1- Não é de comer!
Subir escada, digitar um e-mail, esperar o ônibus em pé... durante a nossa rotina diária estamos sempre utilizando as fibras musculares e nem percebemos. Toda vez que piscamos as fibras rápidas são mais acionadas, pois é um movimento instantâneo. Ao segurar um telefone por muito tempo utilizamos a fibra lenta presente nos músculos do braço. Não confunda as fibras musculares, com aquelas que sempre são recomendadas pelos especialistas para auxiliar o funcionamento do intestino, como já diz o nome, são uma subdivisão dos músculos. Quando unidas, formam feixes que se agrupam constituindo o tecido muscular. Microscopicamente falando, elas são um conjunto de miofilamentos proteicos e suas células se diferem exatamente por causa da presença dessas proteínas que são contrateis e deslizam uma sobre a outra. Porém, nem todas são iguais. “As fibras são subdividas em função da sua capacidade contrátil”, explica Timóteo Araújo, presidente do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS). Por isso, de acordo com a função do músculo é possível encontrar quantidade maior de determinada fibra. Parece complexo, mas não é. A divisão das fibras musculares é basicamente entre a do tipo I, também conhecida como lentas, e a do tipo II, que são as rápidas.
2 - Cada tipo tem uma função
O nosso organismo já esta acostumado a escolher a fibra que será utilizada para cada movimento, essa escolha é involuntária, o próprio organismo se encarrega dela, mas pode ser otimizada! Conforme treinamos determinada atividade isso vai se aprimorando. A fibra lenta, ou aeróbica está ligada a movimentos de resistência e que dispendem mais tempo, por isso a obtenção de energia no músculo é mais lenta. Por exemplo, um maratonista, como ele terá que correr por muito tempo, ele prioriza a utilização da fibra lenta em seus músculos da perna durante a corrida, pois mantém um ritmo confortável por mais tempo. “Já, tipo II tem capacidade metabólica de gerar energia rapidamente, o que permite que se contraia rapidamente, mas por pouco tempo”, explica Antonio Carlos Silva, fisiologista da Escola Paulista de Medicina, que há quinze anos se dedica à avaliação de atletas. Por isso essa fibra só será utilizada no momento de explosão, normalmente os maratonistas aumentam o ritmo no final da corrida e chegam ao limite de sua capacidade muscular.
3- – Qual vou usar?
Cada tipo de atividade física prioriza a utilização de uma determinada fibra. No quadro abaixo há alguns exemplos, porém não é difícil deduzir o esporte que irá utilizar mais cada tipo de fibra muscular. “Modalidades caracterizadas por atividades mais prolongadas e de menos impacto irão utilizar as fibras tipo I”, explica o fisiologista Antônio Carlos Silva. Existem estudos em andamento que investigam se pessoas negras possuem mais fibras do tipo II nos músculos. Isso se deve ao grande desempenho deles em esportes de atletismo. Silva informa que, “há a tendências de negros terem mais presença dessa fibra, porém isso ainda não está comprovado”.
4 - Tem que ter fibra
Já se sabe que uma rotina de atividade física regular traz muitos benefícios para a saúde, no caso das fibras não é diferente. “A atividade física regular e o exercício são capazes de melhorar o recrutamento, ou seja, a relação fibra nervosa e a fibra muscular”, explica Araújo. Ou seja, quando praticamos um esporte periodicamente, a comunicação entre nossos neurônios, que são as fibras nervosas, e as fibras musculares que serão utilizadas será mais rápida e com isso o rendimento na atividade irá melhorar. Para entender melhor é só imaginar o cérebro como o Google, quando sempre fazemos buscas que seguem uma linha, como lugares ou matérias, por exemplo, ele estabelece filtros para trazer as respostas de maneira mais rápida de acordo com a suas necessidades, no caso da fibra muscular é a mesma coisa, com a repetição dos exercícios o cérebro irá conseguir acionar a fibra adequada mais rapidamente. “O estilo de vida mais sedentário diminui a capacidade das fibras em responder melhor e de forma mais economicamente”, informa o presidente do CELAFISCS, por isso quem não está acostumado com esporte se cansa mais facilmente, pois as fibras irão utilizar mais energia para trabalhar. O corpo humano consegue buscar alternativas para preencher as nossas necessidades e pode se adaptar para suprir a falta das fibras em determinados músculos, um exemplo disso é em atletas paraolímpicos, “particularmente cadeirantes, pois há uma maior presença de fibras rápidas nos braços, porém será feito um treinamento para estimular as fibras lentas”, explica Silva. As fibras musculares não irão se modificar, mas serão treinadas para aguentar a demanda de trabalho.
5- Vamos aprimorar?
De acordo com o consultor esportivo do grupo Cimed Lucas Ramacciotti, os melhores suplementos para auxiliar no desenvolvimento das fibras musculares são as proteínas e os aminoácidos. “Eles atuam diretamente na reconstituição do músculo que foi lesionado na prática esportiva, otimizando o processo da hipertrofia”, conta. Se a intenção for proteger as fibras os suplementos indicados são os BCAA’s. “Que possui a função de diminuir a fadiga e o estresse muscular, acelerando a recuperação, deixando o músculo pronto para uma nova prática esportiva em um curto espaço de tempo e diminuindo o índice de lesões musculares”. A utilização adequada de suplementos esportivos traz inúmeros benefícios para as fibras musculares. “A creatina, por exemplo, fornece ATP (Adenosina Trifosfato) para o músculo aumentando consideravelmente a força muscular em alguns minutos após a sua ingestão”. Porém é preciso ficar atento, Ramacciotti orienta que pacientes com algum tipo de lesão hepática ou que possuam predisposição a cálculo renal devem procurar um médico antes de fazer o uso dos suplementos indicados.
6- Como molas
Assim como uma mola se rompe quando é entendida além dos seus limites, as fibras também podem se partir com o estica e puxa dos exercícios. “Qualquer tipo de treinamento, seja a musculação ou exercícios de outras modalidades esportivas caracteriza-se de micro lesões no músculo”, explica o fisiologista. Por isso, o fortalecimento muscular nada mais é do que a fibra sendo lesionada repetitivamente e passando pelo processo de recuperação. Porém, em casos de lesões musculares que comprometem grandes áreas pode ocorrer o rompimento dessas fibras, por isso uma distensão muscular é tão dolorida. “Após isso acontece um processo de cicatrização”, conta Silva. Na maioria das vezes a recuperação é por completo, em caso de lesões mais sérias, em que o rompimento foi muito grande, o músculo ficará danificado, dificultando a sua utilização. O tratamento é simples, explica Araújo, “gelo e tratamento fisioterápico”, porém demorado. Por isso a importância de estarmos sempre com as fibras fortalecidas, um bom condicionamento físico irá diminuir a chance de uma lesão e estaremos sempre prontos para as atividades do nosso dia a dia, das mais simples às mais complexas.
Fontes consultadas:
Timóteo Araújo - Presidente do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS).
Antonio Carlos Silva - Fisiologista da Escola Paulista de Medicina, há quinze anos se dedica à avaliação de atletas.
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