Um dia me pego lendo um verso de Drummond onde ele elegantemente diz: “Eu sei que o esporte é assim mesmo: um dia a gente ganha, outro dia a gente perde. Mas porque é que quando a gente ganha, ninguém se lembra que o esporte é assim mesmo?”. Não é preciso que os cientistas iluminados pela sabedoria nos ajudem a perceber que o esporte carrega no seu bojo, a emoção, enquanto componente integrante de sua essência é capaz de despertar sentimentos múltiplos.
Sabe-se que estruturas cerebrais, de forma integrada, coordenam uma rede de informações que formam a base das emoções. No cérebro, ou mais especificamente no córtex cerebral, situa-se o local responsável pela tomada de consciência das emoções que sentimos, e simultaneamente dependendo da consciência e intensidade dessas emoções, nosso organismo manifesta alterações orgânicas compatíveis. Sequencialmente e de forma integrada, as emoções invadem outras áreas cerebrais, como por exemplo, as porções subcorticais, cuja função é preparar o organismo para a reação necessária, comunicam nossos estados emocionais ao ambiente e às outras pessoas formando a base do comportamento emocional. Neurocientistas atribuem ao córtex cerebral a capacidade de criar uma resposta consciente, frente a um estímulo periférico traduzido pelos órgãos do sentido, sendo compatíveis com as expectativas do indivíduo no contexto social em que se encontra.
Essas estruturas subcorticais envolvidas na emoção ocupam distintos territórios no cérebro, controlam os níveis de atividade nas diferentes áreas do encéfalo, regulam os impulsos da motivação, bem como as sensações de prazer ou punição, de forma que se integralizam em grande parte no sistema límbico (estruturas cerebrais responsável pelas emoções). As áreas límbicas comandam os comportamentos necessários à nossa sobrevivência, cria e modula funções específicas que permitem ao homem distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada, é ali que se desenvolvem funções afetivas, é o lócus de sentimentos como a ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza.
É interessante acrescentar que existe uma intrincada rede de informações que são constantemente transferidas a uma grande área cerebral denominada hipotálamo, onde se processam inúmeras informações/ações de fundo neural e endócrino, necessárias à constância e equilíbrio do meio-orgânico e das respostas emocionais. Perceba que interessante, as mesmas áreas que controlam o comportamento emocional coordenam os ajustes térmicos, o impulso para comer e beber, o prazer ou a raiva, a aversão, a tendência ao riso (gargalhada) incontrolável, sendo atribuído ao hipotálamo o título de centro da expressão (manifestações sintomáticas)dos estados emocionais.
Quando a emoção é transcrita em sintomas físicos surge uma rede de informações, integrando o hipotálamo e os centros límbicos, provocando ansiedade intensa, e sequencialmente, reações são deflagradas - tais como hipersensibilidade emotiva, com reações motoras vivas, sobretudo nos domínios da mímica facial e expressões vocais, desequilíbrio motor traduzido por tremores emotivos típicos como o tremular nas extremidades, estremecimentos, arrepios, bater dos dentes, inibições funcionais e impotências motoras transitórias como afrouxamento das pernas, elevação na frequência cardíaca, alterações na circulação periférica caracterizadas por sensações subjetivas de calor e de resfriamento, principalmente nas extremidades, além de crises de choro.
Vamos tentar elucidar os eventos que se encontram na interface entre o físico e o mental, e na interface emocional situada entre o ganhar e o perder. Vamos destacar inicialmente pontos positivos, uma vez que, sabe-se que a atividade física promove sensação de bem-estar, devido à presença de um neurohormônio denominado endorfina, que é produzido pelo sistema nervoso através do estímulo de exercícios físicos e que modula a dor, além de minimizar as respostas ao estresse.
