esperar até a próxima refeição e tentar novamente.
Outra preocupação é em relação à quantidade, criança que come pouco não é saudável segundo a crença popular. Isso não é verdade. No período da introdução alimentar podemos focar apenas na qualidade da alimentação. Os bebês têm o estômago pequeno e podem comer pouco mesmo e ainda assim esbanjar saúde. Os pais precisam respeitar o apetite dos seus filhos.
É importante também tomar cuidado com a preparação do ambiente em que a criança será alimentada. O momento da refeição deve ser tranquilo e não algo estressante para o pequeno. Os pais devem evitar ficar seguindo a criança pela casa insistindo que ela coma. É recomendado também que evitem distrações como celular, tablet ou televisão. Isso pode até ajudar a criança a comer, mas esse tipo de distração tira o foco da comida e compromete o aprendizado sobre os alimentos, que é sempre o mais importante. 
No mais, os pais devem dar o exemplo. Crianças imitam adultos, se a mamãe não come brócolis como pode exigir que o filho coma? Refeições em família, uma boa rotina com horários pré-definidos e momentos agradáveis com a criança na hora da refeição serão um estímulo e tanto para que o pequeno se alimente cada vez melhor, são detalhes que fazem toda a diferença.
A essência da introdução alimentar é essa: não adianta a criança comer se ela não aprender nada. Para que ela aprenda é importante ter diversidade de alimentos no cardápio e contato de formas diferentes com cada textura e sabor. 
A alimentação infantil sempre foi um tema de grande interesse para as mães, mas a relevância deste assunto está ganhando uma abrangência cada vez maior. Antigamente não se falava tanto sobre essa visão que temos hoje de que a introdução alimentar é um aprendizado que pode ajudar a criança a se tornar um adulto com bons hábitos alimentares que serão levados para a vida toda. 
Se continuarmos discutindo sobre isso, desmistificando crenças populares sobre nutrição infantil e levando informação aos pais é provável que a próxima geração seja muito mais saudável, com menores índices de obesidade e diminuição do surgimento de doenças ligadas a má alimentação.
Para os pais resta manter a calma e observar seus filhos, se tudo está sendo feito da forma recomendada, mas o bebê tem muita rejeição aos alimentos e está perdendo peso, o ideal é buscar ajuda profissional para que não se torne um problema maior no futuro.

Camila Garcia

Nutricionista

CRN  - 34782

Formada em nutrição pela PUC-Campinas e pós-graduada em saúde e nutrição infantil pela Unifesp.
“Acredito no poder da alimentação infantil como essência de um mundo mais leve e saudável”

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