Não foi por acaso que Rodrigo Resende recebeu o apelido de Monstro, ou melhor ‘The Monster'. Para usar uma gíria frequente no meio esportivo ao qual se dedica desde os 12 anos, o carioca é casca grossa! E é preciso ser mesmo para surfar em uma modalidade na qual, embora haja um crescimento contínuo em matéria de segurança, a estatística é de pelo menos um acidente com morte por ano. Como se não bastasse o risco oferecido pela modalidade, o brasileiro foi o primeiro no mundo a conquistar o título de campeão de ondas grandes e já levou para casa três vezes seguidas – entre 1999 e 2001 – o primeiro lugar em um dos principais campeonatos do esporte, o Big Trip.
Nos próximos meses Rodrigo enfrenta mais uma vez a temporada de ondas grandes no Havaí. O objetivo do surfista é nada menos que ser bicampeão de Town-in e surfar a maior onda que existe! “Isso se a mãe natureza permitir”, faz questão de pontuar. Antes de arrumar as malas e embarcar para este novo desafio, o big rider – nome que se dá ao surfista da categoria – conversou com nossa equipe e revelou a intensa preparação que é preciso realizar antes de conseguir bonsresultados na categoria mais radical do surf. Desgaste intenso Rodrigo explica que o esporte exige muito das condições nutricionais e físicas do atleta.
"Como passo bastante tempo dentro da água preciso estar sempre bem alimentado para evitar qualquer problema, como por exemplo, a fadiga”, conta. Uma falha muscular no momento dentro de uma onda como as que o carioca encara pode tornar as manobras ainda mais perigosas! E o atleta ressalta que esse grau de exigência se torna ainda mais intenso nos locais preferidos para a prática do Town-in, como é o caso de Mavericks, na Califórnia.
“As águas são geladas, o que aumenta ainda mais o desgaste sofrido pelo atleta”. Uma alimentação regrada, na qual ficam de fora alimentos gordurosos e industrializados, e não faltam frutas, legumes, cereais e proteínas de baixa caloria, fazem parte do segredo do campeão. “Sou responsável pela minha dieta. Não tenho problemas com a balança e consigo controlar e manter meu peso”, revela Resende. “Minha alimentação não é nada exagerada, raramente saio da dieta. Procuro fazer no mínimo três refeições por dia, às vezes consigo fazer quatro”. Para se ter uma ideia, na primeira refeição do dia, por exemplo, o carioca consome normalmente uma vitamina de frutas, pão com queijo e iogurte com granola – confira as outras refeições do atleta no box “Comida à vista”. Outro item fundamental no dia a dia do atleta é a hidratação, já que a perda de sais minerais é alta por conta das condições climáticas – sol e mar – combinadas com a intensidade dos exercícios. As escolhas de Rodrigo para suprir esse item também seguem a linha dasimplicidade: água de coco ou água mineral. “Eu adoro água de coco e procuro sempre consumir depois dos treinos tanto no mar quanto na academia”.
Além de investir em alimentos mais naturais, Rodrigo também aposta nos suplementos como aliados de sua performance. “Eles suprem as necessidades que os alimentos não conseguem proporcionar”, enfatiza o atleta. Entre os produtos consumidos pelo surfista estão a creatina, os polivitamínicos e polimineral, barras de cereal e bebidas energéticas. “A creatina costumo colocar junto com uma vitamina de frutas. Tomo geralmente à tarde depois do treino quando já estou bem cansado”, conta. “Também consumo 1mg de suplemento com complexos vitamínicos e de minerais, geralmente junto com o café da manhã”. O campeão revela também que, em dias nos quais o surf será realizado muito longe da costa utiliza as barras de cereais para manter a ingestão de nutrientes necessária. “Levo algumas dentro do jet ski para poder aguentar o dia inteiro no mar”, diz. No Town-in o jet ski é necessário para levar os atletas até as ondas e para impulsioná-los ladeira abaixo nos paredões de água. Sem o auxílio do equipamento seria muito difícil os atletas chegarem nos locais onde estão as melhores ondas apenas pelo condicionamento físico. As bebidas energéticas, à base de cafeína e taurina, entram na rotina do atleta em dias que é preciso madrugar para pegar a melhor onda. “Tem dias que precisamos acordar muito cedo para poder montar o equipamento e chegar até o local onde vamos treinar e aí eu consumo energético”. Com uma rotina de viagens muito intensa, o surfista recorre também a um outro tipo de suplemento: a melatonina.
