NUTRIÇÃO & ESPORTE

Nutrição e Esporte: Hipismo Adestramento

Confira a brilhante carreira de João Victor Marcari Oliva, um dos principais nomes da modalidade no Brasil

Nutrição e Esporte: Hipismo Adestramento A estreia de João Victor nas pistas aconteceu aos 12 anos de idade
Crédito: Neide Weingrill

A Alemanha é o país referência mundial no Hipismo Adestramento, uma modalidade olímpica que consiste basicamente na execução de movimentos (reprises) realizados por cavalo e cavaleiro, que são chamados de conjunto. Na prova, que dura em torno de cinco minutos, o conjunto cumpre a reprise e é avaliado por um grupo de juízes que atribui notas conforme o desempenho do competidor. De acordo com o cavaleiro João Victor Marcari Oliva, os principais requisitos analisados durante a prova são: submissão do animal, posição do cavaleiro, andamentos, regularidade, conexão, retitude, movimentos, entre outros. “São muitos os detalhes avaliados e é complicado mencionar todos. Quanto à categoria, depende do cavalo e da formação técnica do cavaleiro. A categoria de mais alto rendimento é o Grande Prêmio, mas até chegar lá o atleta precisa começar nas categorias mais baixas (Preliminar, Elementar) com um cavalo menos experiente ou mais novo. Eu, por exemplo, cumpri toda esta trajetória”, enfatiza.  

 

O JOVEM ATLETA

João Victor Marcari Oliva nasceu na capital paulista e aos 23 anos já é um dos principais nomes do Brasil no Hipismo Adestramento, conhecido internacionalmente como Dressage e considerada a mais clássica das modalidades hípicas olímpicas. Montar cavalos é uma paixão que vem da infância, quando nos fins de semana ia para o rancho da família, em Araçoiaba da Serra (SP), com seus pais, a ex-atleta e ícone do basquete Hortência Marcari - de quem herdou o gosto pela disciplina, dedicação aos treinos e comportamento esportivo - e o empresário José Victor Oliva, que transmitiu aos filhos amor aos cavalos. Aos três anos e ao lado do irmão Antonio, um ano mais novo, João Victor já estava em cima de uma sela. Aos poucos, os irmãos Marcari Oliva foram aprendendo as noções básicas de equitação, e o rancho Ilha Verde se adaptando às necessidades daqueles cavaleiros precoces. Até o rancho foi rebatizado de Coudelaria - nome atribuído aos haras que se dedicam à seleção do cavalo Puro Sangue Lusitano -, e as instalações adequadas ao esporte dos meninos.

“Comecei a montar muito cedo. Meu pai, que já criava cavalos Lusitanos antes do meu nascimento, sonhava em me ver montando. Essa foi minha conexão com os animais e minha inserção neste esporte, uma vez que esta raça é indicada para o Adestramento. E desde que decidi me tornar atleta, tive muito apoio familiar”, revela a fera.  

 

DA ESTREIA ÀS OLIMPÍADAS

A estreia de João Victor nas pistas aconteceu aos 12 anos de idade, em 2008, inspirado em Rogério Silva Clementino, ex-peão de seu haras e que se tornou cavaleiro olímpico: “Minha primeira influência e treinador foi o Rogério, devo muito a ele, pois foi quem me colocou em minha primeira competição”, lembra. No ano de estreia, João Victor foi Campeão Brasileiro Amador, o primeiro dos cinco títulos conquistados na principal competição nacional da modalidade. Na sequência, o atleta passou a disputar concursos internacionais dentro e fora do Brasil. “A primeira vez que competi profissionalmente foi lá em casa, no haras, nas categorias São Jorge e de Grande Prêmio, qualificando um cavalo para os Jogos Sul-americanos (Odesur) do Chile 2014 e o outro para os Jogos Equestres Mundiais que se realizaram no mesmo ano na Normandia, na França”, diz.

A primeira participação fora do Brasil foi no Sul-Americano do Chile, onde conquistou a medalha de ouro individual e por equipe. Dali em diante, a vida do atleta se voltaria totalmente ao esporte. Logo depois da conquista no Odesur e com o intuito de obter aperfeiçoamento técnico, João Victor se transferiu para Möhnesee, na Alemanha, onde treinou até 2018 com Norbert van Laak, treinador de medalhistas olímpicos, mundiais e europeus. Nesse período, passou a competir no circuito europeu em Concursos de Dressage Internacional (CDIs) em nível que parte de três estrelas e ao lado dos tops mundiais da modalidade. Aos poucos, os resultados foram aparecendo, os índices estabelecidos e a convocação pela Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) para integrar o Time Brasil nos eventos internacionais uma constante. Além do Odesur no Chile em 2014, João Victor já fez parte da equipe brasileira na Olimpíada do Rio 2016, nos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 e Lima 2019, nos Jogos Equestres Mundiais da Normandia 2014 e Tryon, nos Estados Unidos, em 2018, além de ter sido o único representante da América Latina na Final da Taça do Mundo de Dressage de 2017, em Omaha, Nebraska, EUA.  

