Foram 388 horas de treinamento intenso. Ela atravessou o mundo para viver os 10 segundos mais importantes da sua carreira. Fez um estádio inteiro e mais 183 milhões de brasileiros responderem às suas palmas de incentivo. Uma explosão de adrenalina. O grito. A corrida, 22 largas passadas. O salto. E tudo passa a valer a pena. Com a marca de 7,04m, Maurren Maggi se tornou a primeira mulher brasileira a conquistar medalha de ouro em uma disputa individual em Olimpíada e a primeira medalhista do atletismo feminino do Brasil.
Qual será a sensação de ouvir o hino nacional do lugar mais alto do pódio, sabendo que o seu trabalho e o seu esforço são motivos de comoção para milhares de brasileiros, e por que não dizer, de pessoas do mundo inteiro? A entrega da guerreira Maurren às lágrimas depois da estrofe que tem início com a frase “Verás que um filho teu não foge à luta” e termina com um “terra adorada”, dá uma pista de como alguém que dedicou mais da metade de sua vida ao esporte se sente ao ser recompensado.
Com diferença de apenas um centímetro para a segunda colocada, a russa Tatyana Lebedeva, Maurren Maggi garantiu o ouro para o Brasil e fez questão de dividir seu troféu com todos e definir o significado da premiação. “Essa medalha não é só minha, muita gente teve participação nessa conquista. Tenho certeza que ela será muito importante para o atletismo brasileiro, vamos conseguir muito mais daqui para frente. Tenho a satisfação de dizer que toda minha preparação para esses jogos foi perfeita, tive todas as condições para chegar aqui em minha melhor forma”, declara a atleta.
Para cravar a marca 7,04m na prova de salto em distância e estar entre as melhores do mundo, a atleta de 32 anos se preparou com muito treino, alimentação adequada e suplementação . Foram 202 dias de preparação, que no total somaram pelo menos 214 sessões de treinamento em mais de nove horas semanais dedicadas a fazer com que, desde o momento da corrida até a chegada na caixa, Maurren pudesse dar o melhor de si. Antes que a história da paulista, nascida em São Carlos, chegasse ao seu capítulo mais glorioso, ainda foi necessário participar de 14 competições e realizar duas temporadas de exercícios no exterior. “Tive uma ótima preparação para os Jogos Olímpicos.
Pude fazer praticamente tudo o que foi planejado por meus treinadores, no Brasil e no exterior. As competições preparatórias e a participação nos campings internacionais foram muito importantes”, diz a atleta.
“Ela fez dois períodos de treinamento em Madri, em fevereiro, durante a temporada indoor e em junho. O objetivo era ficar mais próxima das competições que iria usar como preparação para o Mundial Indoor e para os Jogos Olímpicos, bem como fazer uso da boa estrutura do Centro de Alto Rendimento de Madri”, complementa o técnico Nélio Alfano Moura.
Atleta desde a infância, estreou no esporte através da ginástica olímpica, mas a estatura elevada fez a moça desistir da modalidade e se aventurar pelo vôlei, natação, basquete e até xadrez antes de encontrar no atletismo uma paixão.
A dedicação aos esportes e a genética privilegiada, como faz questão de destacar, garantiram a liberdade de não ter proibição em sua dieta. “Não tenho restrição a absolutamente nada, nem ao chocolate. Então, sempre posso comer um pouco, matar a vontade, e me manter na linha”, revela.
Mesmo assim, a atleta está sempre atenta à sua alimentação e acredita que, para fazer escolhas corretas à mesa, o acompanhamento de um profissional qualificado é fundamental. “Tenho a preocupação em manter uma dieta equilibrada e minha nutricionista me ajuda com isso. Aprendi com ela a fazer escolhas que me garantem uma nutrição adequada.”
