Jaqueline Maria de Matos Grupo de Estudos em Biodinâmica do Movimento - Faculdade Politec / Studio Viver e Spa Urbano
Christiano Bertoldo Urtado Doutorando pela Faculdade de Medicina - UNICAMP, Professor do curso de reabilitação cardíaca e grupos especiais – UGF
Alguma vez você foi ao cardiologista e ele lhe informou que seus exames cardiológicos não estavam bons? Conhece pessoas que possuem restrições à prática de exercício por possuir problemas cardíacos? Pois bem, nos últimos anos a ideia acerca da musculação para cardíacos vem mudando e alguns estudos apresentam informações muito importantes para essas pessoas que sofrem do coração e também para os profissionais que trabalham diretamente com esse público.
Dados que preocupam
No final do século XIX, as mortes relacionadas às doenças coronarianas ocupavam o terceiro lugar (6,5%) na lista das dez principais causas de óbito em São Paulo (SP). Em 1930 esse número caiu para 4,8%, ficando em quarto lugar na lista, em 1960 voltou a subir e foi considerada a principal causa (19%) de óbitos em SP. No Brasil, iniciou-se em 1980 um estudo realizado por pesquisadores do Rio de Janeiro que se estendeu até o ano de 2003, com o objetivo de comparar as doenças de acordo com as regiões, sexo e idade. Nesse período observou-se que o índice de mortalidade por todos os grupos de doenças cardiovasculares teve um declínio significativo em todo o país, apresentando maior redução de mortes em decorrência de acidente vascular encefálico, como AVE e derrame, que chegou a uma queda de 4% ao ano, seguido das doenças coronarianas, como o infarto do miocárdio, reduzindo 3,6% ao ano. No geral, houve redução anual média de 3,9% em um período de 24 anos, no entanto, esta continua sendo a principal causa de morte no Brasil (cerca de 32%), que fica para trás quando comparado a países desenvolvidos.
Em função desses dados alarmantes - com perspectivas de aumento nos próximos anos - os exercícios físicos em programas de reabilitação cardíaca, como prevenção e tratamento, são hoje em dia uma alternativa eficaz. A reabilitação cardíaca, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, é um ramo de atuação da cardiologia que, implementada por equipe de trabalho multiprofissional, permite a restituição, ao indivíduo, de uma satisfatória condição clínica, física, psicológica e laborativa. Força! Entre os anos de 1930 e 1950, começaram os primeiros trabalhos científicos em relação aos efeitos da atividade física sobre as doenças cardiovasculares.
Desde então os programas de reabilitação para cardíacos, baseiam-se na atividade cardiovascular, tendo no exercício aeróbio a sua sustentação. É muito importante que os hipertensos, cardiopatas, com diabetes associado ou não, sejam inseridos em um programa de reabilitação, uma vez que o sedentarismo pode ser considerado um fator de risco independente para doença arterial coronariana. Um estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Reabilitação da Finlândia mostrou que o exercício físico associado à mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade cardíaca de 20 a 35%. Na evolução do indivíduo com infarto agudo do miocárdio (IAM), um estudo publicado no Canadian Medical Association Journal, demonstrou que o exercício programado e supervisionado conseguiu reduzir de 30 para 18% as complicações do IAM. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Insuficiência Cardíaca Crônica, a prescrição da atividade deve ser orientada com base na estratificação do risco cardíaco e liberação médica, mediante apresentação dos exames cardiológicos.
Assim sendo, essa atividade deve ser realizada de três a cinco dias na semana de 60 a 80% da frequência cardíaca, máxima entre 15 a 20 minutos e se bem tolerado, 30 minutos de caminhada ou bicicleta. Atualmente, as pesquisas mostram que além da melhoria da capacidade cardiovascular, a força muscular é de fundamental importância para pessoas com hipertensão. Pesquisadores da Espanha, Suécia e Estados Unidos, publicaram em 2011 um estudo prospectivo (duração de 23 anos) no Journal of the American College of Cardiology, com 1.506 homens hipertensos e observaram que altos níveis de força muscular parece proteger contra todas as causas de mortalidade. Nesse sentido, é de fundamental importância que nos programas de reabilitação cardíaca, o Treinamento de Força possa ser incluído como método para aumento da força muscular, além disso, promover uma diminuição da pressão arterial e, consequentemente, redução do risco de morte. Estudos apontam que a prática do treinamento de força para cardiopatas é extremamente seguro do ponto de vista cardiovascular. Pesquisadores do Hospital de hipertensão de Detroit, publicaram no Journal Cardiopulmonary Rehabilitation, um estudo comparando pacientes com doença cardíaca em sessões de exercício aeróbio (35 minutos de esteira a 85% da frequência cardíaca máxima) com sessões de treinamento de força em circuito (8 exercícios, 40 a 60% de 1 repetição máxima). Contrariamente ao que se acreditava, a pressão arterial durante a prática do treinamento de força (126 batimentos por minuto), foi menor comparada a pressão durante o exercício aeróbio (149 batimentos por minuto), mostrando que esse tipo de atividade pode ser segura para pessoas com pressão alta.
No ano de 2001, um outro grupo de pesquisadores da Universidade da Austrália publicou nesse mesmo jornal científico um estudo comparando o consumo de oxigênio durante o treinamento aeróbio e de força em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Os resultados mostraram que o treinamento de força foi bem tolerado pelos pacientes com insuficiência cardíaca e apresentou parâmetros hemodinâmicos similares ao exercício aeróbio, também mostrando-se eficaz e seguro. Comprovação nacional Mais recentemente, em 2011, pesquisadores brasileiros da Unifesp, foram além. Para mostrar a segurança do treinamento de força, realizaram um período de seis semanas de "desmame" dos remédios para controle da pressão e iniciaram o protocolo de treinamento de força. O programa de treino foi composto por seis exercícios, três séries de 12 repetições a 60% de uma repetição máxima. A pressão arterial sistólica reduziu de 150 para 134 milímetros de mercúrio (mmHg) e a pressão arterial diastólica reduziu de 93 para 81 mmHg, mostrando a eficiência da atividade para a manutenção da pressão arterial. O estudo foi pioneiro ao identificar as melhoras e foi publicado no Journal of Human Hypertention. Para cardiopatas com outros problemas de saúde associado, como diabetes, os estudos também mostram resultados positivos com a prática.
Pesquisadores da Universidade Gama Filho e da Unicamp, demonstraram que 24 semanas de treinamento de força associado ao treinamento aeróbio, possibilitou reduções de 10,5% na pressão sistólica e 15,2% na pressão arterial diastólica. Sendo assim, o treinamento de força não deve substituir o exercício aeróbio na reabilitação e sim incrementá-lo. Lembre-se: a visita e o aval do cardiologista e o acompanhamento de um profissional de educação física especializado em reabilitação são primordiais para o sucesso no tratamento. Box: Testada e aprovada As recomendações do American Heart Association (2007) para a prática do treinamento de força: Número de séries: 1 Repetições Entre 10-15 Exercícios Entre 8-10 Descrição Exercício para os principais grupos musculares, como por exemplo, supino, desenvolvimento, extensão tríceps, flexão bíceps, puxador costas, abdominal, leg press, isquiotibiais e panturrilha. Olho O exercício físico associado à mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade cardíaca de 20 a 35%
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