A apneia do sono é um distúrbio potencialmente grave em que o indivíduo para de respirar por alguns segundos, diversas vezes durante a noite. Pessoas acometidas por essa enfermidade podem, inclusive, não estarem cientes de que possuem o problema, portanto, geralmente ele é identificado por companheiros ou demais pessoas que convivem diretamente com os pacientes.
Conforme a otorrinolaringologista, Dra. Larissa Vilela Pereira, a apneia consiste em paradas respiratórias com duração superior a 10 segundos que ocorrem durante o sono. A médica afirma que em um sono normal, podemos apresentar algumas apneias, porém, se essa quantidade for igual ou superior a cinco eventos a cada hora de sono, em adultos, caracteriza-se uma doença denominada Síndrome da Apneia do Sono.
“Quando entramos em apneia, nosso cérebro percebe a queda da oxigenação do sangue e nos desperta com os chamados microdespertares a fim de manter a via aérea pérvia permitindo a respiração. Com a recorrência das apneias, nosso sono fica fragmentado pelos microdespertares e sofremos uma consequente alteração de sua qualidade, pois não conseguimos atingir adequadamente as fases de sono profundo. Assim, o sono superficial e fragmentado não permite que tenhamos os benefícios de uma boa noite de sono, causando sonolência excessiva durante o dia, impactando nas funções cognitivas, na secreção adequada de hormônios e aumentando o risco de doenças como hipertensão, diabetes mellitus, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral”, explana a otorrinolaringologista.
Dra. Larissa Vilela explica também, que essa síndrome pode ser classificada em:
• Obstrutiva: a mais comum, sendo ocasionada pela presença de fatores anatômicos obstrutivos, como aumento de estruturas (adenóide e amígdalas) ou alterações craniofaciais ou por relaxamento excessivo da musculatura faríngea e consequente estreitamento da via aérea durante o sono.
• Central: ocorre por alguma alteração neurológica, onde há uma falha no comando respiratório normal.
• Mista: combinação de apneias obstrutivas e centrais
SINTOMAS E DIAGNÓSTICO
Segundo Dra. Bruna Marisa, médica pós-graduada em Endocrinologia e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) caracteriza-se pela obstrução completa (apneia) ou parcial (hipopneia) das vias aéreas superiores durante o sono. Essa obstrução é geralmente acompanhada pela redução da saturação de oxi-hemoglobina, que tem como principais sintomas o ronco alto, períodos de apneia, sono fragmentado e despertares frequentes, ocasionando sonolência diurna. “Nesses casos, o ar para de fluir para as vias aéreas em função de um bloqueio temporário causado pelo relaxamento dos músculos da garganta, questões anatômicas interferem aqui”, enfatiza a especialista.
Sobre essa questão, a nutricionista Dayane Moreira, pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, complementa que essa síndrome é classificada de acordo com a frequência de apneia e hipopneia do sono: leve (5-14 episódios por hora), moderada (15-29 episódios por hora) e grave (30 ou mais episódios por hora).
A endocrinologista Bruna Marisa explica que, conforme já mencionado anteriormente, os sinais que chamam atenção para que a pessoa investigue uma apneia do sono é o ronco, barulhos noturnos, respiração ofegante, sensação de sufocamento ao dormir, sono agitado, sonolência ao longo do dia, dor de cabeça e dificuldade de concentração, já que mesmo que ela não saiba, suas noites são mal dormidas. “Mais uma vez é preciso chamar atenção para quem dorme ao lado de apneicos, pois eles são os primeiros a notar”, destaca a médica.
Ainda sobre os sintomas, a otorrinolaringologista Larissa Vilela completa dizendo que os portadores da apneia do sono também sofrem de irritabilidade, alteração de memória e aprendizado, aumento de pressão arterial e ganho de peso.
Quanto ao diagnóstico e a análise da gravidade do distúrbio, Dra. Bruna Marisa esclarece que são feitos por meio de um exame chamado polissonografia. Segundo a endócrino, ele é realizado em um laboratório do sono de um hospital ou clínica especializada.
“O paciente passa a noite ligado a um aparelho que registra parâmetros como os batimentos cardíacos, a atividade cerebral, o movimento dos olhos, a respiração e o nível de oxigênio no sangue. Também é possível fazer esse monitoramento com um dispositivo portátil, do tamanho de um relógio, que fica preso ao pulso e em dois dedos da mão. Colocado na hora de dormir, ele assinala as condições de sono. Depois, o aparelho é levado para o médico, que analisa os resultados na tela do computador”, diz Dra. Bruna.