“Os jogos representando o Brasil, em que conseguimos ganhar medalha, são os principais. O meu primeiro foi o Sul-americano, e já fui a dois Pan-americanos onde ganhamos bronze por equipes, que já é um grande fato, qualificando o Brasil duas vezes para uma olimpíada, inclusive nos saímos muito bem na Olimpíada. Acredito que de todas as competições levamos aprendizados e as que a gente ganha, melhor ainda”, ressalta João.  

No início de 2019, João Victor mudou-se, com seus cavalos, de Möhnesee para Dusseldorf, também na Alemanha, onde passou a dividir os estábulos de Irina Zakhrabekova e treinar com Paulo Caetano e sua filha Maria Caetano, nome em ascensão na dressage internacional. “Cheguei à Alemanha há cinco anos, vivo no estábulo onde meus cavalos estão”, explica.  

Ainda neste ano, o jovem atleta retornou ao Brasil para participar das seletivas para o Pan-americano de Lima. Montando Biso das Lezírias, obteve os índices nas duas seletivas realizadas em concursos de dressage internacional (CDIs Laffranchi), conquistando os títulos de campeão e vice, respectivamente, registrando notas acima de 70%, as mais altas em processos seletivos realizados no Brasil. Convocado pela CBH a integrar a equipe, João Victor subiu mais uma vez no pódio do Pan pela conquista do bronze por equipe, final de julho. O feito no Pan de Lima garantiu ao Brasil vaga para as Olimpíadas de Tóquio 2020.

Logo que terminou sua participação no Pan de Lima, João Victor retornou à Alemanha e sua missão foi encontrar uma nova montaria de nível Grand Prix para competir em concursos internacionais em busca de índices que o habilitassem a voltar a representar o Brasil nos Jogos de Tóquio 2020, e imediatamente foi convidado a fazer parte do projeto olímpico idealizado por dois haras – BF Horse, dos EUA, e a Coudelaria do Luar que seleciona cavalos Lusitanos na Bélgica e França - que disponibilizaram ao atleta o cavalo F-Aron de Massa. Pouco mais de um mês da formação do conjunto veio a estreia, em outubro, no CDI de Le Mans, na França, quando João Victor conquistou o 1º índice para as Olimpíadas de Tóquio.  

 

ROTINA DE TREINOS

Em relação aos treinos específicos de Hipismo Adestramento, João Victor conta que eles acontecem sete vezes na semana, preferencialmente no período da manhã. Segundo o atleta, os cavalos treinam de várias maneiras: através de trabalhos aeróbicos, trabalhos que exigem mais força, trabalhos focados na prova e, às vezes, passeios, com cavalgadas mais longas e subidas. “Estou montando entre cinco e seis cavalos por dia e com cada um trabalho cerca de uma hora, sendo que alguns cavalos repetem. A rotina pré-treinamento varia de cavalo para cavalo também. O treinamento não é sempre montado, existem outros tipos, como trabalhos de chão e caminhar na mão”, explica o cavaleiro.  

A preparação física que inclui treinamentos aquáticos e terrestres João Victor faz em casa, e há seis meses são conduzidos pelo educador físico Fabio Pereira Aldiguieri que reside e trabalha na cidade de São Paulo. “Com a tecnologia ao nosso dispor, acompanho os treinos do João por chamadas de vídeo, o maior problema é o fuso horário”, conta o personal trainer.  

De acordo com Fabio Aldiguieri, os treinos de João Victor são divididos da seguinte forma: quatro vezes na semana, por aproximadamente 1h30, treino técnico de rotinas e coreografias; treinamento funcional na água, de 45 a 60 minutos; reeducação postural e massagem, uma vez na semana, por 60 minutos. Hípica, piscina e sala de funcional, de 5h a 7h diárias, mas vale lembrar que tudo isso depende da fase de treinamento e competições futuras.  

“O João é o tipo de atleta que não necessita descansar muito, então conseguimos manter intensidades altas de treino por toda a temporada, mesmo em competição alvo treinamos com intensidade alta até 72hs antes. No pós-competição alvo, damos um intervalo de sete a 15 dias, sendo 50% de recuperação passiva e 50% de recuperação ativa. Esses treinos são utilizados para buscar o equilíbrio muscular, flexibilidade, postural e uma regeneração mais ativa com o uso da água”, explica Aldiguieri.  