Produzido à base do hormônio que é fabricado pelo próprio organismo, o suplemento é utilizado como um indutor do sono de acordo com recomendações médicas. “Tomo este tipo de suplemento geralmente quando estou viajando, pois ele facilita o processo de adaptação às mudanças de fuso horário”, conta. Dessa maneira o atleta consegue descansar sem tanta dificuldade e não tem a performance física comprometida. “Nesse período tomo geralmente uma cápsula do suplemento por dia”. No Brasil, por conta dos entraves da legislação, o produto não pode ser comercializado. Tatame e mar Para encarar, e ainda tirar onda nas enormes montanhas de água, além de técnica é preciso também resistência e força física. Por isso, os treinos de Rodrigo mesclam surf e jiu-jítsu. “Comecei nas duas modalidades por influência do meu irmão”, conta o carioca. “O surf é minha primeira paixão, a que eu escolhi como profissão, mas a luta é a segunda”.
No tatame Rodrigo, que é faixa marrom na modalidade, trabalha além de resistência e força a autoconfiança necessária para se destacar no esporte. No mar, o atleta está sempre em busca dos melhores lugares para treinar sua técnica, considerada por muitos agressiva para quem surfa ondas tão grandes. O treino é diário e depende sempre das condições climáticas, da maré, do vento, de frentes frias. “Quando o mar não está legal mesmo prefiro ficar em casa e fazer alongamentos e treinos de respiração”. Outra modalidade que faz parte da preparação do atleta para a teme porada de ondas gigantes é a musculação. “Esse treino me ajuda na resistência. Devido ao tamanho das ondas tenho que estar sempre em forma, principalmente para temporada havaiana, que vai de dezembro a março, onde a pressão é muito grande e qualquer erro pode ser fatal”. Para ele o período de preparação mais intensa começa pelo menos três meses antes da temporada. “Geralmente o tempo é suficiente para suportar a temporada de competições”, diz. Ao todo, Rodrigo passa quatro horas diárias se exercitando, somando os treinos técnicos no mar. Como uma onda na vida Rodrigo começou a competir no surf na infância.
Ganhou títulos em diferentes categorias, inclusive um deles na primeira competição que disputou aos 14 anos, mas foi algo comparado a uma onda gigante que mudou a trajetória do atleta fazendo com que ele passasse a competir no Town-in. Rodrigo estudava faculdade de Medicina e tinha o esporte em segundo plano quando perdeu o pai. Daí em diante foi buscar o desafio, a diversão e a emoção das ondas gigantes. “A adrenalina de descer uma onda gigante não tem preço, só surfando para sentir”. Além de competir e representar muito bem o Brasil no esporte, o atleta fez parte do desenvolvimento da modalidade e dedica-se ainda a ensinar o Town-in. “Falar de regras do esporte é difícil, mas a principal delas é sobreviver em cima da prancha!”, dispara. Para quem quiser se arriscar, o campeão dá as características que julga ser necessárias para se dar bem na modalidade. “Para ser bom o atleta precisa ter coragem, experiência, equipamento e amor pelo esporte”. Rodrigo diz ainda que o que realmente importa são os benefícios trazidos pela prática do esporte.
“A maior lição que eu tiro do esporte é exatamente o que ele traz de bom tanto para o corpo quanto para a mente e como pode nos ajudar no dia a dia”, finaliza.
Perfil:
Nome completo: Rodrigo Resende Rodrigues
Data de nascimento: 15/07/1967
Local de nascimento: Rio de Janeiro, RJ
Modalidade: Surf Categoria: Ondas grandes (Townin)
Peso: 76kg
Altura: 1,75m
Patrocinadores: TNT e HB (Hot Buttered)
Principais Títulos:
2011 –- Campeão Trials, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
2008 -– Vice-campeão Campeonato Mundial Town-In, Punta Lobos, Chile
2007 -– Vice-campeão Scott Reef, Oregon
2002 - Campeão Mundial de Townin, Jaws, Havaí
2001 - Tricampeão Big Trip Mavericks, Califórnia
2000 - Bicampeão Big Trip Mavericks, Califórnia
1999 - Campeão do 1° Big Trip – Waimea, Havaí
1998 - Campeão mundial de ondas grandes, Todos Santos, México
Comida à vista
Confira o que Rodrigo Resende come nas três principais refeições do dia quando não está no mar.
- Café da manhã: 1 copo de vitamina (frutas), 1 pão com queijo, iogurte com granola.
- Almoço: Arroz integral, feijão, salada de folhas e uma proteína, de preferência peixe.
- Jantar: Sopa ou massa, dependendo muito das condições do dia.
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