CAUSAS
A seguir, a endocrinologista Bruna Marisa elenca as principais causas da apneia do sono:
• Excesso de peso
• Maxilar inferior encurtado, o que empurra a língua muito para trás, tapando a garganta
• Tabagismo
• Álcool em excesso
• Uso exagerado ou equivocado de sedativos
• Aumento das amígdalas e adenoides
• Dormir de barriga para cima
• Tumores
Dra. Bruna revela ainda, que existem quase 100 distúrbios do sono catalogados pela medicina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 45% da população mundial sofre com algum deles e a SAOS é a que mais atinge pessoas no mundo. Na verdade, todos podem apresentar apneia do sono, até mesmo crianças, no entanto, de acordo com Dra. Bruna, alguns fatores de risco costumam ser elencados pelos médicos.
“Esses fatores de risco variam de acordo com o tipo da doença, mas pelo menos duas características são comuns: ser do sexo masculino e ter mais de 50 anos de idade. Os homens, em geral, são duas vezes mais propensos a desenvolver a doença do que as mulheres, que têm seu risco aumentado se estiverem acima do peso e também após a menopausa. Os dados são claros: na população, em geral, a SAOS ¬diagnosticada por polissonografia varia de 1% a 5% em homens e de 1,2% a 2,5% em mulheres. Em crianças, o problema pode estar relacionado ao aumento das adenoides, glândulas localizadas no nariz ou das amígdalas, estruturas que ficam na entrada da faringe. Outros fatores que também estão relacionados são as doenças neuromusculares e a obesidade”, explana a endócrino.
OBESIDADE
A endocrinologista Bruna Marisa afirma que um dos principais fatores de risco para a SAOS é a obesidade, ou seja, quando o IMC está acima de 30 kg/m2 (valor classificado pela Organização Mundial da Saúde como obesidade). Portanto, a tendência à sonolência diurna, fator que prejudica muito a vida de quem sofre de algum distúrbio de sono, pode ser prevista pelo IMC. O excesso de gordura corporal fica acumulado na parede da traquéia e nos músculos da língua, favorecendo a obstrução das vias aéreas e causando a apneia do sono que, por sua vez, vai estimulando o acúmulo de mais gordura, dificultando assim a perda de peso. “A boa notícia é que sendo a obesidade a causa da SAOS, torna o caso curável a partir da perda de peso que se consegue através de uma mudança no estilo de vida: alimentação saudável + exercícios físicos”, orienta.
Desta forma, a otorrinolaringologista Larissa Vilela ressalta que a obesidade pode ser vista tanto como causa da Apneia Obstrutiva do Sono, quanto como uma de suas consequências. “Sabemos que a obesidade leva ao depósito de gordura no pescoço com consequente estreitamento da via respiratória superior e maior predisposição às apneias. Adicionalmente, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono leva a um desbalanço do sistema hormonal, causando, por exemplo, redução de hormônios importantes para a manutenção do nosso metabolismo e ganho muscular como GH (hormônio do crescimento), dentre outros hormônios, predispondo ao ganho de peso e à obesidade”, reforça a otorrino.
Segundo a nutricionista Dayane Moreira, cerca de 60% a 90% dos indivíduos diagnosticados com a Síndrome da Apneia do Sono têm índice de massa corpórea superior a 29kg/m2, o que confirma a relação entre a apneia do sono com sobrepeso e obesidade. Isso se dá principalmente pela alteração anatômica das vias aéreas superiores apresentada em indivíduos obesos, como já mencionado anteriormente.
“Além disso, a privação de sono, que é uma das características da apneia do sono, está associada a alterações endócrinas, uma vez que influenciam nos níveis de leptina e grelina, hormônios relacionados à fome e saciedade, bem como no aumento da resistência à insulina e aumento do cortisol, cenário esse presente na obesidade. Assim, tanto a apneia do sono, quanto a obesidade desencadeiam alterações endócrinas e metabólicas, as quais podem atuar negativamente na saúde do indivíduo. Então, pode-se afirmar que a redução da massa corporal é clinicamente importante para pacientes obesos com apneia do sono, devendo ser uma medida de fundamental atenção no tratamento dessa doença”, enfatiza a nutri Dayane Moreira.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
De acordo com a otorrinolaringologista Larissa Vilela, quando o assunto é prevenção da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono, as principais medidas a serem tomadas são:
● Evitar sobrepeso e obesidade
● Evitar tabagismo e álcool
● Fazer atividade física regular
● Manter alimentação saudável
● Tratar as alterações respiratórias com seu médico otorrinolaringologista
Para a endócrino Bruna Marisa, como o excesso de peso é um dos principais desencadeadores da apneia, o primeiro passo para prevenir é mudar os hábitos diários. A pessoa precisa adotar um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e exercícios físicos. Para quem fuma, é fundamental que largue o cigarro, pois o hábito agrada muito a condição. Outra coisa que precisa fazer é evitar o álcool, pois ele costuma interferir no relaxamento da musculatura da garganta.
