Um importante conceito que deve permear o universo dos praticantes de atividade física é que entre a descoberta de um fato científico e a divulgação na mídia há uma série de informações divulgadas, as quais por serem redigidas dentro de uma linguagem mais simples, buscando facilitar o entendimento, acabam modificando o real significado das observações. É inquestionável e consenso geral na população que a boa qualidade de vida está diretamente vinculada a uma alimentação saudável, a prática regular de atividade física e um período suficiente de repouso. Este triunvirato permite que o organismo mantenha as condições ideais para reagir, caso haja necessidade de reparar alguma lesão ou responder mais eficientemente se for submetido a uma condição indutora de estresse.
Quando avaliamos os conceitos que permeiam a população em geral ou discussões entre praticantes de atividade física, é muito comum perceber o alto grau de interesse por substâncias naturais que possam atuar de forma coadjuvante na recuperação de lesões, em especial das musculares. Para entender melhor o real significado de uma possível ação curativa com produtos naturais é preciso primeiramente entender o conceito chave do meio científico, que é o seguinte: “toda substância ingerida passa por fases até que chegue aos tecidos, ou seja, tem que ser absorvida e transferida para o sangue, evento que ocorre mais intensamente nos intestinos, a seguir, vai ao fígado, onde pode ser metabolizada e transformada, e somente depois destas fases é biodisponibilizada, ou seja, está disponível no sangue para os tecidos”.
Vamos raciocinar de outra maneira, para que as substâncias estejam disponíveis aos tecidos depende da quantidade resultante entre a utilização pelas células intestinas e o conteúdo absorvido, das modificações que ocorrem no fígado e da transferência para o sangue. Em suma, qualquer efeito que estamos buscando depende ainda de atingir a concentração ideal no sangue que chega aos tecidos após todas as passagens citadas. A ciência tem caracterizado e descrito inúmeros compostos estudando propriedades e composições das frutas. Recentemente, cientistas descreveram a presença de uma substância cerosa na casca de maçã que foi denominada ácido ursólico.
Estudos iniciais demonstraram que o tratamento de ratos de laboratório com ácido ursólico promoveu redução na massa de gordura, aumento na massa e na força muscular, sendo sugerido que este ácido tem a capacidade de reduzir a atrofia muscular. Observações iniciais sugerem sua utilização no tratamento de condições patológicas onde há um processo de degradação das proteínas, chamado de proteólise, como no diabetes, e quando há perda de massa muscular. É bom ressaltar que os dados divulgados sobre o efeito do ácido ursólico se referem a estudos iniciais realizados em ratos e que ainda estão em teste.
O tempo da ciência não é o mesmo tempo cronológico nosso de cada dia. Para que uma substância seja utilizada racionalmente como suplemento há necessidade de inúmeros estudos para: determinação da dose efetiva, coeficiente de metabolização, possíveis efeitos colaterais, o perfil de absorção e metabolização, só então passa a ser gerado um esquema de prescrição para humanos. Outro ponto a ser destacado é que a quantidade de ácido ursólico que existe na casca de uma maçã e na cebola é muito pequena. Neste sentido, imagine a quantidade de maçã ou cebola a ser ingerida para que este ácido atinja concentrações ideais no sangue onde possa manifestar o efeito anticatabólico. Quando nos deparamos com uma reportagem indicando componentes presentes na alimentação, principalmente nas frutas, logo nos encantamos pela possibilidade de utilizá-las enquanto curativo. Não nos preocupamos com a concentração real presente no sangue para que haja benefício curativo.
Benefícios testados e comprovados
Ainda no aspecto dos componentes químicos encontrados nas frutas, cabe alguns destaques, tais como: a vitamina C encontrada nas frutas cítricas é muito importante na síntese de hormônios que nos ajudam a reagir contra o estresse, além da capacidade de combater radicais livres, moléculas que atacam as células, participando efetivamente nos ajustes funcionais de nosso organismo. No mesmo sentido destacam-se as castanhas, em especial a castanha de caju que apresenta alta concentração dos aminoácidos lisina e arginina, envolvidos diretamente no controle da glicose sanguínea e nas respostas hormonais ao estresse. Vamos elencar alguns componentes extremamente importantes e sua presença nas frutas. No que se refere aos aminoácidos há uma alta concentração de triptofano na banana e na manga, sendo este aminoácido essencial para a produção de serotonina, neurohormônio que controla as emoções e trás a sensação de felicidade.
