As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são problemas de saúde pública mundial e também considerados como as síndromes que mais afetam os trabalhadores brasileiros, segundo estudo realizado pelo Ministério da Saúde. O levantamento aponta que entre os anos de 2007 e 2016, 67.599 casos de LER/DORT foram notificados à pasta. O estudo apontou também, que esses problemas foram mais recorrentes em trabalhadores do sexo feminino, entre 40 e 49 anos.
A região que registrou o maior número de casos foi o Sudeste, com 58,4% do total de notificações do país no período. Além disso, foi constatado que a ocorrência de LER/DORT é maior nos profissionais que atuam nos setores da indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos/limpeza. Desde 2000, 28 de fevereiro é considerado o Dia Internacional de Combate à LER/DORT.
1 - DEFINIÇÃO E CAUSAS
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, LER não corresponde a uma doença ou enfermidade. Na verdade, esta sigla representa um grupo de afecções do sistema musculoesquelético. Os distúrbios osteomusculares ocupacionais mais frequentes são: as tendinites (particularmente do ombro, cotovelo e punho), as lombalgias (dores na região lombar) e as mialgias (dores musculares) em diversos locais do corpo.
Segundo o ortopedista Marcio Passini, no caso da LER é preciso haver a repetição de um gesto ou movimento, haver uma lesão em alguma parte do Sistema Músculo Esquelético e estar acima da competência do paciente (esforço). O ortopedista Dr. Passini conta que a LER começou a ocorrer quando foram criadas as linhas de produção industrial em meados do século XX. Os trabalhadores repetiam o mesmo gesto inúmeras vezes por dia, até começarem a sentir dor. “Daí surgiu a sigla DORT, que significa Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Na DORT, não é preciso haver lesão, só há disfunção. Outro fato histórico foi a digitação nos computadores”, lembra o ortopedista.
De acordo com o reumatologista Fábio Freire, as principais complicações são a incapacidade física permanente ou de difícil recuperação e o impacto psicológico que pode contribuir para exacerbar doenças psiquiátricas. Por exemplo, a ansiedade, a depressão e outros distúrbios psicológicos podem também gerar ou agravar a tensão muscular. Em muitos casos, a insatisfação com o trabalho ou outro componente emocional tem sido a principal responsável pela perpetuação da sintomatologia.
2 - SINTOMAS
Sobre os sintomas, o ortopedista Dr. Marcio Passini afirma que há dor para repetir um determinado gesto ou mesmo dor contínua, independentemente de movimento. A dor pode ser na bainha do tendão do músculo que executa o movimento (tenossinovite), pode ser na articulação movimentada (artrite), pode ser no músculo que executa o movimento ou nos músculos que mantêm a posição para realizar o trabalho (cansaço e contratura muscular).
“Pode haver um ruído audível ou palpável no local, chamado crepitação. Quando a dor é por cansaço muscular, desaparece com repouso de 48 horas ou pode desaparecer se o indivíduo insistir no movimento, até que o músculo se adapte por hipertrofia muscular. Esta situação não é considerada LER (Lesão), mas é DORT”, explica Dr. Passini.
Ele diz ainda, que é relativamente frequente a tenossinovite do tibial anterior (canelite) surgir em caminhantes amadores; a sinfisite púbica em futebolistas amadores; e o ‘pescoço de celular’ nos viciados em leituras e jogos em telefones celulares.
3 - PREVENÇÃO
A seguir, o reumatologista Fábio Freire lista algumas medidas importantes na prevenção de LER/DORT, principalmente no ambiente de trabalho:
“Alternância das tarefas e rotação nos postos de trabalho. Revisão da produtividade e das formas de controle/supervisão dos trabalhadores. Realizar pequenas pausas rápidas em qualquer atividade que se exerça repetitividade excessiva ou em postura inadequada por tempo prolongado. Intervalos breves e frequentes são mais eficazes para a recuperação do que um período de descanso igual, tomado de uma só vez. Durante essas pausas, fazer alongamentos para as áreas de seu corpo que estiverem executando a tarefa”.
4 - TRATAMENTO
O reumatologista Fábio Freire explica que o tratamento depende sempre do diagnóstico preciso, de corrigir as causas no ambiente de trabalho e de instituir um plano terapêutico adequado.
“É de grande importância a multidisciplinaridade no cuidado a estes enfermos. Diversas são as modalidades terapêuticas: fisioterapia (eletroterapia e cinesioterapia), medicamentos, infiltrações (colocação de medicamentos em locais acometidos), órteses (acessórios para fins terapêuticos tais como talas, protetores, cintas e coletes) e reabilitação. Ao contrário do que alguns declaram, todos esses distúrbios têm tratamento, podem ser totalmente curados e, felizmente, os casos mais graves ou que não respondem ao tratamento clínico, podem ser beneficiados por procedimentos cirúrgicos e reabilitação específica”, afirma Dr. Freire.