Sobre a alimentação, João Victor revela que não segue nenhuma dieta. “Costumo ingerir saladas, frutas, mas não tenho restrição alimentar, gosto de comer um pouco de tudo. Na verdade, nunca senti muita diferença nos treinamentos pelo que eu costumo comer, nunca tive problemas com peso, faço três refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar. Já os cavalos são bem regrados na alimentação”, enfatiza.  

 

CRIADOR E ATLETA MILITAR

Ao conhecer de perto a história de João, é possível perceber seu grande amor e entrega ao mundo do hipismo. Estudioso das linhagens e da produção de animais atletas, o cavaleiro, que sempre esteve envolvido com o programa de reprodução da Coudelaria Ilha Verde, assumiu, no final de 2016, a responsabilidade de selecionar os animais do plantel, Lusitanos e de raças alemãs, tanto no Brasil quanto na Alemanha, em busca de produtos de alto desempenho para o Adestramento. Além de representar o Brasil internacionalmente e se consolidar como criador, João Victor tem outros projetos em andamento: treinar e preparar cavalos próprios e de terceiros e apresentá-los no circuito europeu. “Terminei o Ensino Médio e fui muito cedo para o exterior por causa dos treinos e ainda não fiz faculdade. No momento, pretendo focar exclusivamente nos cavalos, mas quem sabe no futuro faço um curso superior”. Sobre os ensinamentos mais importantes que recebeu do esporte ao longo de sua trajetória, João Victor cita: “A dedicação, a concentração, o amor aos animais e o respeito às pessoas”, afirma.

Integrando o Programa de Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas desde 2015 (3º Sargento), João Victor foi condecorado pelo Exército Brasileiro em março de 2017 com a Medalha do Mérito Desportivo Militar, a maior honraria concedida pela entidade a atletas e personalidades ligadas aos esportes. Outra conquista fora das pistas, mas em razão dos seus feitos, foi o Prêmio Brasil Olímpico, honraria conferida pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). João Victor faturou o troféu nos últimos cinco anos. E no ranking da Federação Equestre Internacional (FEI), atualizado mensalmente, João Victor ocupa a melhor posição já alcançada por um atleta de Dressage no Brasil, e em 2017 ficou na 104ª posição.

“Meu maior recado para quem está começando nessa carreira é: tenha força de vontade e treine muito, porque um dia chegarão os resultados. Se você gosta do esporte, foque e se doe por inteiro, esteja sempre pronto a aprender, ouvir e acreditar no seu treinador”, finaliza João Victor.  

 

PERFIL:

João Victor Marcari Oliva  

Nascimento: 02/02/1996

Cidade natal: São Paulo/SP

Onde vive: Dusseldorf - Alemanha

Modalidade: Hipismo Adestramento

Peso: 72kg

Altura: 1,80m

Equipe: Coudelaria Ilha Verde  

 

Redes Sociais:

Páginas oficiais

@joaovolivaoficial

@coudelaria.ilhaverde

 

Instagram:

https://www.instagram.com/joaov_oliva/?hl=pt-br

 

PRINCIPAIS TÍTULOS

2019 – Medalha de bronze por equipe nos Jogos Pan-americanos de Lima  

2018 – Melhor atleta da equipe brasileira de Dressage nos Jogos Equestres Mundiais em Tryon, EUA

2017 – Melhor atleta do Brasil em uma Final da Taça do Mundo de Dressage, em Omaha, Nebraska, Estados Unidos

2016 – Melhor atleta da equipe nos Jogos do Rio e na história do Brasil em Olimpíadas

2015 – Medalha de Bronze por equipe nos Jogos Pan-Americanos de Toronto

2014, 2015, 2016, 2017 e 2018 – Prêmio Brasil Olímpico (COB)

2014 – Medalha de Ouro Individual e Equipe nos 10ºs Jogos Sul-Americanos (Odesur)  

2014 – Melhor atleta da equipe brasileira de Dressage nos Jogos Equestres Mundiais da Normandia, França

2014/2011/ 2010/ 2009/ 2008 – Prêmio Hipismo Brasil da Confederação Brasileira de Hipismo - CBH  

2013 e 2012 – Indicação ao Prêmio Brasil Olímpico (COB)  

2012 – Vice-campeão do Ranking CBH na Forte I/Jovem Cavaleiro  

2008 a 2012 - Pentacampeão Brasileiro de Adestramento (2012 – Young Riders / 2010 e 2011 - Junior / 2009 - Mirim / 2008 –Amador)  

2010 – Campeão Paulista Junior  

2009 e 2010 – Troféu Eficiência da Federação Paulista de Hipismo - FPH  

2009 – Campeão Paulista Amador  

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