Por outro lado, os atletas e adeptos da malhação constante possuem um desgaste maior do organismo e precisam ter cuidados para prevenir o envelhecimento precoce. É aí que entram os antioxidantes como o ácido alfa lipoico, substância que previne a ação dos radicais livres e traz ainda inúmeros outros benefícios Presente naturalmente no organismo, o ácido alfa lipoico – também conhecido como ALA, lipoato, ácido lipoico – está presente em maiores concentrações nos rins, coração e fígado, “mas também pode ser encontrado no cérebro, pulmão, pâncreas e baço”, explica o nutricionista Murilo Dáttilo, pesquisador do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício e UNIFESP. Suas principais fontes são a carne vermelha, especialmente o fígado, e alguns vegetais verde escuros como espinafre, couve e brócolis. Além disso, a substância é comercializada em sua forma isolada como suplemento e tem entrado no cardápio de praticantes de atividades físicas de todo o mundo por trazer diversas vantagens. A principal delas é sua potente ação antioxidante, conforme explica o nutricionista Marcelo Ferro, pós-graduado em Farmacologia Clínica. “O organismo produz grande quantidade de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio, compostos altamente reativos que desencadeiam danos severos ao DNA, às proteínas, lipídeos e membrana celular”.
De acordo com o profissional, o ácido alfa lipoico funciona como um varredor desses radicais livres, neutralizando seus efeitos. O pesquisador Murilo esclarece que, por isso, a substância atua no combate do estresse oxidativo - situação em que há desequilíbrio entre os antioxidantes e radicais livres, prevalecendo estes últimos. “Atualmente, já é notório na literatura que o estresse oxidativo é o gatilho para uma série de doenças, tais como câncer, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, mentais e das articulações”, pontua. O personal trainer e fisioterapeuta Carlos Tomaiolo enumera ainda diversos outros benefícios da substância para os praticantes de atividades físicas. “Além de ser um regenerador celular, participa da prevenção catabólica após o treinamento físico. Ele também diminui as concentrações de ácido lático e piruvato decorrentes da contração muscular, o que ajuda a diminuir a fadiga e favorece a recuperação”, alega. “O ALA também é indicado para prevenção de processos degenerativos do fígado, como protetor hepático”, pontua.
Conforme um artigo do Dr. Mauro Di Pasquale, especialista em Medicina Esportiva e um dos mais respeitados nomes do segmento mundialmente, o ALA também regenera outros antioxidantes como as vitaminas E e C e aumenta os níveis de glutationa, uma das substâncias mais importantes para defesa antioxidante do organismo. “Porém, a glutationa não pode ser administrada, enquanto o ALA pode ser consumido e tem função sobre esta substância”, alega. “Qualquer praticante de exercícios físicos deve lançar mão dos antioxidantes, tanto para combater o estresse oxidativo do exercício quanto para evitar doenças e prevenir o envelhecimento”, indica. Vamos entender melhor como a substância atua?
Curiosidade: o caminho do ALA no organismo O ALA presente naturalmente no organismo é sintetizado no interior das células, mais precisamente nas mitocôndrias, através um ácido graxo específico chamado ácido octanoico. Marcelo Ferro explica que, quando ingerido, ele é ativado pelo ATP, que armazena energia no corpo através de uma enzima específica. Uma vez no plasma – corrente sanguínea - o ácido alfa lipoico é rapidamente metabolizado e chega às células, onde será reduzido em DHLA ou Dihidrolipoato, que é o nome que damos à forma reduzida da substância. “Nessa forma reduzida ele atua como um ativador de enzimas específicas do metabolismo energético, seja de glicose ou aminoácidos”, esclarece.
O processo sobre como o ALA atua na varredura dos radicais livres ainda é desconhecido, de acordo com o profissional. Participação no metabolismo da glicose Especialistas garantem que o ALA é benéfico para quem tem diabetes mellitus mas, para entender sua atuação, é importante primeiramente compreender a doença. O diabetes é uma disfunção do metabolismo na qual o pâncreas não produz quantidade suficiente de insulina, que é um hormônio que auxilia a entrada da glicose nas células. Mesmo sendo a principal fonte de energia do organismo, quando em excesso a glicose pode provocar diversos problemas de saúde, como os já conhecidos decorrentes do diabetes que vão desde sonolência até dificuldade de cicatrização e outras complicações mais graves. O ALA pode trazer benefícios para os portadores de diabetes por diversos motivos. Marcelo Ferro explica que existe uma enzima chamada piruvato desidrogenase, responsável pelo metabolismo de energia da glicose. “Quando esta enzima não está com sua capacidade total de atuação a glicose não consegue entrar com eficiência no metabolismo aeróbico para a produção de ATP, portanto, a glicose não é convertida em energia”, revela. O ácido alfa lipoico é um cofator enzimático, ou seja, atua como uma espécie de espoleta para que esta enzima funcione, colaborando para o adequado funcionamento do organismo. Tomaiolo afirma também que o ALA melhora as chamadas polineuropatias diabéticas, que são caracterizadas pela degeneração da parte neurológica e nervos periféricos que afetam a função motora e a visão. Marcelo Ferro acrescenta: “A diabetes está ligada a processos inflamatórios e o ácido lipóico é capaz de minimizar esses processos”.
