PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo: Metabologia do Esporte

A relação entre fisiologia gastrointestinal e o desempenho físico humano

Artigo: Metabologia do Esporte O intestino fabrica e utiliza mais de 30 neurotransmissores ou neurohormônios
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Dr. Edson Carlos Z. Rosa
Cirurgia da Face.
Fisiologia Humana e Metabologia do Esporte
Desempenho e Performance Física
Instagram: @edsoncarlosrosa 

Podemos verificar nos últimos anos, que as pesquisas científicas vêm demonstrando frequentemente o envolvimento da flora intestinal na regulação de processos mediados pelo sistema nervoso central (SNC), o que tem despertado grande interesse de boa parte da comunidade científica. Nesse sentido, diversos estudos vêm revelando como a composição da flora intestinal pode participar da fisiologia humana geral do organismo humano, beneficiando o metabolismo energético durante a prática esportiva, bem como na manutenção da saúde e qualidade de vida.
Vocês já ouviram falar que nós seres humanos possuímos dois cérebros? Pois então, essa notícia é verdadeira, isso porque fisiologicamente, além do nosso cérebro e Sistema Nervoso Central (SNC), temos um comando fisiológico com uma auto-regulação intrínseca totalmente independente, localizado no intestino humano.
Dessa forma, atualmente nós pesquisadores, nomeamos o órgão intestinal como o segundo cérebro humano, pois sabemos que o mesmo possui uma íntima relação com o cérebro e ambos estão interligados, principalmente na produção e troca de neurotransmissores e demais substâncias, incluindo hormônios.
Essa comunicação fisiológica, na qual denominamos de eixo encéfalo-intestinal, ocorre com frequência, utilizando diferentes caminhos, tais como o meio endocrinológico, imunológico e/ou neuronal, sendo diretamente influenciado pela composição da flora bacteriana intestinal, que denominamos de microbioma.
Atualmente, sabemos que o intestino fabrica e utiliza mais de 30 neurotransmissores ou neurohormônios, que são substâncias envolvidas na transmissão e processamento das informações pelos neurônios, tanto do intestino quanto do cérebro humano, com destaque ao neurotransmissor (5 HT ou Ácido 5 hidroxi-triptamina, mais conhecido como serotonina), onde recentemente tivemos uma descoberta inusitada, que revelou que o intestino fabrica e armazena mais serotonina (5HT) do que o próprio cérebro humano, contribuindo com cerca de 95% da produção de serotonina em seres humanos. Com essa revelação bombástica, podemos dizer que cuidar do microbioma contido no trato gastrointestinal (TGI), passou a ser uma necessidade vital, pois além de ter uma importante interligação com o cérebro, o intestino é responsável pela absorção de moléculas que ingerimos como exemplo: nutrientes, medicamentos, vírus, bactérias e substâncias tóxicas ao organismo humano. 
                  