Mesmo depois de abandonar as pistas após uma suspensão por dopping e dar a luz a Sophia— sua filha que aos três anos de idade ficou conhecida nacionalmente por se queixar à mãe dizendo que queria mesmo era a medalha de prata — Maurren não travou grandes batalhas contra a balança. “No período em que estava fora das pistas perdi bastante massa muscular , mas não engordei, mesmo não me preocupando muito com isso!”. Às vésperas do Pan-americano de Santo Domingo, a atleta foi suspensa por dois anos das competições oficias. Na amostra de urina de Maurren, colhida durante o troféu Brasil daquela temporada, foi detectado um esteróide Anabólico chamado clostebol, proibido pelos órgãos que regulamentam as competições esportivas. Em sua defesa, a atleta alegou que a substância estava presente em uma pomada cicatrizante, utilizada depois de uma sessão de depilação a laser. Mesmo com os argumentos precisou se afastar das pistas. “Sempre fui muito cuidadosa, o que aconteceu foi uma fatalidade”, disse. O incidente está previsto no código da Agência Mundial Anti-Dopping que responsabiliza o atleta pelo que se encontra em seu organismo. “É uma ferramenta importante no combate ao uso de drogas no esporte”, frisa o treinador Nélio Moura. “Mas essa responsabilidade tira qualquer possibilidade de defesa em casos onde comprovadamente houve uma contaminação, sem dolo ou benefício indevido, como aconteceu com a Maurren”. A fatalidade fez com que a esportista abandonasse o esporte por três anos.
A volta por cima
O recomeço aconteceu aos 29 anos e, se a dieta alimentar de Maurren não seguiu diretrizes muito rígidas, durante o retorno às pistas e a caminhada rumo ao ouro, a suplementação alimentar orientada por seus treinadores foi um recurso presente nos momentos pré e pós-competições. “A volta foi dolorosa, tanto na parte física como mental, mas por ela (a filha Sophia) valeu a pena”, disse ela à imprensa brasileira ainda em Pequim. “Sou favorável ao uso de bons suplementos alimentares, desde que usados com a orientação de um profissional de confiança.” Maltodextrina, Creatina e outras fontes de carboidratos estão presentes na suplementação da atleta em momentos diferentes. “Durante o treino uso maltodextrina”, diz Maurren. “No período pré-competição creatina, nos dias de prova evito alimentos de digestão mais difícil e nos momentos pós-competição e pós-treinos busco uma fonte de carboidratos.” Ainda de acordo com Maurren, mesmo os atletas de alto rendimento devem buscar extrair da dieta convencional os nutrientes necessários. “Creio que normalmente a alimentação convencional é suficiente”. Para quem está começando no esporte, a atleta aconselha: “O importante é confiar nas pessoas que te orientam, e não ter pressa para obter os resultados”,define. “Assim, você vai ter uma alimentação saudável, e só vai usar os suplementos certos e seguros, quando precisar mesmo”. Sobre aqueles que a orientam, a mulher de ouro não faz rodeios.
Técnico da atleta desde que ela tinha 18 anos, Nélio Moura — que também é treinador do panamenho Irving Saladino — e sua esposa Tânia são sempre citados com carinho e respeito pela atleta em suas declarações. “Já sabemos o caminho para chegar ao ouro olímpico, afinal, a medalha de ouro no salto em distância masculino, do panamenho Irving Saladino, também foi forjada no Brasil, pelo Nélio e pela Tânia. Não pode ser coincidência!”, afirma. Dedicada a atender todas as solicitações, Maurren vive agora um momento diferente em sua vida. A agenda de treinamentos cedeu lugar à de entrevistas e aparições em programas de TV.
Com o pé fora do acelerador até o final do ano, deixou de participar de algumas competições para curtir o fato de ser a melhor atleta do salto em distância de todo o mundo e dividir sua experiência com quem torceu por ela. “Quero curtir esse momento”,diz. Com retorno às pistas previsto para o início de 2009, Maurren fala sobre o próximo sonho ainda com cautela, os próximos jogos olímpicos, que acontecem em Londres. “Até 2012 tem muita coisa pra acontecer, e muitas competições importantes também”, lembra. “Depois de um descanso, começo a me preparar, seguindo os mesmos princípios que têm orientado meu treino até aqui”.
