Usamos a lei da ação e reação reconizada por este gênio da física e matemática para fazer um alerta sobre os riscos de não respeitar os limites do próprio corpo e exceder no tempo e intensidade dos exercícios. Sempre pensei que a lei de ação e reação preconizada por Issac Newton tinha aplicabilidade somente no mundo dos físicos e dentro do seu “universo científico”, não permitia transposição dos conceitos para as leis que regem o sistema biológico, mas um olhar mais atento sobre o tema vai mostrar que é possível fazer essa ligação.
Sabemos que os anseios dos praticantes de atividade física são norteados por um amplo espectro de fatores ligados à constância na prática, visando a melhora na qualidade de vida; aumento na disposição para realizar suas atividades; melhora na resistência muscular. Por outro lado, com a evolução do conhecimento científico passou-se a melhor entender a interface entre os reais benefícios proporcionados com a prática de exercício físico e a relação da intensidade do esforço físico. Vamos primeiro conceituar.
Entendendo que a atividade física é toda atividade humana que tenha movimento. Enquanto que exercício físico é descrito como qualquer movimento corporal de caráter voluntário, produzido pela musculatura esquelética e que resulta em gastos energéticos acima da condição de repouso. A este respeito, torna-se cada vez mais intensa a pressão de todos os setores ligados à imagem e à saúde para a busca pelo corpo perfeito. Nesse frenesi para estar cada vez mais em forma, parecer-se com alguém famoso, ter a melhor definição do corpo, homens e mulheres exageram na frequência, no tempo, na intensidade e nas modalidades dos exercícios físicos, associando várias práticas ao mesmo tempo, sem ter consciência sobre a essa prática e sem respeitar os limites orgânicos do seu corpo.
Reações na contra mão
Quando busca-se exercício físico, busca-se por mais saúde e bem-estar, mas a relação fica extremante comprometida quando há excessos. Dentre os principais sintomas relatados, quando há uma prática exagerada de exercícios físicos merece destaque a fadiga crônica, as dores musculares, a desidratação reduçãono desempenho físico, cãibras, alterações cardíacas,insônia, maior risco de adquirir infecções, lesões músculo-esqueléticas, hipoglicemia, irritabilidade,depressão, perda excessiva de peso, ausência de menstruação, quedas, fratura por estresse, entre outros.
Para orientar estas práticas a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda até 300 minutos de atividade física semanal como forma de preservar a saúde física e psicológica, respeitando as limitações orgânicas de cada pessoa e mantendo o merecido descanso para a reestruturação das funções. Um fato importante a se considerar que também está relacionado com praticantes de atividade física extenuante, é a relação inversa entre a intensidade da atividade física e doenças do trato gastrointestinal tais como a diverticulite ou a constipação intestinal: quanto mais intensos são os exercícios maiores são os problemas que atingem esses sistemas.
A constipação intestinal é uma das doenças do homem moderno, apresentando incidência de 30% em homens e 34% em mulheres. Além disto, tem sido descrito que o exercício físico praticado até a exaustão eleva a produção sistêmica de radicais livres, gerando danos oxidativos ao DNA, promovendo a depressão das funções imunológicas, e propiciando com isto aumento do risco para o desenvolvimento de câncer,além de aumentar a susceptibilidade a inúmeras doenças devido à imunosupressão. Interessante é que 50% dos praticantes de exercícios predominantemente de longa duração - tais como maratonistas, triatletas e ciclistas que competem em provas longas - manifestam alterações gastrintestinais caracterizadas por: vômitos, náuseas, azia, diarreia, cólicas abdominais e perda de apetite.
Uma possível explicação para esta sintomatologia decorre da redução do fluxo sanguíneo intestinal, liberação intensiva de hormônios gastrintestinais, estresse mecânico sobre o sistema digestivo e desidratação, entre outros fatores. Mais é menos A redução no fluxo de sangue que passa pelo intestino, em decorrência de exercício de alto impacto, se fundamenta na ação de vários hormônios secretados em condições limites entre a intensidade da prática e a implantação do estresse, sendo observado uma forte ação vasoconstritora local, principalmente devido ao hormônio adrenalina. Uma vez atingidos níveis criticos cos o organismo pode responder agravando ainda mais as condições funcionais gerando hipotermia, hipoglicemia, hipoxia e elevação na viscosidade sanguínea. Se você não conhece estes limites, lembre-se que a perda de 3,5% do peso corporal provocada pela desidratação durante o exercício de alto impacto já desencadeia o aumento da incidência dos sintomas gastrintestinais.
O interior da alça intestinal é a região que mais sofre com a condição estressora implantada, uma vez que considera-se a mucosa gastrintestinal uma barreira importante que evita a penetração de compostos antigênicos, carcinogênicos e tóxicos de dentro do intestino (luz intestinal) para o fluído que circunda o intestino. Assim, o comprometimento da mucosa pela redução do fluxo sanguíneo aumenta a permeabilidade intestinal e promove a liberação de enzimas que danificam ainda mais a alça intestinal gerando uma intensa inflamação.
É importante salientar que ultramaratonistas podem sofrer de sangramento intestinal durante e após o exercício sendo um fator de predisposição para a instalação da anemia, diarreia e outros problemas que comprometem a saúde. Por fim, sabe-se que a presença de sintomas gastrintestinais também pode ser influenciada por causas de fundo psicológico como, por exemplo, a ansiedade e o estresse emocional. O estresse induzido pelo exercício físico de alta intensidade estimula o hipotálamo a promover elevação na secreção do hormônio cortisol, o qual dentre as diferentes ações a imunossupressora é a mais importante, aumentando a susceptibilidade à infecção do trato respiratório superior, como classicamente descrito em atletas de alto nível.
Com relação à pratica exercida, observa-se maior prevalência dos sintomas em atletas de esportes predominantemente anaeróbicos, como levantadores de peso, e sintomas moderados em exercícios aeróbios. Ciclistas apresentam menor frequência dos sintomas do refluxo, devido ao exercício apresentar menor quantidade de movimentos corporais, se comparados aos levantadores de peso. Os sintomas do refluxo incluem: aumento da pressão torácica, dores nos músculos do peito, tosses atípicas, rouquidão e bronco espasmo. Agora consigo entender o raciocínio iluminado de Newton quando dizia “Para toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”. Os praticantes de atividade física de alto impacto devem respeitar seus limites, suplementar-se adequadamente e descansar no pós-treino. Vale lembrar também que o bom senso ainda é o melhor conselheiro.
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