MODULAÇÃO GASTROINTESTINAL E MICROBIOMA HUMANO
Podemos revelar que nós seres humanos, carregamos uma população extensa e silenciosa dentro de nós constantemente e que sem ela, não existiria chances de vida humana, sabem por quê?                                Simplesmente porque existe uma média de dez células bacterianas para cada célula humana e que juntos, esses trilhões de micro-organismos cumprem funções fisiológicas vitais ao organismo humano, como a digestão de alimentos, metabolização de medicamentos, modulação do sistema neuro-imuno-endocrinológico, dentre outros.   
A essa íntima interação entre células bacterianas e células humanas, utilizamos o termo bioma ou microbioma, ou seja, em poucas palavras, é o conjunto de bactérias e outros micro-organismos que habitam o organismo humano, sendo que o mesmo atualmente ocupa um papel de tanta relevância na ciência, que alguns pesquisadores já o consideram como o segundo genoma humano.                                                                 
Os humanos, assim como outros mamíferos, vivem uma relação harmônica com grande quantidade de micro-organismos (como vírus, fungos e protozoários), que estão presentes em toda a extensão da pele até no intestino, onde há maior concentração deles (principalmente bactérias). Estes micro-organismos comensais e o hospedeiro humano estabelecem uma relação simbiótica de harmonia, que envolve proteção contra patógenos, absorção e distribuição de nutrientes e metabolização de substâncias tóxicas, enquanto o ser humano (hospedeiro) fornece as condições ideais para que estes vivam em segurança. Além disso, estudos recentes têm mostrado que essa relação pode ir além e alterar funções fisiológicas, como digestão e saciedade, tendo uma influência direta no controle de funções neurológicas, através do canal de comunicação entre o trato gastrointestinal (TGI) e o Sistema Nervoso Central (SNC), denominado eixo encefálico-intestinal, sendo essa via de comunicação, de origem hormonal, nervosa e/ou imunológica. Nos últimos anos, pesquisadores têm demonstrado que a interação entre o SNC e o trato GI é fortemente modulada pela flora intestinal e vai além da regulação da função digestiva e saciedade, sendo também associada com inflamações intestinais e distúrbios alimentares, bem como na modulação de respostas ao estresse e o comportamento dos seres humanos.                          
Por outro lado, qualquer alteração no microbioma pode configurar um quadro clínico que chamamos de disbiose intestinal, sendo um quadro de desequilíbrio causado pela alteração quantitativa ou qualitativa dos micro-organismos localizados no trato gastrointestinal (TGI), onde normalmente ocorre uma maior sobrevivência microbiana de bactérias Gram-, ricas em LPS (lipopolissacarídeo), aumentando o risco de evolução para endotoxemia metabólica (inflamação do tecido adiposo associado ao quadro de resistência periférica a insulina).

METABOLISMO DO TRATO GASTROINTESTINAL E DESEMPENHO FÍSICO
Como já mencionado nesse artigo, a microbiota intestinal saudável é importante para regulação da resposta adaptativa ao exercício e atividade física, pois sabemos que atletas expostos a exercícios de alta intensidade, principalmente em modalidades esportivas de predomínio aeróbico, podem apresentar alguns sintomas gastrointestinais como diarreia, cólica, náuseas, sangramentos, podendo evoluir para quadros de disbiose com comprometimento da absorção intestinal de nutrientes importantes para as funções vitais do organismo, principalmente no que tange o metabolismo esportivo, altamente dependente da oferta celular de nutrientes.
Atualmente já é bem fundamentado na ciência, que a prática constante do treinamento físico pode induzir ao aumento da produção de moléculas reativas de oxigênio (famosos radicais livres), contribuindo para o aumento da permeabilidade da parede intestinal, podendo levar a presença de antígenos (vírus, fungos ou bactérias) ou ainda substâncias tóxicas como metais pesados ou outros compostos, o que culminaria a grandes prejuízos ao metabolismo gastrointestinal, uma vez que bactérias benéficas possuem diversas ações no intestino, como contribuição para a absorção de nutrientes, produção de algumas vitaminas (ex: vitamina K/ filoquinona), regulação metabólica do sistema imunológico e endocrinológico, participando efetivamente na otimização de alguns hormônios produzidos por células especializadas do intestino delgado, sendo muitos relacionados à saciedade, tais como a colecistocinina (CCK), serotonina, GLP-1, e o PYY.
Os hormônios da saciedade produzidos por células intestinais, atuam no cérebro e no estômago, promovendo um retardo no esvaziamento gástrico, mediante a ação conjunta com o hormônio leptina, que consequentemente estará estimulando o núcleo arqueado hipotalâmico no cérebro (SNC) a produzir um grupo de neurotransmissores anorexígenos como a POMC (Pró-Ópio- Melanocortina) e CART (Transcrito regulado pela Cocaína e Anfetamina), induzindo a saciedade e contribuindo para diminuição do percentual de gordura e emagrecimento.
Desse modo, podemos afirmar que uma possível disbiose intestinal, irá influenciar diretamente a performance física e esportiva, uma vez que além de comprometer a absorção adequada de nutrientes necessários às reações de anabolismo e/ou lipólise corporal, irá alterar a produção de hormônios periféricos e centrais essenciais ao correto equilíbrio homeostático corporal, diminuindo a produção energética celular, além de prejudicar a eliminação de espécies reativas de oxigênio e substâncias tóxicas, podendo cronicamente estimular o surgimento de determinadas doenças, como síndrome metabólica, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, neoplasias (cânceres), dentre outras.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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