Considerado um ‘monstro’ da Canoagem, lindo e de bem com a vida, Fernando Fernandes agora foca seus treinos e sua suplementação para a busca do título que lhe falta: o das Paraolimpíadas Os especialistas no esporte dizem que a diferença entre um bom remador e um atleta extraordinário é sua capacidade de saber o exato momento de colocar, tirar e recolocar o remo dentro d’água. Essa mecânica de movimentos acontece em cerca de 4 décimos de segundo e depende de fatores como a oscilação e a pressão do barco na água. Para realizá-la com maestria é preciso sentir qual o instante de cumprir cada uma das etapas. Esse tempo, reza a tradição da Canoagem, é a única coisa que não se pode ensinar a um atleta. É um talento nato! Em pouco mais de um ano vivenciando o universo da Canoagem Fernando Fernandes já deu provas suficientes de que carrega em seu DNA essa habilidade. De acordo com Paulo Barbosa da Silva, o técnico da seleção de Canoagem Olímpica e Paraolímpica, o modelo e ex-BBB agora é um monstro do esporte. “Ele consegue bater qualquer um da categoria dele. Tem uma força descomunal nos braços.
Para se ter uma ideia chega a levantar 200kg no supino. É sem sombra de dúvidas um excelente remador”, elogia. É mesmo na água que Fernando se sente em casa e desfruta de sensações como liberdade, prazer do contato com a natureza e adrenalina da superação dos limites para melhorar a cada dia mais no esporte. “O barco é meu corpo. Quando estou dentro dele nos tornamos uma coisa só. Ali me sinto seguro”, define. Hoje, toda a rotina do belo moreno é voltada para a modalidade com a qual teve contato pela primeira vez no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, quando se recuperava do acidente, que lesionou sua medula e o deixou sem movimentos da cintura para baixo. “Comecei a praticar canoagem no centro de reabilitação de forma bem amadora”, conta. “De repente, em uma brincadeira de pacientes contra professores, uma aposta de um percurso de 1km, eu ganhei!” Esse foi o start para que Fernando começasse a pensar na Canoagem como um meio de realizar um antigo sonho: o de ser atleta. “
O esporte sempre fez parte da minha vida. Fui jogador profissional de futebol, cheguei a jogar na equipe juvenil do Corinthians e em um time de atores. Depois, quando servi ao Exército, conheci o boxe e por muitos anos me dediquei a esse esporte” relembra. “Mas quando minha carreira de modelo começou a engrenar precisei deixar de lado a rotina de treinos. Não dava para modelar estourado, não é?!”, brinca. Fernando diz ainda que através da canoagem descobriu uma forma nova, não menos prazerosa, de se dedicar ao esporte. “A vida deu uma volta e me trouxe a nova oportunidade de ser atleta. Hoje, agradeço a Deus por ter colocado a canoagem na minha vida.” Fernando compete em um barco desenvolvido sob medida para ele em Portugal. Sua categoria é a kA. “As categorias da paracanoagem são definidas pela mobilidade do atleta. Aqueles que têm movimentos de pernas, tronco e braço são da categoria LTA, os que têm mobilidade de tronco e braços são da TA e aqueles que tem mobilidade nos braços estão na categoria A”, detalha Paulo Barbosa. Ainda segundo o técnico, outro grande diferencial de Fernando é a rotação de tronco que possui, graças aos anos dedicado ao boxe.
“Ele já tinha uma experiência motora e a região abdominal muito fortalecida por conta do que o boxe exigia. Hoje isso é fundamental para o bom desempenho dele na canoagem”, diz. Nada de moleza A rotina é puxada! Faça sol, frio ou chuva, todas as manhãs de segunda-feira a sábado Fernando acorda por volta das 5horas. Dirige do outro lado da cidade de São Paulo até São Bernardo do Campo. No parque onde treina, coloca o barco na água e, com a fiel companhia de Paulinho, como carinhosamente chama o técnico, treina com afinco durante uma hora e meia ou até duas. “Nas segundas, terças e quartas-feiras fazemos um trabalho de consciência corporal para que o Fernando tenha conforto e segurança total dentro do barco em qualquer situação”, detalha o técnico. “Nas quintas e sextas-feiras fazemos um trabalho específico de arranque para que ele tenha melhor desempenho nas provas. Aos sábados fazemos uma espécie de resistência muscular e saímos para remar longas distâncias, percorrendo a represa”. Depois da manhã de treino técnico dentro d’água, Fernando faz um breve trabalho de alongamento. Em seguida faz o caminho de volta para casa para uma breve pausa para o almoço. No período da tarde parte para a segunda parte dos treinamentos, a musculação. “Na academia o treino é curto e intenso. O trabalho dele é feito com cargas muito pesadas”, pontua Paulo, que também é responsável pelo treino físico de Fernando.