Também não podemos nos esquecer dos componentes presentes no abacate tais como a glutationa e o magnésio, mineral essencial na conversão do triptofano em serotonina, que também tem função de bloquear respostas que causam alterações no cérebro e desconforto do tipo ansiedade. O consumo do abacate facilita a absorção de licopeno, que é antioxidante e auxilia na redução do apetite, favorecendo as dietas de perda de peso.
Outra substância merecedora de destaque é a quercetina, considerada como um dos principais compostos presente naturalmente na maçã e na cebola. Diversos estudiosos relatam que a quercetina apresenta um grande potencial antioxidante, isto é, a capacidade de anular os radicais livres, moléculas que prejudicam as células. A substância atua protegendo os rins, coração, fígado e músculos, defendendo-os do desgaste do dia a dia. A lista de relatos e descrições de substâncias encontradas em frutos é extensa, por exemplo, a ameixa contém alta quantidade de vitaminas B e C o que faz desta fruta uma aliada contra o estresse e alterações articulares. O damasco apresenta alto teor de caroteno (pró-vitamina A), ferro, magnésio, potássio, zinco e vitaminas B1, B2 e C, atuando na regeneração dos tecidos e auxiliando contra a fadiga. O figo é rico em cálcio, ferro, potássio e fibras sendo recomendado seu consumo na fase de recuperação após atividades esportivas. A banana também merece destaque, visto que devido ao alto teor de potássio e vitamina B6 atua prevenindo as cãibras musculares e auxiliando no metabolismo do corpo, porém somente é funcional em atletas de alta performance. O melão é rico em potássio, betacaroteno e vitaminas sendo considerado a fruta aliada na prevenção de trombose. O pêssego é rico em vitamina C e potássio, atuando como regulador das funções intestinais.
O açaí é pura energia, rico em vitamina E, sendo considerado um poderoso antioxidante, além de ser rico em cálcio e ferro, que auxiliam na efetiva contração muscular. A nectaria contém provitamina A, vitamina B3, ácido fólico, potássio e fibras auxiliando na regulação das concentrações plasmáticas de colesterol. A pêra é rica em pectina, fibra que regula o trabalho intestinal melhorando a flora (microbiotas residentes no intestino) e ainda contém minerais como o selénio (antioxidante), zinco (aumenta a imunidade) e potássio (diurético e hipotensor). O abacaxi contém uma enzima chamada bromelina que facilita o processo digestivo sendo também rica em vitamina C. A melancia, é rica em água, fibra, magnésio, potássio (diurético), vitaminas A, B6 e C. A uva é remineralizante, diurética, depurativa, energética, contém taninos adstringentes, polifenois, resverastrol, principalmente as uvas escuras, e substâncias com capacidade antitumoral.
Uma alimentação rica em uvas garante boa saúde e limpa seu organismo de toxinas. Deixemos de lado as constatações bioquímicas e vamos nos ater a orientação de praticantes de atividade física. Sabemos que concomitante a partir da prática constante de atividade física o organismo muda seu metabolismo basal, adquirindo uma condição funcional na qual há elevação no gasto energético e necessidade de regras para que a homeostasia metabólica seja mantida. É importante considerarmos que existem diversos suplementos, cada qual, adequados a sua prática, tal como a glutamina, CGT (creatina; glutamina; taurina), BCAA, glutamina ou a leucina, entre outros.
Estes suplementos são referendados pela literatura científica e ao longo de anos de pesquisa tiveram suas propriedades funcionais descritas, além de uma ampla discussão na comunidade científica identificando a dose efetiva. Assim, estas são as opções que propiciam e viabilizam o sucesso. Busquem suplementos que tragam benefícios funcionais e melhora na performance ajudando seu organismo a atingir o padrão desejado a integrar o oferecimento ao consumo. Vamos ter bom senso na escolha de um produto com características já definidas, concentrações efetivas e com consenso quanto à sua ação. Quanto às frutas, elas devem fazer parte da alimentação saudável e, inegavelmente, a sua ingestão, pode auxiliar diversas funções do organismo de forma preventiva, sem a preocupação do seu uso enquanto curativo, ou melhor dizendo, é difícil saber a quantidade a ser ingerida até que se atinja a dose ideal.
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