Juliana Paghi Dal Bom
Nutrição Materno Infantil
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a adolescência como o período que compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos. É o período de transição entre a infância e a fase adulta que conta com intenso desenvolvimento físico, amadurecimento hormonal e sexual, adaptações psíquicas, comportamentais e emocionais e identificação social. A nutrição adequada nessa fase é capaz de garantir que o adolescente atinja seus plenos potenciais de crescimento e desenvolvimento e desfrute de uma vida adulta produtiva, saudável e com menor incidência de doenças. Em contrapartida, é também nessa fase que os hábitos alimentares adquiridos e desenvolvidos ao longo da infância parecem ser deixados para trás e a criança que adorava frutas e brócolis dá lugar ao adolescente seletivo que, com frequência, faz escolhas alimentares pouco saudáveis e nutritivas.
Uma série de trabalhos publicados a partir do estudo brasileiro ERICA, Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, demonstrou que mais de 1/5 dos adolescentes brasileiros (21,9%) não realiza o café da manhã; 56% realiza as refeições em frente à televisão; mais da metade deles consome quantidade insuficiente de água diariamente; há elevado consumo de alimentos ultraprocessados (refrigerantes, salgados fritos e assados, biscoitos doces e salgados) e, portanto, elevado nível de açúcar e gorduras saturadas e trans, e baixo consumo de frutas, logo, inadequação do consumo de micronutrientes como cálcio, fósforo, ferro, vitaminas C, A e E.
A explicação para as mudanças alimentares é, sobretudo, comportamental mas, em face do acelerado crescimento (aquisição de cerca de 25% da estatura final), ganho de peso (atinge 50% de seu peso adulto) e alterações na composição corporal (com maior retenção de gordura em meninas e massa magra em meninos), a fase merece atenção e isso beneficia tanto indivíduos quanto sociedade em médio e longo prazo.
A provisão das necessidades energéticas do adolescente garante que ele realize seus plenos potenciais de saúde, crescimento, desenvolvimento e de desempenho de suas atividades diárias. Essa estimativa é calculada considerando as demandas de crescimento, idade, sexo, estágio de maturação sexual e nível de atividade física. O aumento da necessidade de ingestão proteica, se comparado a um indivíduo adulto, se justifica pelo padrão de crescimento característico da fase e a constituição de diversos novos tecidos corporais. Quanto à distribuição de carboidratos e gorduras, a recomendação é semelhante às demais faixas etárias, tendo em vista cuidados relativos à qualidade da alimentação, como o adequado consumo de fibras alimentares (presentes em cereais integrais, leguminosas, vegetais e frutas), reduzida ingestão de gorduras saturadas (encontradas em alimentos de origem animal e produtos industrializados processados e ultra processados) e moderado consumo de gorduras mono e poli-insaturadas, dos tipos ômegas 3, 6 e 9 (presentes em peixes de água fria, castanhas, abacate, óleos vegetais como oliva, linhaça, canola etc.,).
As necessidades de vitaminas e minerais estão aumentadas ao longo de toda a adolescência e, tendo em vista o comportamento alimentar característico dessa fase que frequentemente reflete em padrões alimentares inadequados, a avaliação individual para adequação de alimentação e avaliação da necessidade de suplementação nutricional é indispensável.
De maneira geral, os micronutrientes que merecem atenção nesse estágio do ciclo da vida:
Vitamina B9, ácido fólico: tem importante papel na síntese de DNA e RNA e está relacionado com o metabolismo de outras vitaminas do complexo B. Os principais alimentos fonte são: vísceras, leguminosas como feijão, lentilha e soja e vegetais verdes
Vitamina D: sua principal função biológica é a manutenção dos níveis de cálcio e fósforo sanguíneos, sendo fundamental ao metabolismo ósseo. A vitamina D é sintetizada na pele por meio da exposição à luz solar e está presente em alimentos ricos em gorduras cuja ingestão deve ser controlada, tais quais óleos de peixes, derivados do leite como manteiga e queijos gordurosos e gemas de ovos.
Vitamina A: participa do desenvolvimento de órgão e tecidos e está envolvida em processos de maturação sexual e manutenção reprodutiva. As principais fontes alimentares são: fígado, vegetais amarelos, alaranjados e verde-escuros.
Vitamina C: está envolvida em diversas reações biológicas relacionadas ao crescimento como a síntese de colágeno, participa do metabolismo do ferro e é um potente antioxidante. Está muito disponível nas frutas, como: laranja, mamão, morango, kiwi, melão, tomate, manga e em vegetais como a vagem de ervilha, brócolis, couve-flor e repolho.
Cálcio: em decorrência do aumento da velocidade do crescimento esquelético, as necessidades deste mineral estão elevadas na adolescência, especialmente durante as fases de estirão. Além disso, o cálcio também participa da contração muscular e têm função no sistema imunológico. As principais fontes alimentares são leite e derivados, tofu, feijões, castanhas e vegetais verde escuros.
Ferro: a boa disponibilidade deste mineral no organismo reflete adequado desenvolvimento mental, melhor capacidade de concentração e aprendizagem e desempenho físico, além de sustentar a construção da massa muscular masculina e suprir as perdas femininas com o início dos ciclos menstruais. Está presente em tofu, leguminosas como feijões, lentilha e soja, carnes e vísceras, sementes e castanhas. Sua biodisponibilidade é aumentada na presença de vitamina C e reduzida na presença de cálcio e fitatos (fatores antinutricionais presentes em cereais e leguminosas que são reduzidos quando realizado o remolho dos mesmos)
Zinco: é componente de mais de 300 enzimas em nosso organismo, ou seja, é fundamental em diversos processos no organismo. Em adolescentes, é fundamental ao crescimento e maturação celular e sexual. São alimentos ricos em zinco: carnes, feijões, sementes, oleaginosas como amêndoas, castanhas e nozes.
Assim como nas demais fases do ciclo da vida, uma alimentação variada, saudável e baseada em alimentos integrais e naturais durante a adolescência é eficiente em fornecer todos os nutrientes necessários à manutenção da saúde, bem estar físico e emocional. Tendo em vista dados recentes sobre a saúde e alimentação de adolescentes no Brasil, que demonstram diversas inadequações relativas ao seu estado nutricional, o período da adolescência constitui uma oportunidade de investimento em saúde e na construção de hábitos saudáveis que acompanharão o indivíduo ao longo de toda a vida.
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