Minha ficha de treino está dentro da cabeça dele”, brinca o atleta. Com poucos aparelhos e um trabalho bem focado nas necessidades que precisa para o esporte, a rotina de musculação de Fernando trabalha com a dinâmica de aumento de peso e redução no número de repetições, ou seja, as cargas máximas estão sempre nas primeiras e últimas séries. Duas vezes por semana outra atividade física entra na rotina do atleta, a fisioterapia. As seções têm intuito de estimular a recuperação dos movimentos nos membros inferiores do atleta. Para não perder a energia e manter-se bem fisicamente, Fernando conserva alguns cuidados com a alimentação. Procura fazer refeições balanceadas e com altas concentrações de proteína.“Faço pelo menos cinco refeições por dia: café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar”, lista ele. “Consumo mais ou menos duas mil calorias por dia. Não como muito, mas também não tenho uma paranóia com a alimentação”. A suplementação também faz parte da rotina nutricional de Fernando e ele consome regulamente Whey Protein e Whey Protein Isolada, para garantir a ingestão necessária de proteínas para o desenvolvimento e manutenção dos músculos, e o BCAA, conjunto de aminoácidos da cadeia ramificada que também participam da construção muscular, ajudam a reduzir o desgaste e a fadiga, melhorando as respostas fisiológicas.
Em outros períodos Fernando também já utilizou Creatina. Visando as competições deste ano, pensa eminserir em sua dieta um suplemento vasodilatador. Rumo ao pódios que faltam Precursor da paracanoagem para atletas com lesão medular, Fernando comemora a inclusão da modalidade nas Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. “Esta inclusão aconteceu apenas um mês depois de eu ter me tornado campeão mundial”, pontua Fernando. “Ele começou buscando informações sobre a modalidade em clube de remo, iniciou o trabalho com um barco adaptado de forma amadora e agora já conseguiu mudar o cenário do esporte!”, admira-se Paulo. No início de abril Fernando abocanhou o título de Bicampeão Sul Americano de Paracanoagem. E a agenda dos próximos meses está lotada. Em julho participa de uma prova de aventura; em agosto embarca rumo à Hungria para disputar seu segundo Mundial e em novembro compete em busca do título nacional, um dos que ainda não tem. O sonho maior é chegar ao título das Paraolimpíadas. “Quero ir longe! Tenho me dedicado muito”, diz Fernando. Para isso, o foco atual dos treinos é melhorar o tempo muscular de resposta de Fernando já nas largadas.
“A canoagem é muito simples em comparação com os outros esportes, os competidores precisam percorrer uma distancia de 200 metros e ganha quem chegar primeiro! Por isso, os primeiros 10 segundos de remada são decisivos e estamos trabalhando exatamente esse arranque inicial”, revela. Para se ter uma ideia de onde Fernando ainda pode chegar, basta pegar como referência o Mundial de 2010, em que conquistou o título fazendo um tempo de 56s151. O segundo colocado, Antônio de Diego, fez um tempo de 1min06s215 enquanto que o terceiro, Jono Brome, completou a prova em 1min07s179. “
Costumo dizer que o Fernando é como um cavalo de corrida, não sabe ir devagar. A diferença entre os tempos dele e dos outros competidores foram bem grandes no ano passado, que ela ainda tinha pouco tempo de treinamento, e isso nos deixa bastante animados para as próximas competições”, diz Paulo.
Perfil
Nome: Fernando Fernandes de Pádua
Data de nascimento: 28/03/1981
Local: São Paulo (SP)
Altura: 1,89m
Peso: 84kg
Classe: K1A
Principais títulos:
Bicampeão Sul Americano de Paracanoagem (2011)
Campeão Brasileiro de Paracanoagem Velocidade (2010)
Campeão Sul Americano de Paracanoagem (2010)
Campeão Mundial de Paracanoagem (2010)
Curiosidade
Por conta das variáveis climáticas, a Canoagem é um dos poucos esportes em que não existem recordes conforme explica o treinador Paulo Barbosa. “Como não é possível controlar o vento, a correnteza e todos os fatores de clima envolvidos em uma prova não é possível estabelecer recordes. O que temos são os melhores tempos de cada prova”, esclarece.
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