Independente de qualquer fator, se uma música começa a tocar nosso organismo reage instantaneamente e como um “ato mágico” nossa mente torna-se permeada de emoções. Lembranças afloram e visivelmente nosso comportamento muda promovendo uma série de sensações, que podem ser representadas por pulsos de tristeza, alegria, excitação ou euforia, e o conjunto de respostas sensoriais se expressa através de mudanças na atividade motora. Vamos entender os caminhos dos acordes, o processamento neural e suas relações com os sistemas que modulam as respostas motoras, fatores que fazem parte do universo de sinais que regem nossa vida.
A música nasceu com a natureza. Seus elementos formais, som e ritmo, fazem parte do universo. Os homens descobriram os sons que os cercavam e aprenderam a distinguir os timbres característicos da canção, o barulho das ondas se quebrando na praia, a tempestade se aproximando e as vozes, encantando-se com a capacidade de utilizar sons como sinais de expressão, para comandar rituais e, principalmente, na dança, nas mais diferentes nuances e significados desta expressão. As habilidades motoras são cronologicamente ordenadas dentro de uma lógica que se aprimora de acordo com as fases da vida desde o nascer, passando pelo crescer até o envelhecer.
De uma forma geral, a base do desenvolvimento humano se expressa em movimentos, tais como: rolar, levantar a cabeça, engatinhar, ficar de pé, andar, correr e saltar. Estes movimentos dependem do desenvolvimento e maturação de sistemas neurais, que de forma integrada controlam o equilíbrio, a flexibilidade e a biomecânica do movimento. Assim, caso haja desequilíbrio em uma ou mais cadeias neuromusculares são ativados equilíbrios compensatórios do lado oposto.
DO SOM AO MOVIMENTO
O aprimoramento dos métodos científicos tem permitido a neurocientistas a compreensão de novos eventos cerebrais ligados à integração entre a atividade das vias auditivas e as habilidades funcionais das áreas motoras. Para entender estes aspectos funcionais, precisamos nos inteirar dos caminhos do controle motor a partir das áreas cerebrais. O planejamento do movimento ocorre em ação integrada entre áreas cerebrais denominadas lobo frontal, o córtex pré-frontal e área motora suplementar, que analisam os sinais que chegam de diferentes regiões do cérebro, localizam a informação enquanto posição no espaço e enviam informações para o córtex motor primário.
Este então, avalia o contexto e determina os músculos que precisam se contrair, a intensidade e o tipo de movimento. Cabe ressaltar que existe um ajuste refinado que é ativado a partir de sinais provenientes das fibras musculares enviados para áreas cerebrais, modulando toda a ação. Nesta fase, outras áreas entram em atividade - o cerebelo, os gânglios da base e regiões do córtex motor - mantendo o equilíbrio e aprimorando os movimentos a cada repetição. Vamos inserir no contexto as vias auditivas. Quando o som atinge o pavilhão auditivo sinais elétricos são gerados e transmitidos até áreas do sistema nervoso central, onde as várias frequências de estímulos sonoros permitem tanto a transcrição e interpretação do som, quanto a consciência das características sonoras.
Como exemplo, ao ouvirmos uma música, começamos a marcar o compasso mexendo os pés ou balançando o corpo ritmicamente. Possuímos uma extrema habilidade de sincronizar conscientemente ou inconscientemente os movimentos de nosso corpo, adaptando-os ao ritmo da música e apresentando gestos sincronizados. É neste contexto que o cérebro coordena as ações, permitindo a consciência espacial e demonstrando as habilidades programadas pelo sistema sensório-motor em provocar contrações coordenadas.
Diversos neurocientistas têm verificado que diferentes tipos de música promovem aumento no fluxo sanguíneo em áreas específicas do sistema nervoso central provocando inúmeras sensações como alegria, felicidade, excitação e prazer, fatos que de forma integrada, promovem a sincronização das sensações com os movimentos adequados ao ritmo musical presente. Ainda neste contexto acredita-se que a área do lobo temporal denominada de precuneus, contenha um “mapa”inestésico que permite a consciência do posicionamento do corpo no espaço, enquanto o movimento acontece.
Veja que interessante, o cerebelo também participa deste arranjo, pois monitora as informações de várias regiões do cérebro e, atuando como um metrônomo neural, recebe informações sensoriais dos sistemas corticais auditivo, visual e somatossensório e ajuda nasincronização dos movimentos. A música na nossa vida, na academia, nos eventos esportivos, não se expressa somente como estímulo prazeroso ou gerador de sensação no nosso íntimo pessoal, mas promove o sincronismo inconsciente de acordo com o ritmo, fazendo que nosso cérebro possa ensaiar mentalmente os movimentos e guardar a sequência em campos de memória.
A importância da música na vida esportiva vai além dos fenômenos sensoriais, mas tem relação com o aprimoramento da sequência motora a ser aprendida, auxilia neste aprendizado motor, permite o planejamento motor da intensidade das contrações musculares e grava um movimento específico. Seja qual for sua idade, seja qual for sua condição de vida, seja qual for a prática esportiva de sua preferência, os efeitos da música são universais, uma linguagem única, um código herdado por todos os povos.
PARA MELHORAR AINDA MAIS
Sim, é possível melhorar as ações neurais relacionadas às habilidades motoras com a suplementação. Para isso, não podemos esquecer dos benefícios trazidos pelas vitaminas do complexo B a praticantes de atividade física. Elas são as maiores responsáveis pela manutenção da saúde emocional e mental, auxiliam na conservação e equilíbrio funcional do sistema nervoso, assim como a tonicidade muscular, melhorando a qualidade de vida.
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