Na sua presença ocorre aumento da disposição física e mental, desencadeia a sensação de bem-estar, alivia as dores, melhora a resistência física e a tolerância ao esforço físico, melhora o humor, etc. Estudos envolvendo tomografias realizadas em corredores mostraram a ativação de áreas ligadas à emoção por causa da liberação da endorfina. Os participantes da pesquisa relataram ainda que, após o término da atividade, sentiram um aumento de euforia e de bem-estar promovendo um “vício” pela atividade, uma vez que o organismo se acostuma com as boas sensações geradas. Vamos interpretar as respostas neuroendócrinas desencadeadas antecedendo uma prova esportiva, situação em que o cérebro interpreta como condição indutora de alarme uma vez que há competição.
Nesta condição desencadeia-se uma reação de alarme eprontidão dando início às mudanças nas condições orgânicas de equilíbrio, promovendo a secreção de diversos hormônios, principalmente representados pordescargas de adrenalina, os quais de forma integrada eleva a frequência cardíaca, eleva a liberação de glicose pelo fígado, eleva a frequência respiratória, promovem dilatação da pupila e deixam o organismo desperto. Na realidade, toda essa revolução fisiológica visa colocar todo o organismo em alerta, entendendo que uma pequena ansiedade é o requisito psíquico para a manutenção deste estado de alerta.
Vamos interpretar as respostas neurais caso os objetivos não sejam atingidos, como por exemplo, em uma derrota. Nesta condição, as áreas do sistema nervoso são ativadas e o hipotálamo interpreta a situação enquanto a condição indutora de estresse contabiliza a intensidade dos fenômenos estressores sensoriais ou físicos e rapidamente deflagra uma intensa secreção de hormônios que participam da reação frente ao estresse, dentre eles, o cortisol, a adrenalina, a noradrenalina, etc.
O conjunto de ações provocadas por esta junção de hormônios promove decréscimo da concentração e da extensão da atenção, a velocidade de resposta torna-se imprevisível: a velocidade real de resposta reduz-se, as tentativas de compensação podem levar a decisões apressadas, aumenta o índice de erros, deterioram-se os poderes de decisão e planejamento a longo prazo: a mente não pode avaliar com exatidão as condições existentes nem prever asconsequências futuras; a objetividade e os poderes de crítica são reduzidos, os padrões de pensamento tornam-se confusos. Os efeitos emocionais são representados pelo aumento das tensões físicas e psicológicas: reduz-se a capacidade de relaxamento do tônus muscular, de se sentir bem, desaparecem as sensações de saúde e de bem-estar; a pessoa pode tornar-se indiferente, aumentam as explosões emocionais; aparece a depressão e a sensação de desamparo: o entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento de impotência para influenciar os fatos ou os próprios sentimentos a respeito deles; a autoestima diminui de forma aguda: desenvolvem-se sentimentos de incompetência e de inutilidade.
Nesta fase, o organismo reduz a secreção de serotonina e implanta-se o quadro depressivo. Agora vamos avaliar as respostas do sistema nervoso durante a vitória ou sucesso nas atividades física, atingindo os objetivos. Ao perceber que o propósito foi alcançado, que os limites foram superados, que as dificuldades foram vencidas, todo o sistema límbico é ativado provocando uma grande secreção de serotonina, neurohormônio que integra o psíquico com o físico, desencadeando sintomas como taquicardia, tremores, tensão muscular, fenômenos que são acompanhados por uma grande sensação de bemestar, sensações de alegria, de prazer, eventos que ocorrem devido à maré de serotonina que invade o sistema límbico, promovendo indescritíveis sensações de felicidade e prazer.
O bem-estar agora instalado causa mudanças bioquímicas no cérebro e a psiquê que se exteriorizam em sentimentos e emoções, são coquetéis de substâncias combinadas entre si, e que circulam em nosso sangue, alcançando nossos centros sensitivos, nos oferecendo as sensações que nos fazem sentir vivos. Por fim, acredito que agora consigo entender o parágrafo de uma música da banda SKANK que diz “Posso morrer pelo meu time; Se ele perder, que dor, imenso crime; Posso chorar se ele não ganhar; Mas se ele ganha, não adianta; Não há garganta que não pare de berrar”. É a flutuação na secreção da serotonina quem determina o status emocional.
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