Conforme relatado em seu artigo, Dr. Mauro Di Pasquale afirma que o ALA tem sido utilizado para aumentar a disponibilidade de glicose em pacientes com diabetes. Ele aumenta a captação de glicose e de aminoácidos e, ao mesmo tempo, diminui a produção de glicose pelo pâncreas e a absorção de glicose pelas células de gordura. “Como resultado final, pode ser aumentada a síntese proteica e o armazenamento de gordura diminui”. Benefícios para atletas Um estudo citado por Dr. Pasquale constatou que o uso de ácido lipoico resultou em melhora das condições gerais do organismo e da performance muscular. Os resultados indicaram que o tratamento com lipoato causou um aumento relevante nos níveis de energia disponível no cérebro e no músculo esquelético durante o exercício. “O efeito sobre a energia do metabolismo, juntamente com sua potente ação antioxidante – e com possíveis efeitos neuroprotetores – além das vantagens sobre a resistência à insulina, faz com que o ácido lipoico seja um complemento atraente para aqueles que querem maximizar a sua massa corporal magra e força, minimizar a gordura corporal, e evitar o overtraining”.
O pesquisador Murilo Dáttilo afirma que para redução de gordura corporal, a substância parece contribuir muito pouco – cerca de 2,1%. “Entretanto, ácido alfa lipoico poderia ser auxiliar para um indivíduo com excesso de gordura corporal que possua alguma doença causada pelo estresse oxidativo gerado por esse excesso, como é o caso de resistência à insulina e diabetes tipo 2”. Já em se tratando de ganho de massa muscular, como o treino de musculação induz lesão muscular, o ácido alfa lipoico pode minimizar a magnitude dessa lesão e favorecer a recuperação muscular. “Entretanto, esse é o raciocínio teórico que podemos traçar, mas não existem dados na literatura avaliando se pessoas suplementadas com essa substância apresentam maior anabolismo muscular”, argumenta. As indicações de utilização dependem muito dos objetivos e do estado de saúde do paciente e a dosagem não pode ser generalizada e só deve ser estabelecida mediante avaliação individual. Mas Tomaiolo afirma que geralmente se consome de 200 a 400mg por dia, de forma crônica. O personal trainner comenta que o suplemento ALA pode ser consumido em conjunto com outras substâncias sem problemas, como a whey protein, aminoácidos, caseína micellar, BCAA, leucina, entre outros. “As contraindicações são as mesmas de qualquer antioxidante, que não pode ser consumido por indivíduos que fazem terapia por radiação e quimioterapia”, alega. Tomaiolo comenta também que mesmo em altas dosagens não foram evidenciados grandes efeitos colaterais na administração de ALA, mas os mais comuns são urticária, prurido cutâneo, dor abdominal, diarreia, vômitos e náusea. Alzheimer e Parkinson O nutricionista da UNIFESP, Murilo Dáttilo, afirma que alguns dados sugerem que o ácido alfa lipoico pode retardar a progressão da doença de Alzheimer e de Parkinson, a partir da proteção que pode desempenhar sobre os neurônios. “Essas doenças também estão associadas ao estresse oxidativo, que ele ajuda a combater, explica. Fontes: Carlos Tomaiolo, fisioterapeuta e personal trainner Marcelo Ferro, nutricionista pós-graduado em Farmacologia Clínica pelo Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Oswaldo Cruz. Dr. Mauro Di Pasquale, especialista em Medicina Esportiva, criador da Dieta Metabólica. Artigo “Lipoic acid is a powerfull antiodixant”, nov. 2003. Bodybuilding. Murilo Dáttilo, nutricionista, Pesquisador do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE) e UNIFESP.
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