Sobre esse aspecto, o ortopedista Thiago Almeida Chaves completa: “Se mesmo depois de tentar todos os tratamentos possíveis, não houver resultado, esses pacientes podem ficar incapacitados. Porém, existem outros trabalhos menos repetitivos, que esses pacientes podem exercer, não sendo necessariamente trabalho braçal”.
5 - ALIMENTAÇÃO
Conforme a nutricionista Patrícia Campos Ferraz, uma vez que a pessoa desenvolve a LER/DORT é importante que ela mantenha o peso adequado e consuma alimentos que diminuam os processos inflamatórios e sensação de dor.
Segundo a nutri, os alimentos benéficos são: o óleo de oliva e o óleo de linhaça, ricos em gordura ômega 9. Oleaginosas, como semente de abóbora e nozes. Óleo de peixe, rico em ômega 3, além de priorizar o consumo de proteínas magras, como frango e carne vermelha com moderação. Grãos integrais e condimentos, como gengibre, açafrão e curry. As frutas vermelhas, amarelas e as crucíferas que são brócolis, couve-flor e couve de bruxelas e no campo dos líquidos, Patrícia Ferraz menciona o chá verde e o chá branco. Por fim, o chocolate amargo, rico em teobromina, desde que consumido com moderação.
“Os alimentos a serem evitados, neste caso, são ricos em gorduras saturadas e gordura trans, vale a pena olhar os rótulos dos alimentos! Por exemplo, alimentos ricos em gordura animal, manteiga, gema de ovo, gordura aparente das carnes ou produtos industrializados que contêm gorduras trans e gordura de palma. Devem ser evitados também, óleos vegetais refinados, como os de soja e de milho que são ricos em gorduras ômega 6, que é uma gordura inflamatória. Também evitar os excessos de carboidratos refinados como macarrão, pão branco, doces em geral, açúcar e produtos de panificação em excesso”, aconselha a nutricionista.
6 - EXERCÍCIOS FÍSICOS
Segundo o educador físico Alisson Ferreira, exercícios podem gerar ou complicar quadros de LER ou DORT, por isso a importância de sempre procurar primeiro uma avaliação médica e, se autorizado pelo médico, fazer fisioterapia para então tratar os músculos com fortalecimento, através de um professor de Educação Física.
"É importante fazer atividade física orientada, tratando o problema para que não haja uma evolução, além de diminuir as dores, tornando o problema assintomático. Os exercícios mais indicados são alongamentos e musculação. Gosto também de indicar pilates também, porém, os exercícios devem ser prescritos de acordo com o problema de cada indivíduo e relacionados ao trabalho dele. Exemplo: um professor é mais propenso a ter problemas de ombros e punhos, já um digitador de documentos, pode gerar problema nos punhos e na cervical. Portanto, é necessário sempre avaliar o trabalho da pessoa, para então prescrever os exercícios. As vantagens vêm desde a diminuição de dores, maior produtividade (por conta de menores dores), melhora na qualidade de vida, mais disposição ou até a cura do problema", conclui o personal trainer Alisson Ferreira.
FONTES CONSULTADAS:
Alisson Ferreira: Formado em Educação Física pela UNIP, com especialização em Musculação e Condicionamento Físico pela Faculdade Estácio de Sá e Reabilitação de lesões Músculos Esqueléticos. Prof. da Bodytech.
Fábio Freire: Reumatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Marcio Passini Gonçalves de Souza: Ortopedista e membro da ABRASSO. Possui o título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, e Doutorado pela USP. É funcionário do Instituto de Ortopedia e Traumatologia- HC/FMUSP.
Patrícia Campos Ferraz, Nutricionista - CRN: 5160/3: Formada pela USP. Mestrado em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (USP). Doutorado em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP. Pós-Doutorado na Escola de Educação Física e Esporte (USP). Profa. responsável pela disciplina de Nutrição Esportiva na FCA-UNICAMP. Estagiou no Institut National de la Recherche Agronomique (AGROPARISTECH), no Laboratório de Fisiologia da Nutrição e do Comportamento Alimentar, em Paris, França. É nutricionista da Clínica Move.
Thiago Almeida Chaves: Formado em Medicina – Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC). Certificado de conclusão do Programa de Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia, realizado pela Comissão de Residência Médica do Hospital Regional de Santa Maria/SES – DF. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia confere o diploma de membro titular por ter sido aprovado no exame para obtenção do Título de Especialista.
Comentários