Profile da Atleta Maurren Higa Maggi
Nascimento: 25/06/1976 Onde: São Carlos Altura: 1,73 m Peso: 61kg Clube: Clube de Atletismo BM&F BOVESPA Prova: Salto em Distância Melhor Marca: 7,26m no Sul-Americano de Bogotá (1999) Técnico: Nélio Alfano Moura
Carreira de Conquistas
2008 — Ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim 2007 — Ouro nos Jogos Pan-americanos do Rio/ Prata no Mundial Indoor de Valência/ 5 ª colocada no Mundial de Osaka 2003 — Bronze no Mundial Indoor de Birmingham 2002 — Prata na Copa do Mundo de Madri
Um dos homens mais felizes do mundo!
O título acima foi a primeira frase dita à imprensa por Nélio Alfano Moura, treinador nacional de saltos da Confederação Brasileira de Atletismo, depois que sua pupila Maurren conquistou a medalha de ouro. Treinador de seleções brasileiras em diversas categorias desde 1990 e como coordenador de atletismo no Centro de Excelência Esportiva - Projeto Futuro - da Secretaria da Esportes e Turismo do Estado de São Paulo, foi o responsável pela ida de Maurren de São Carlos para a capital do Estado. Se tornou - ao lado de sua esposa, Tania Moura - bicampeão olímpico como treinador em 2008 e um dos mais importantes treinadores de saltos horizontais da história do atletismo. Auto-intitulado como um treinador meticuloso, Nélio fala sobre seu trabalho e suas conquistas.
Revista SuplementAção - Você treina a Maurren desde que ela tinha 18 anos. Houve um momento decisivo para que notasse que estava diante de uma atleta campeã olímpica?
Nélio Moura - Em 96 ela já indicava possuir qualidades para chegar a níveis mais altos de rendimento, mas foi no início de 99 que tivemos certeza que ela seria uma das melhores do mundo. Em 1999, em sua primeira participação em Jogos Pan-Americanos , que aconteceu em Winnipeg, no Canadá, Maurren cravou a marca de 7,26 m e estabeleceu o recorde sul-americano de salto em distância.
Revista SuplementAção - Você também é treinador de outro medalhista olímpico, o Irving Saladino, além de ter treinado Jadel Gregório. Ao que atribui os bons resultados atingidos pelos atletas treinados por você? Nutrição, suplementação, treino, motivação?
Nélio Moura - O rendimento esportivo é multifatorial, portanto não há um aspecto único que explique o resultado dos atletas de nosso grupo. Creio que o fator fundamental foi termos conseguido montar um bom sistema, que funciona em nossa realidade.
Revista SuplementAção - Você é um treinador rígido?
Nélio Moura - Creio que sou um treinador meticuloso, mas não rígido.
Revista SuplementAção - Você procura acompanhar a rotina alimentar e de suplementação de seus atletas? Como controla os excessos e como reage em situações com o aumento de peso?
Nélio Moura - Os atletas percebem o que considero importante para que tenham um bom desempenho, e confiam nessa avaliação, dificilmente há excessos. O controle periódico da composição corporal permite a identificação precoce de tendências negativas, que podem ser corrigidas com certa facilidade.
Revista SuplementAção - Para acompanhar o ritmo de treinamentos dos seus atletas é preciso que você também mantenha uma rotina de exercícios físicos, alimentação?
Nélio Moura - Não sigo nenhuma rotina, mas procuro me manter ativo e me alimentar bem.
Revista SuplementAção - Você, juntamente com sua equipe, recomendam o uso de suplementos alimentares a seus atletas? Quais substâncias costumam indicar?
Nélio Moura - Há alguns suplementos que são usados de maneira rotineira. Carboidrato durante e imediatamente após os treinos, que na verdade, representam muito mais estratégias nutricionais do que suplementação. Em certos casos, dependendo de alguns fatores, como idade, há também o uso de monoidrato de creatina.
Revista SuplementAção - Que dicas nutricionais e de suplementação alimentar você poderia dar àqueles que estão iniciando no atletismo?
Nélio Moura - Para iniciantes, as dicas que posso dar, como treinador, são bastante genéricas: boa hidratação — antes, durante e após o treino — dieta bem balanceada, e fracionada em ao menos cinco refeições. Salvo outra orientação médica ou de nutricionista, não recomendo suplementos aos iniciantes.
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