Sobre a prevenção, a nutricionista Dayane Moreira complementa: “Uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos integrais, gorduras saudáveis e proteína magra pode colaborar para o controle do peso, fator esse que pode influenciar diretamente no aparecimento ou tratamento da apneia”, diz a especialista.
A respeito do tratamento, a endocrinologista Bruna Marisa enfatiza que os portadores de apneia do sono devem manter as vias respiratórias abertas para que a respiração não seja interrompida durante o sono. Assim, os pacientes podem usar aparelhos odontológicos na boca durante a noite para manter a mandíbula posicionada mais para frente e impedir o bloqueio das vias aéreas. Nos casos moderados a severos é necessário o uso de uma máscara de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, na sigla em inglês). Esse aparelho joga ar na via respiratória, mantendo-a aberta. Em alguns casos, indica-se cirurgias no nariz ou para remoção de amígdalas e adenoides (geralmente em crianças), mas não costuma ser muito eficaz em adultos. Os sintomas da apneia do sono costumam ser corrigidos com tratamento e no caso da obesidade ser a causa da apneia, perdendo peso a pessoa fica curada.
“Em razão da sonolência diurna, as pessoas com apneia do sono apresentam um risco maior de sofrer acidentes de automóvel por dirigir com sono, e acidentes de trabalho por adormecer no serviço. Outras complicações vimos anteriormente, como a pressão arterial aumentada. Caso não seja tratada, ela pode gerar ou piorar doenças cardiovasculares, como arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, hipertensão, infarto e AVC. O risco de morte diretamente causada pela Apneia Obstrutiva do Sono é pequeno, mas ela deve ser tratada para evitar outras que podem matar”, afirma Dra. Bruna.
ALIMENTAÇÃO
Segundo a nutricionista Dayane Moreira, a alimentação tem importante influência na apneia do sono, pois o consumo elevado de calorias a longo prazo, associado ao sedentarismo, pode levar ao sobrepeso e à obesidade que são fatores de risco para apneia do sono. A nutri destaca ainda, outro fator que pode influenciar: o refluxo gastroesofágico, que pode ser causado pelo grande volume de comida ingerida antes de dormir e pode ser agravado pelo consumo de alimentos como chá (preto e mate), café, embutidos, bebidas com gás, refrigerantes a base de cola, bebidas alcoólicas, alimentos muito gordurosos, entre outros. Além disso, o consumo de alimentos açucarados, muito gordurosos, pães brancos e proteína animal antes de dormir pode diminuir os níveis de serotonina, neurotransmissor importante para ajustar o sono.
Os alimentos que são fontes de nutrientes para a formação de melatonina (hormônio do sono) são essenciais para auxiliar no tratamento da apneia do sono. A melatonina é um hormônio produzido durante o dia pelo trato digestivo, em especial pelo intestino, e durante a noite pela glândula pineal presente no cérebro. É durante a noite que a melatonina exerce sua função mais importante, a regulação do sono.
Segundo a nutri Dayane, entre esses nutrientes importantes podemos destacar os alimentos fontes de triptofano, vitamina B6 e vitamina B3, que podem colaborar para a qualidade do sono, aumentando a produção de serotonina e melatonina, que são neurotransmissores que atuam no cérebro induzindo o sono.
• Alimentos fontes de triptofano: feijão, lentilha, aveia, banana, nozes e cereja.
• Alimentos fontes de vitamina B6: banana, pistaches, cereais.
• Alimentos fontes de vitamina B3: frango, peixes, amendoim e vegetais verdes.
Outro nutriente importante é o magnésio, mineral que influencia na qualidade do sono. O magnésio auxilia nesse processo por meio da regulação de neurotransmissores, ligando-se aos receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA), exercendo, assim, efeito de bem-estar e relaxamento.
• Alimentos fontes de magnésio: nozes, amêndoas, abacate, vegetais verdes escuros e cereais integrais, semente de abóbora, feijões, espinafre e banana.
• Chás de camomila, mulungu, maracujá, erva cidreira que agem a nível de sistema nervoso, reduzindo a ansiedade e o nível de cortisol, colaborando, assim, para melhor qualidade do sono.
• Alface, rico em Lactucina que possui efeito calmante.
Por outro lado, Dayane Moreira alerta que quando pensamos no tratamento para apneia, temos que evitar alimentos que podem atrapalhar a qualidade do sono. Dentre esses, a nutri destaca bebidas estimulantes como café, chocolates, refrigerantes a base de cola, chás verde e preto e extrato de guaraná. A cafeína é uma substância estimulante do sistema nervoso central, que se mantém no organismo por aproximadamente oito horas, podendo variar de pessoa para pessoa. Contudo, dependendo do horário que você consome suplementos ou bebidas fontes de cafeína, ela pode ter impacto negativo sobre o sono.
Dayane acrescenta que é interessante evitar alimentos que contêm tiramina, como o vinho, bacon, queijos amarelos, eles também atrapalham o sono porque liberam noradrenalina, um estimulante cerebral que nos mantêm acordados. Refeições ricas em proteínas animais possuem aminoácidos que competem com os receptores de triptofano, o que consequentemente diminui produção de serotonina e melatonina. Por isso, o ideal é dar preferência para o consumo de proteínas vegetais e carboidratos de baixo índice glicêmico antes de dormir.
“Também é indicado se alimentar pelo menos duas horas antes de deitar para evitar episódios de refluxo gastroesofágico, condição que pode agravar a apneia do sono; não consumir bebidas alcoólicas antes de dormir, pois elas podem causar interrupções no sono, diminuindo o sono REM e, por consequência, diminuindo o sono reparador, o que agrava de forma considerável a apneia do sono. De forma geral, uma alimentação equilibrada, rica em todos os nutrientes e a prática de exercícios físicos regulares podem influenciar de forma muito significativa para o tratamento e prevenção da apneia do sono. Além disso, o trabalho interdisciplinar é de extrema importância nesses casos e o nutricionista tem um papel fundamental no tratamento, para ajudar o paciente a se reeducar e perder peso quando necessário”, orienta a nutri Dayane Moreira.
EXERCÍCIOS FÍSICOS
De acordo com o educador físico Robson Levy Bomfim Silva Soares, a atividade física auxilia no combate à apneia do sono, principalmente através de exercícios aeróbicos, como corrida, ciclismo e natação. Se a pessoa tem acesso à academia, poderá utilizar também as áreas de cardio para auxiliar no processo. Esteiras, bike e elípticos auxiliam no emagrecimento e também podem ser utilizados como estratégia.
“O exercício vai melhorar a consciência corporal, auxiliar no fortalecimento dos músculos respiratórios, além do sistema circulatório, sendo fundamental para evitar bloqueios ou interrupções respiratórias que poderiam levar a um aumento na pressão arterial. Outro fato que ocorre é a mudança da composição corporal, e a diminuição de percentual de gordura vai auxiliar na diminuição do peso, proporcionando melhora na qualidade de vida e até na qualidade do sono”, finaliza o personal trainer Robson Levy
FONTES CONSULTADAS:
Bruna Marisa: Médica pós-graduada em Endocrinologia, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, atua na área de Medicina Esportiva, Ortomolecular e é especialista em Emagrecimento.
Dayane Moreira – CRN9 20162: Formada no Centro Universitário do Triangulo - UNITRI em 2007. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional. É parceira na área de nutrição na Terra Madre - Orgânicos e Saudáveis, em Uberlândia. Faz atendimento clínico nutricional na Clínica Med Square e na Clínica Emagresee. Principais nichos de atuação: emagrecimento, nutrição esportiva, nutrição para gestantes e fertilidade.
Larissa Vilela Pereira: Otorrinolaringologista do Hospital Anchieta. Formada em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB/DF), fez Residência Médica em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Desde 2014, tem título de Especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). A profissional também é doutora em terapia em células-tronco para a regeneração do nervo facial, pela Universidade de São Paulo (USP), desde 2018.
Robson Levy Bomfim Silva Soares: É formado em Educação Física pela FMU. Hoje, é head coach de futebol americano no Valentes Futebol Americano em SP (desde 2016) e personal trainer e professor de musculação na SELFIT Academias. Ele atua com preparação física, musculação e emagrecimento desde 2015.
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